Ex-presidente do TJ da Bahia completa dois meses de detenção na Papuda
Maria do Socorro é a primeira mulher neste tipo de cargo a ser presa preventivamente no exercício da função
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Foto: Reprodução
A desembargadora do Tribunal da Justiça da Bahia (TJ-BA), Maria do Socorro Barreto, completou dois meses na cela do sistema penitenciário brasileiro. A ex-presidente está detida no Batalhão de Polícia Militar, localizado no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, onde aguarda análise de seu processo na qual é acusada de se envolver em esquema de venda de sentenças judiciais.
Maria do Socorro é a primeira mulher neste tipo de cargo a ser presa preventivamente no exercício da função que se tem notícia no país. A defesa de Maria entrou com um pedido de liberdade há dois meses no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o presidente da Corte, João Otávio Noronha, responsável pelos pedidos de urgência, enviou a petição para o relator do caso, ministro Og Fernandes.
A desembargadora foi presa no dia 29 de novembro do ano passado, acusada de estar envolvida no esquema de venda de sentenças judiciais. Ela e outros colegas foram afastados do Tribunal, no entanto, só ela que está encarcerada devido a uma ligação que realizou para o seu gabinete, quando estava proibida, pela Justiça, de manter contato com servidores do tribunal.
Veja abaixo a transcrição da conversa que levou a magistrada para a cadeia. No diálogo, Maria do Socorro é informada por Ana Cláudia dos Santos, uma funcionária da corte baiana, que está impedida de manter contato com os servidores do Tribunal. Quem faz a ligação é a filha da desembargadora, que em seguida passa o telefone para a mãe. Ao ser informada que está proibida de manter contato com funcionários do TJ da Bahia, a ligação é encerrada.
Leia a transcrição da conversa:
Joenne (secretária): Gabinete, bom dia.
Mariana (filha da desembargadora): Bom dia. Um momentinho só, viu? É Mariana, filha de Socorro.
(Ao fundo, chamando outra servidora ao telefone): Ana, Mariana.
Mariana: Fala aí com ela. Você vai falar, mãe, com Ana. Mãe, consegue falar com Ana?
Socorro: Ana?
Joenne: Oi. Doutora?
Socorro: A Polícia Federal teve aqui, né?
Joenne: Doutora, é Joenne. A gente tá sabendo já viu? Aqui também, viu? Como é que a senhora tá?
Socorro: O celular que tá aí, aquele meu.
Joenne: O aparelho anterior?
Socorro: Sim, o anterior.
Joenne: Que tem a foto de Lucas?
Socorro: Sim.
Joenne: Levou, viu?, doutora.
Socorro: Levou esse? Era pra pegar esse.
Joenne: Foi. Levou, viu? A senhora tá onde agora?
Socorro: Eu tô?
Joenne: Ham.
Socorro: É, é, é… Ainda bem que, eu acho, que menino tirou algumas coisas, não foi?
Joenne: Não sei, doutora, Não sei lhe dizer. A senhora quer falar com Ana (Ana Cláudia dos Santos Freitas, assistente judiciário do gabinete de Maria do Socorro)?
Socorro: Quero falar com Ana.
Joenne: Vou passar. Estamos todos aqui, viu doutora? Vou passar pra Ana.
Socorro: Tá.
Ana: Doutora?
Socorro: Oi, Ana.
Ana: Oi. Deixa eu lhe dizer. A gente recebeu aqui, fez uma busca e apreensão, e a gente recebeu uma ordem de não entrar em contato com a senhora.
Ligação interrompida...
Defesa
O advogado André Callegani, que faz a defesa da desembargadora, afirma que a cliente não tinha conhecimento de que estava proibida de conversar com os servidores do tribunal.
"Ela recebeu uma decisão de afastamento dela e de outros desembargadores. Essa decisão contava com aproximadamente 70 laudas. Ao receber, ela não tinha ciência da parte final, que vedava o contato com seu gabinete. Ela ligou para o gabinete, e quando foi comunicada que não poderia manter contato, a ligação foi imediatamente interrompida", afirma o defensor.