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Infraestrutura: o jogo jogado

Confira o artigo escrito por Matheus Oliva

Por Da Redação
Ás

Atualizado
Infraestrutura: o jogo jogado

Foto: Reprodução/Redes Sociais

A Bahia não está atrasada no jogo eliminatório da produtividade. Está fora dele. Entrar no jogo da produtividade é fundamental para entrar no campeonato da competitividade. O ganho no campeonato da competitividade é uma melhoria de vida significativa para a população, sobretudo a mais pobre, a mais carente de lideranças em acordo com este conceito. A riqueza da geografia baiana é reconhecida internacionalmente. Aliás, mais internacional do que localmente. Abrange desde ricas minas de ouro até a única mina de urânio do país. Urânio é matéria prima para Usinas de Energia Nuclear. Usinas de energia nuclear são a maneira mais competitiva e segura de produção de energia. Outros recursos energéticos são abundantes, o gás, o petróleo, água corrente em rios caudalosos, ventos e sol constantes. Pujantes são a agricultura, a pecuária, o comércio, os serviços, a indústria, a arte, o turismo e a inovação. Outrora a indústria já foi digna de admiração. Hoje lamentavelmente em franca decadência, sobretudo a eletrointensiva, mesmo com a CHESF por perto. Das suas grandes magnitudes está a Baía de Todos os Santos, um manancial de riquezas que salta aos olhos pela beleza e a qualidade da sua preservação.  
 
Alguém sabe que Salvador é a cidade com maior extensão de vias aéreas para trânsito de drones do mundo? Pois bem, a capital da Amazônia Azul já tem mais de dez pontos de pouso de drones e mais de 40km de vias aéreas homologadas pela ANAC para transporte de carga por drones. A segunda cidade com mais extensão de vias aéreas, no mundo, é Tel Aviv, em Israel, com cerca de 20km. Metade de Salvador. A empresa que conseguiu esta façanha é a SpeedBird Aero, fundada no Texas por um brilhante soteropolitano que foi estudar nos EUA com uma bolsa de estudos concedida devido a sua qualidade esportiva de jogador de Tenis. Pergunte ao CIMATEC, este centro de excelência lato e strictu sensu, localizado próximo à praia de Jaguaribe, um paraíso dos esportes aquáticos de Salvador. Salvador está pronta para o transporte do futuro. Mesmo assim, a Bahia enfrenta altos índices de pobreza e, por consequência, uma violência aterrorizante.
 
Não admitir que o estado está "fora do jogo" resulta em uma série de falhas estratégicas, de liderança e de aprendizado. O filósofo matemático, Reneé Descartes, com seu "Discurso sobre o Método", utiliza a dúvida, o ceticismo e a fragmentação das partes para a busca da verdade. Fragmentar problemas, como num quebra-cabeça, facilita o entendimento de cada parte para o encaixe das peças de maneira mais rápida que acabará por contribuir para a visão do todo. É preciso separar cada problema em seu quadrado. Sem essa abordagem cartesiana elementar, a administração pública do estado continuará sendo engolida pela areia movediça dos problemas sem soluções.
 
No quebra-cabeça apelidado de “Enigma Baiano” a gestão de infraestruturas é sofrível. A Bahia é exemplo do conceito de "desaprendizado organizacional", formulado por William H. Starbuck, prolífico nonagenário, bacharelado em Física pela Universidade de Harvard e PhD em Administração Industrial pelo Instituto de Tecnologia Carnegie. Seu conceito, essencial para enfrentar desafios de gestão publica ou privada, evidencia que a falta de preparação adequada e as respostas ineficazes a crises levam a resultados sociais negativos e exacerbam problemas como desemprego e instabilidade social. A discussão sobre estratégias proativas de gestão de crises é crucial para enfrentar as mazelas sociais e criar um ambiente em que o estado tenha condições para voltar ao jogo da produtividade.
 
Desaprender o que se desaprendeu e retornar aos trilhos do aprendizado das regras de como o jogo é jogado é a via para a sociedade baiana prosperar em suas ambições nas suas diversas dimensões. Os eixos ferroviários e rodoviários nacionais expõem a falta de lógica na utilização das infraestruturas existentes e das condições naturais geográficas. As duas mais extensas rodovias do país, BR 101 e BR 116, próximas ao litoral, são prova da curta visão de desenvolvimento de tão vasto território. Próximas entre si e à costa marítima, as custosas e ineficientes rodovias jogam um jogo de "perde-perde" com a cabotagem, criaram um imenso corte segmentando e impedindo o desenvolvimento do oeste do país. Na Bahia, com seu extenso litoral, para piorar, criou-se uma ferrovia denominada Centro-Atlântica (FCA - Ferrovia Centro Atlântica) incorporada ao balanço da Cia. Vale do Rio Doce S/A, hoje Vale S/A, no processo de privatização da Rede Ferroviária Federal S/A nos anos 90. Esta ferrovia, no território baiano, diferentemente do mineiro, é praticamente nula como “centro-atlântica”, concorrendo com as BR 101 e 116 e ainda com a cabotagem no sentido longitudinal, nada “vem do centro para o Atlântico” e vice versa. A exceção são toneladas de magnesita de uma mina deste minério, em Brumado, acessando cara e lentamente o porto de Aratu. Em Minas Gerais, esta ferrovia serve ao porto do estado do Espírito Santo, por ali sim, liga o centro de MG ao Atlântico. A hipertrofia de alternativas de transporte sentido Norte – Sul é causa de atrofia latitudinal. Uma crise crônica de insuficiência logística. A logística é o pulmão da produtividade, de tão atrofiado e agonizante, na Bahia, o asmático acesso ferroviário ao porto de contêineres em Salvador necrosou, foi destruído e em consequência a produção pujante de algodão no oeste baiano é escoada para mercados internacionais via porto de Santos. A Bahia não tem pulmões para disputar o jogo da produtividade.
 
