Hospital onde anestesista estuprou mulher naturalizou violação de direitos, conclui Defensoria do RJ
Órgão também identificou irregularidades nas informações das cirurgias e na documentação das pacientes
Foto: Reprodução/Redes Sociais
A Defensoria Pública do Rio de Janeiro identificou irregularidades na conduta de profissionais e direção do Hospital da Mulher Heloneida Studart, onde o anestesista Giovanni Quintela Bezerra estuprou uma mulher durante a realização do parto.
De acordo com a defensora Thaísa Guerreiro, coordenadora da área de Saúde na Defensoria, os profissionais da unidade naturalizaram a violação do direito que a gestante tem, desde 2005, a acompanhante durante o parto.
Segundo relatos, Bezerra pedia para que os maridos das pacientes se retirassem da sala de cirurgia no meio do procedimento. Quando questionados sobre o porquê de não interferirem na decisão do anestesista, profissionais da unidade alegaram que "não se questiona um ato de outro médico".
Relatos também indicam que Giovanni aplicava, desnecessariamente, altas doses de sedativos nas pacientes, para que pudesse estrupa-las. "A cesariana é comandada pelo obstetra. É, sim, seu dever zelar para que a mulher seja sedada de forma adequada, para o seu direito ser observado. Se eles não reconhecem sequer que um direito foi violado, como podem conduzir um hospital de referência para o atendimento à mulher em situação de vulnerabilidade?", questionou Thaísa.
A Defensoria também identificou irregularidades quanto ao preenchimento do livro onde são registradas informações sobre as cirurgias e no armazenamento da documentação das pacientes. De acordo com Thaísa, o último registro de parto é de abril e as informações posteriores estão anotadas em fichas soltas. A defensora afirma ainda que a fragilidade dos registros pode prejudicar as investigações, já que a Polícia Civil pediu ao hospital o encaminhamento de todas as pacientes que foram atendidas por Bezerra.
O relatório com as irregularidades será encaminhado à secretaria da Saúde e à Fundação Saúde, entidade responsável pela gestão do hospital. Através de nota, a unidade justificou que os registros foram separados para facilitar o envio de documentação para a polícia, Ministério Público e Defensoria.
Giovanni virou réu pelo crime de estupro de vulnerável no dia 10 de julho. Um outro inquérito foi aberto para investigar outros crimes cometidos pelo anestesista. Ele está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, o Bangu 8, na zona oeste do Rio.