Investigações expõem rotina de violência imposta por facção em comunidades do Rio
Material obtido pela Polícia Civil mostra punições, execuções e domínio armado em áreas controladas pelo Comando Vermelho, segundo o portal Metrópoles

Foto: Reprodução/Instagram
Meses antes da operação que deixou 130 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, a Polícia Civil reuniu provas que expõem o controle violento exercido pelo Comando Vermelho (CV) sobre moradores das comunidades da zona norte do Rio de Janeiro. Conversas interceptadas com autorização judicial, vídeos e registros de celulares apreendidos revelam como decisões sobre castigos e execuções eram tomadas e executadas sem qualquer disfarce. As informações foram divulgadas por Mirelle Pinheiro, colunista da Metrópole.
De acordo com a colunista, materiais analisados mostram cenas de espancamentos, sessões de tortura e execuções realizadas sob ordens diretas das lideranças da facção, que acompanhavam as punições por chamadas de vídeo. Um dos episódios mais chocantes envolve o traficante conhecido como BMW, apontado como responsável por aplicar as penas impostas pelo grupo. BMW arrastou um homem pelas ruas, algemado e amordaçado, enquanto implorava para não ser morto, o agressor ri enquanto a vítima agoniza.
Mulheres também foram alvos de castigos considerados “exemplares” pelos criminosos. Elas são colocadas em tonéis cheios de gelo após brigas em bailes funk, em um método que os investigadores classificaram como tortura com intenção de humilhação pública.
A investigação, segundo Mirelle, ainda identificou o uso de áreas isoladas da Penha para treinamento de novos atiradores com fuzis. Jovens aparecem em gravações praticando disparos sob orientação de BMW, o que autoridades chamaram de “profissionalização do crime”. Além disso, as apurações indicam que criminosos eram posicionados próximos a escolas, uma estratégia para dificultar ações policiais em dias de confronto.
O material apreendido também mostra líderes da facção negociando carros roubados e outras mercadorias abaixo do preço de mercado, ampliando o alcance de suas atividades ilícitas. Segundo as autoridades, o objetivo das investigações era atingir o núcleo do comando do CV, que utilizava as comunidades como refúgio para chefes vindos de outros estados, como Bahia, Amazonas, Pará e Ceará.
Entre os principais alvos estão Edgar Alves de Andrade, o Doca, e Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala. Doca, mesmo com mandado de prisão em aberto, não foi capturado, segundo a polícia, ele utilizou dezenas de homens armados como barreira humana para escapar. Ele é apontado como peça central na expansão nacional do Comando Vermelho e é procurado com recompensa de R$ 100 mil oferecida pelo Disque Denúncia.
As imagens e documentos anexados à investigação reforçam a estrutura militarizada da facção: homens fortemente armados patrulhando becos e acessos das comunidades, com o apoio até de cães treinados para vigilância. O conjunto de provas, segundo a polícia, confirma o domínio territorial e a capacidade de coordenação do grupo criminoso.
Momentos antes da megaoperação, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) conseguiu flagrar homens, apontados como integrantes do CV, transitando pelo Complexo da Penha com armamento pesado e trajando roupas camufladas, similares às usadas pelos agentes policiais.
Confira um dos vídeos divulgados:


