Indiciados buscaram obter informações sobre o acordo de delação premiada de Mauro Cid, aponta PF
Relatório demonstrava a angústia do grupo com o que o ex-ajudante de ordens poderia ter revelado na colaboração
Foto: Lula Marques/Agência Brasil
O documento feito pela Polícia Federal (PF) que teve o sigilo quebrado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (26), contou com a participação dos citados e indicados no "inquérito do golpe" declaram que os envolvidos se dedicaram para obter informações privilegiadas sobre o acordo de delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).
A PF, durante investigações, encontrou documentos na mesa do Coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor do general Braga Netto, afirma a busca por informações sobre as declarações de Cid e sua preocupação com os indiciados sobre o que poderia ter sido delatado.
"O contexto do referido documento confirma que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por MAURO CESAR CID com a Polícia Federal. Ademais, cabe ressaltar que o documento estava na mesa do coronel PEREGRINO, assessor do general BRAGA NETTO, figura central nos atos que tinham o objetivo de subverter o regime democrático no Brasil logo, pessoa interessada em saber o conteúdo do que fora revelado pelo colaborador.", segundo o documento aponta.
O relatório demonstrava a angústia do grupo com o que o ex-ajudante de ordens poderia ter revelado na colaboração. A frase "GBN não é golpista, estava pensando democrático de transparência das urnas" ressalta a tentativa do grupo de construir uma narrativa que pudesse contrapor as informações fornecidas por Cid.
O documento indica que, pouco dias depois da homologação do acordo feito para a delação premiada, um dos indiciados o general Mário Fernandes, comentou sobre as mensagens do coronel afirmando que Jorge Luiz Kormann que os pais de Cid teriam ligado para os generais Braga Netto e Augusto Heleno, validando que as informações divulgadas pela imprensa em reportagens sobre a delação eram "mentira".
De acordo com a PF, esse contato reforça o interesse do grupo em obter informações sobre o que Cid teria relatado. Para a Polícia, "o contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio".
Possíveis Perguntas feitas a Cid
Um dos arquivos achados mostra uma resposta dada pelo Cid, o grupo (a PF não revela quem seria a pessoa). Há um trecho em que é perguntado sobre a "minuta do 142" e a possível menção a Braga Netto na delação.
Foram feitas três perguntas e há três respostas
A primeira resposta, segundo a PF, foi dada na primeira pessoa, sinalizando que pode ter sido escrita ou passada pelo próprio Cid. O questionamento é sobre o delatado nas "reuniões". Já a resposta foi realizada. "A pessoa afirma que 'nada' e, em seguida, explica como teria dado a explicação: 'Eu não entrava nas reuniões. Só colocava o pessoal para dentro'."
Já a segunda resposta foi sobre a existência "minuta do golpe" (minuta do 142). No arquivo, demonstra-se que a resposta foi dada de uma forma lacônica, se referindo a um possível aos investigadores da PF. Diz: "Eles sabem de coisas que não estavam em lugar nenhum (e-mail, celular etc)".
A terceira resposta foi para saber se a PF saberia da participação do assessor Filipe Martins na tentativa de golpe de Estado. Novamente, de forma breve, a pessoa responde: "Sabem dele por outros meios".