Homem é condenado a 18 anos por traficar brasileiros para serem explorados na Tailândia
Vítimas eram obrigadas a atuar em atividades ilícitas, como golpes cibernéticos e estelionato

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) decidiu manter a condenação de um homem acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de aliciar, recrutar e levar 12 brasileiros ao sudeste asiático para serem explorados em atividades ilegais. Ele foi condenado a 18 anos, 11 meses e 10 dias de prisão em regime inicial fechado, além do pagamento de multa, pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional de pessoas e submissão de pessoas à condição análoga à de escravo.
A condenação ocorreu no final de maio, no entanto, o tribunal só retirou o sigilo do processo agora. Atualmente, a Unidade Nacional de Enfrentamento ao Tráfico Internacional de Pessoas e ao Contrabando de Migrantes (UNTC) do MPF conduz o caso.
Segundo o MPF, o homem, que está preso desde 2022, recebia 500 dólares por pessoa aliciada. Ele mentia prometendo a elas um emprego na Tailândia. No entanto, quando chegavam ao destino, as vítimas eram mantidas em condições análogas à escravidão, trabalhando em jornadas exaustivas, além de passarem por maus tratos físicos e psicológicos, ameaças constantes e situação de servidão por dívidas.
Nas redes sociais, o condenado exibia uma falsa vida de luxo e divulgava supostas oportunidades de emprego em empresa de telemarketing da Tailândia, prometendo salário de 1.500 dólares, passagem, alimentação, alojamento, além de outros benefícios.
Ao chegarem em Bangkok, capital da Tailândia, os brasileiros eram transportados ilegalmente para o KK Park, um complexo localizado na fronteira do país com Mianmar e Laos. Controlado pela máfia chinesa, o lugar é conhecido como uma fábrica de fraudes online, onde são aplicados golpes cibernéticos, estelionato (scammers) e comércio ilegal de pessoas e órgão humanos.
De acordo com o MPF, as vítimas eram forçadas a trabalhar mantendo conversas online com estrangeiros, visando obter informações pessoais e aplicar golpes para extorquir dinheiro das vítimas. Elas eram coagidas a assinar contratos e tinham seus passaportes retidos. Além disso, acumulavam dívidas relacionadas a despesas com alimentação de alto custo, compra de medicamentos e multas por infrações, como atrasos e descumprimento de metas.
Os brasileiros trabalhavam por mais de 14 horas por dia, com restrições para pausas e uso de banheiro. O salário era inferior ao informado pelo aliciador e o alojamento e as refeições eram precários.
Para conseguir deixar o local antes do fim do contrato, as vítimas eram obrigadas a pagar uma multa de 6,5 mil dólares, montante destinado a ressarcir os custos de transporte de cada um. De acordo com depoimentos dos resgatados, caso descumprissem as regras, eles eram submetidos a castigos físicos violentos, como passar horas em pé acorrentados, levar chibatadas, ter a cabeça raspada e a água e a alimentação restrita.