Executivos da Americanas criaram balanços negativo e positivo para manter fraude nas contas da varejista
Um dos investigados, Miguel Gutierrez, foi preso na Espanha por fraude financeira
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Um esquema de manipulação financeira no Grupo Americanas criou duas versões da empresa: a fictícia, com contas sempre no azul, e a real, enfrentando prejuízos. A investigação da Polícia Federal (PF) brasileira revelou que, durante mais de uma década, as contas da Americanas foram severamente inflacionadas sob a gestão de Miguel Gutierrez, ex-CEO do grupo.
A Americanas, obrigada a divulgar balanços financeiros periódicos por ser de capital aberto, anunciou no início do ano passado que sua dívida com os credores se aproximava de R$ 43 bilhões, com um rombo de R$ 25 bilhões atribuídos às fraudes financeiras. As operações fraudulentas permitiram que executivos obtivessem ganhos milionários ao inflar resultados e ocultar problemas financeiros reais.
Para manter a fachada, os executivos forjavam empréstimos e inventavam verbas concedidas por fornecedores. Reuniões secretas em uma sala afastada, apelidada de "blindada", garantiam que as operações fossem mantidas em sigilo. A investigação da PF, com apoio do Ministério Público Federal (MPF), identificou vários envolvidos, incluindo Anna Christina Ramos Saicali, braço direito de Gutierrez, e outros executivos.
Os principais acionistas da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, não são alvo da investigação. Eles investiram R$ 5 bilhões na recuperação judicial da empresa e prometeram investir mais R$ 7 milhões.
Nesta semana, a PF cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores e ordenou a prisão de Miguel Gutierrez e Anna Saicali. Gutierrez foi localizado em Madri e detido um dia depois pela Interpol, sendo liberado após audiência de custódia, mas terá que se apresentar à Justiça espanhola regularmente. Saicali, que estava em Portugal, decidiu se entregar à Justiça e foi conduzida pela Interpol ao Brasil.
Em nota, a defesa de Gutierrez afirmou que ele se encontra em sua residência em Madri e que compareceu espontaneamente à polícia. Gutierrez nega qualquer envolvimento em fraudes e está colaborando com as autoridades.
A defesa de José Timotheo de Barros, outro executivo envolvido, também negou qualquer ato contrário aos interesses da companhia, criticando a generalização das acusações e a espetacularização da operação policial.
Os demais citados na investigação não responderam aos contatos.