Galípolo vê inflação alastrada e afirma que BC é o 'chato' da festa
Para o presidente da instituição financeira, a economia do Brasil está 'bastante aquecida'

Foto: Lula Marques/Agência Brasil via BBC
O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (22) que a economia do Brasil permanece aquecida, aumentando além da sua habilidade de expansão.
Durante uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal (CAE), ele disse que, nesse tipo de situação, compete ao Banco Central ser o "chato da festa", aumentando os juros para controlar a inflação.
"Quando a festa está ficando muito aquecida e o pessoal está subindo em cima da mesa, tira a bebida da festa. Mas também quando o pessoal está querendo ir embora, você fala: ‘Fica, está chegando mais bebida, fiquem tranquilos, vai ter música, podem continuar na festa’. Então você tem esse papel meio chato de ser o cara que está sempre na contramão", afirmou Galípolo.
O BC tem afirmado que é preciso retardar a economia para controlar as pressões inflacionárias.
"A economia passa por um dinamismo excepcional e está bastante aquecida", destacou o presidente do BC. Ele salientou indicadores de desemprego, crédito, venda de veículos, da construção civil e de renda das famílias, entre outros.
Alta dos juros
Em março deste ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumentou a taxa básica de juros para 14,25% ao ano para controlar ameaças inflacionárias.
Foi o quinto aumento consecutivo, que colocou a Selic no mesmo patamar de 2015 e 2016, no topo da crise do governo Dilma Rousseff.
E o BC também apontou que deve aumentar de novo a taxa de juros em maio de 2025, porém em um ritmo mais abaixo do aplicado até o momento, de um ponto percentual.
Para estabelecer os juros, a instituição trabalha baseada no sistema de metas. Se as projeções estão em linha com as metas, é capaz de diminuir os juros. Se estão acima, a tendência é de manutenção ou aumento da Selic.
O Banco Central ainda consentiu recentemente que a meta de inflação pode ser não cumprida em junho de 2025, ao completar seis meses consecutivos acima do teto de 4,5%.
Reconstruções para elevar potência dos juros
Galípolo reforçou que a economia brasileira permanece aquecida ainda que do alto patamar da taxa básica de juros, o que sugere que os chamados "canais de transmissão" da política monetária, isto é, da Selic alta para a economia, não estão atuando corretamente.
"Neste caso, me parece que a normalização da política monetária [repasse dos juros à economia] vai demandar uma série de reformas contínuas, muitas vezes reformas que não estão simplesmente dentro da alçada do BC e que não vamos ter uma bala de prata disponível. Vai demandar bastante debate com a sociedade, discussão, para que a gente possa conquistar isso", esclareceu.
Incertezas internacionais
Segundo o presidente do BC, o cenário internacional, alterado pelo tarifaço colocado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem sido o "principal vetor" da dinâmica dos preços de mercado.
Sobre a guerra tarifária, Galípolo examinou que, comparado com os outros países emergentes, “pode ser que o Brasil sofra menos, pela sua diversificação, e pela relevância do mercado doméstico por seu dinamismo”.