IBGE: quase metade dos brasileiros vivem em famílias com contas em atraso
Atrasos no pagamento são mais comuns entre negros e pobres
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Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta quinta-feira (19), apontam que 95,6 milhões de brasileiros, cerca de 46,2% da população, vivem em famílias em que há atraso no pagamento de pelo menos uma conta mensal fixa devido a dificuldades financeiras. Segundo o levantamento, realizado entre junho de 2017 e julho de 2018 para a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), as contas de água, luz e gás são as mais associadas ao atraso.
O atraso em faturas de água, eletricidade ou gás é o mais comum: 37,5% das pessoas não pagavam em dia essas contas. Em seguida vem as prestações de bens e serviços, pagas com atraso por famílias que abrangiam 26,6% dos brasileiros.
Já a parcela de pessoas que viviam em famílias com problemas financeiros para realizar o pagamento de aluguel ou prestação do imóvel até a data do vencimento, foi de 7,8% da população. Na divisão regional, Sudeste (17,9%) e Nordeste (14,4%) foram as que tiveram a maior participação de pessoas em famílias com atraso em ao menos uma das contas.
Negros
De acordo com a pesquisa, dos 46,2% brasileiros que convivem com atrasos no pagamento de contas em seus lares, 30,4% vivem em famílias chefiadas por pretos ou pardos. Esse percentual cai para 15,2% quando o chefe de família é branco.
Entretanto, quando se tratam de famílias que não reportaram atraso (53,8% do total), a fatia de brancos e negros como chefe do domicílio é praticamente a mesma: 26,2% vivem em lares chefiados por brancos e 26,8% em lares chefiados por pretos ou pardos.
O estudo aponta ainda que os atrasos são mais frequentes entre os mais pobres. Cerca de 5 milhões de brasileiros estão nas famílias dos 40% com menor rendimento que atrasaram pelo menos uma das contas. Na outra ponta, são apenas 366 mil pessoas nas famílias dos 10% com maiores rendimentos com ao menos uma conta em atraso.
A maior dificuldade do pagamento de contas básicas nos lares chefiados por negros também ajuda a entender como se comportam o acesso a serviços financeiros e, consequentemente, as despesas per capita mensal com estes serviços no Brasil.
Segundo o IBGE, 83,3% dos brasileiros vivem em domicílio onde pelo menos uma pessoa tem ao menos um dos serviços financeiros disponíveis, como conta corrente, cartão de crédito, caderneta de poupança ou cheque especial. Apenas 16,7% dos brasileiros vivem em famílias que não declararam o acesso a tais serviços, sendo 11,7% integrantes de famílias com pessoas de referência pretas ou pardas e 4,8% de famílias com pessoas de referência branca.