Filhos de santo de terreiro demolido protestam em evento com ministra Margareth: ‘Que inclusão é essa?’
Ilê Axé Oya Onira’D foi derrubado por ordem do Inema por estar em área de proteção ambiental

Foto: Farol da Bahia
Filhos de santo do terreiro Ilê Axé Oya Onira’D, demolido há dois meses por ordem do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), protestaram durante o evento em que os ministros da Cultura e Comunicações, Margareth Menezes e Frederico de Siqueira Filho, assinaram acordo para promover inclusão digital a territórios culturais e tradicionais. Em entrevista ao Farol da Bahia, Mãe Naiara de Oya, ialorixá do terreiro, questionou “que inclusão é essa?” que o governo quer promover nas comunidades afro, uma vez que “existe um terreiro no chão” há dois meses.
Segundo Naiara, o terreiro já funcionava no Parque Pituaçu há oito anos e a demolição aconteceu sem qualquer aviso prévio. “Nós estávamos lá há oito anos, não tinha nada, todo mundo existia. Nós fazíamos trabalho social dentro da comunidade, nós cuidamos de mais de 30 famílias, entregamos 350 cestas básicas por ano, trabalhamos com saúde no dia dos homens, mês das mulheres, tudo isso nós fazemos, sem ajuda nenhuma do governo, o governo nunca chegou lá para ajudar em nada, simplesmente só chegou lá para passar o trator por cima”, disse a ialorixá.
Um terreno para funcionamento do terreiro chegou a ser cedido à comunidade pela Casa Civil e URBIS, mas foi condenado pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) devido a um trabalho de encosta que não poderia ser feito. “Voltamos à estaca zero. E está um jogo de empurra. Hoje, a Casa Civil não quer nos receber, o pessoal da Sepromi diz que está tentando resolver o problema e o problema é o que a gente está vivendo todos os dias”, destacou Naiara de Oya.
O Farol da Bahia buscou a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e aguarda resposta.
Entenda o caso
O terreiro de candomblé Ilê Axé Oya Onira’D, que estava localizado no Parque Pituaçu, em Salvador, foi demolido pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), no dia 9 de junho.
Conforme divulgado pelo órgão, o local estava irregular e ocupava uma área de proteção ambiental, mas os filhos de santo do terreiro Ilê Axé Oya Onira'D afirmam que a demolição aconteceu sem aviso.
Segundo informado pela ialorixá do terreiro, Naiara de Oyá, a estrutura estava instalada na região há oito anos e possuía documentos de intenção de compra da área. Ela afirmou que o documento de compra e venda foi apresentado ao Inema desde que o grupo foi notificado sobre a demolição do local.
De acordo com os filhos de santo, a demolição aconteceu sem aviso, e eles foram surpreendidos ao chegarem no local e encontrarem os objetos sagrados do terreiro do lado de fora da construção.
Naiara ainda detalhou que a retirada dos objetos precisam de todo um trâmite, e possuem o momento certo de serem remanejados, alegando que houve desrespeito do órgão com a ancestralidade do povo do terreiro.