Funai denuncia avanço de facção criminosa, homicídios e chacinas em Terra Indígena no Mato Grosso
Alta no preço do ouro teria incentivado investidas de facção criminosa e garimpeiros na região

Foto: Divulgação
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) enviou ofícios ao governo federal entre os meses de outubro e dezembro, no qual denunciou problemas que afetam a Terra Indígena (TI) Sararé, no Mato Grosso. O documento destaca a presença de garimpeiros e facções criminosas como o Comando Vermelho (CV), além de formação de milícias na região.
Conforme documento encaminhado pelo secretário nacional de Direitos Territoriais Indígenas, Marcos Kaingang, a Operação Xapiri, ocorrida entre os meses de agosto e outubro, foi ineficaz na função de impedir o retorno "massivo" de garimpeiros ao território. Na documentação, a Funai destaca que a alta no preço do ouro incentiva o retorno dos extravistas ilegais.
Entre as situações de maior risco são listados homicídios e chacinas, ataques a equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Polícia Civil e Polícia Federal e confrontos entre garimpeiros e servidores públicos. Além de tentativas de convencer indígenas a esconder armas em aldeias e circulação de armamento pesado, como fuzis, e do uso de explosivos.
O documento relata que em novembro de 2024, foram registrados 22 homicídios na Terra Indígena Sararé. Enquanto no dia 24 de setembro haviam sido registradas quatro mortes em uma chacina motivada por uma briga pelo controle de uma área de exploração.
No dia seguinte à chacina, outras três pessoas foram assassinadas em situação semelhante. Já no mês de maio, duas pessoas foram mortas e outras quatro baleadas.
Um documento redigido pela presidente da Funai, Joenia Wapichana, e encaminhado, no dia 28 de outubro, à Casa Civil, relatou que os esforços da Operação Xapiri não foram suficientes para travar as práticas criminosas e que dias antes do encerramento da operação, autoridades já haviam identificado o aumento no "transporte de mantimentos, combustíveis e pessoas por embarcações no Rio Sararé, inclusive durante o período noturno".
A violência se intensificou nas aldeias, os criminosos passaram a ameaçar lideranças indígenas e passaram a usar as vias de acesso às habitações dos indígenas. A presença de integrantes do CV também é citada. O documento ainda detalha que garimpeiros passaram a formar estruturas similares às milícias no intuito de combater a facção.
Wapichana também revelou que a base da Funai encontra-se em "extrema vulnerabilidade", sem perímetro de segurança. O Ministério da Justiça e Segurança Pública, por sua vez, afirmou que autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública em apoio à Funai na Terra Indígena Sararé "para a realização de atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio".