Em anúncio divulgado publicamente aos 28 dias de novembro do ano 2019, a Advocacia Geral da União - AGU, divulgou para a imprensa um acordo da VLI, concessionária da FCA, com o Ministério Público Federal - MPF, em função de conduta lesiva aos entes públicos comprovada em pareceres da União, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT e da Agência Nacional de Transportes Terrestres - ANTT. O acordo foi de R$ 1,2 bilhões a serem pagos pela VLI aos entes públicos em 10 anos. De lá para cá nada foi divulgado sobre o pagamento e destinação de recursos. Sem transparência não há solução.
 
A VLI é uma sociedade de participações tendo como maior acionista a Brookfield Asset Management, firma de capital canadense que iniciou sua jornada de empreendedorismo fora do Canadá, funda em São Paulo, há cerca de 130 anos, como investidores da São Paulo Tramway Company, portanto a empresa dona da VLI hoje, à época, era dona dos transportes públicos urbanos ferroviários da cidade de São Paulo, eterna locomotiva do país. Noperíodo histórico, entre 1880 e 1950 o Brasil recebeu recursos de diversas empresas e de investidores anglo-saxões e seus descendentes para criação de uma eficiente malha urbana de transporte ferroviário para a população das suas cidades. Não à toa, chamamos os vagões elétricos sobre trilhos de bonde. No Rio de Janeiro, o visionário empreendedor norte americano, Percival Farqhuar, defenestrado pela ditadura xenófoba-ufanista convicta de Getúlio Vargas, imoplementou práticas de capitalismo civilizado com a oferta de títulos de dívida própria companhia aos usuários do transporte. Para isso divulgava os títulos, chamados no jargão financeiro de C-Bonds, em anúncios de papel colados nos vagões. A população carioca, peculiarmente, então, passou a chamar o veículo de Bond, tornando-se hoje verbete de dicionário: Bonde. Em nossa Salvador, cometemos o crime lesa patrimônio histórico de destruirmos a Sé para passagem do bonde. Em seguida vieram as montadoras de automóveis americanas e européias e o Brasil, a partir de 1950, abandonou os trilhos da competitividade dos transportes baseados em trilhos e energia elétrica, para abraçar asfalto, o petróleo com pneus e automóveis. Ao invés de soma, houve aniquilação. Esse pernicioso modo de pensar abriga boa parte dos cérebros brasileiros. Esforços e conquistas passadas não se somam ao presente. Salvador é um exemplo clássico de como não preservar, não melhorar e não embelezar. Não há uma linha histórica que se comunique no tempo em seus investimentos urbanos em mobilidade, preservação e avanço social. Na melhor acepção da expressão coloquial, a primeira capital do Brasil é um mangue de puxadinhos e puxadões de diversas naturezas. Mesmo tendo o urbanismo como cátedra de orgulho do corpo docente da UFBA. O PhD norte americano, sem estudar a nossa história, desenvolveu a teoria que nos explica, o “desaprendizado organizacional”. 
 
Em anúncio ao público, em 27 de agosto do corrente, a VLI informa que R$ 30 bilhões serão investidos em sua malha ferroviária incluindo “2,5 quilômetros” no acesso ao porto de Aratu. É complicado entender essa razão matemática como algo de benefício quando na mesma proposta, porém omitida em seu anúncio, a VLI pretende descontinuar mais de 2.200 quilômetros de sua malha ferroviária, grande parte na Bahia. Também é bastante difícil encontrar a devida transparência de como, quando e onde serão aplicados esses recursos magnânimos de 3 dezenas de bilhões de reais. O transporte ferroviário foi propelido pela pujança de uma Inglaterra outrora imperial, hoje a companhia VLI, controlada pelos canadenses descendentes dos ingleses, faz um anúncio para inglês ver. A Brookfield Asset Management se orgulha de ser uma das maiores companhias de gestão de ativos alternativos no mundo. Os governos da Bahia se orgulham de melhorar a vida dos cidadãos. A VLI se orgulha de investir em 2,5km de acesso ao porto de Aratu. A Bahia inteira não se orgulha de estar fora do jogo da produtividade para disputar o campeonato da competitividade.

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