Irmandades religiosas católicas e o turismo de Salvador
Leia o artigo de Valdenor Cardoso

Foto: Foto: Tatiana Azeviche/Setur
As irmandades religiosas católicas são associações formadas por fiéis leigos que se reúnem em torno de uma devoção específica. Além da prática de ritos religiosos, elas também são grupos de acolhimento, solidariedade e articulação social. Durante o período da colonização portuguesa, surgiram diversas irmandades, muitas delas formadas exclusivamente por pessoas negras, escravizadas ou libertas. Nelas, os negros encontraram um espaço para expressar sua religiosidade, preservar tradições culturais de matriz africana e fortalecer vínculos comunitários.
Essas irmandades eram responsáveis por organizar missas, festas, procissões, cuidar da construção e manutenção das igrejas, apoiar membros doentes ou em situação de vulnerabilidade e garantir sepultamentos dignos aos seus associados. Na verdade, essas entidades ultrapassaram as funções religiosas e se tornaram também espaços de resistência política e cultural. Além disso, suas festas religiosas tornaram-se expressões públicas de fé, cultura e baianidade.
As igrejas erguidas ou mantidas pelas irmandades religiosas encantam por sua arquitetura e por seu belo patrimônio, são verdadeiras joias do barroco brasileiro e estão espalhadas por diversos bairros da cidade, especialmente no Centro Histórico, como Pelourinho, Santo Antônio Além do Carmo e Comércio.
Esses templos não são apenas lugares de culto, mas também museus vivos da história colonial. Por isso, são pontos turísticos obrigatórios para quem deseja conhecer a verdadeira Salvador. Muitos turistas, inclusive estrangeiros, buscam experiências imersivas ligadas à espiritualidade, à ancestralidade e à cultura popular, sendo as irmandades, sem dúvida, um dos caminhos mais autênticos para isso.
O turismo religioso católico é um dos segmentos que mais crescem em Salvador. A cada ano, milhares de pessoas visitam a cidade para participar de festas tradicionais como a Lavagem do Bonfim, a Festa de Iemanjá, o Dia de Santa Bárbara, que mesclam religiosidade, música, dança e cultura popular. Ao visitar uma festa religiosa católica em nossa cidade, o turista participa não só de um evento, mas de uma manifestação viva de identidade cultural e fé popular.
Além das festas, muitos roteiros turísticos incluem visitas guiadas às igrejas históricas, apresentações culturais organizadas pelas irmandades e até mesmo oficinas de música, dança e confecção de trajes religiosos. Esse turismo de experiência tem ganhado força, pois oferece ao visitante a oportunidade de vivenciar, sentir e participar da cultura local, em vez de apenas observá-la.
Apesar da importância histórica e do potencial turístico, as irmandades religiosas enfrentam desafios como falta de recursos, dificuldades na preservação dos espaços e pouca visibilidade nos grandes projetos turísticos. É fundamental que políticas públicas de incentivo à cultura e ao turismo valorizem essas entidades, garantindo apoio para restauração de igrejas, qualificação de guias de turismo e divulgação dos roteiros religiosos.
Merece elogios o trabalho que a Secretaria de Turismo do Estado da Bahia vem realizando para formular políticas públicas consistentes de apoio ao turismo religioso católico.. Após uma escuta qualificada de sacerdotes e de leigos, editou manuais de turismo especializado, apoia os roteiros religiosos já existentes e trabalha na criação de novos e participa de ações de valorização do patrimônio material e imaterial que contribuem para manter vivas as nossas tradições. Por outro lado, um turismo forte e bem planejado incrementa a economia do estado, gerando emprego e renda para a população, contribuindo para que as irmandades possam manter e ampliar ainda mais suas ações sociais e, desta forma, promover a inclusão e preservar os valores coletivos.
Investir nesse segmento significa reconhecer o valor da memória, da fé e da cultura viva que as irmandades representam. Salvador tem nas suas irmandades, um patrimônio humano e espiritual de valor incalculável. Proteger, fortalecer e divulgar essa riqueza é um passo essencial para um turismo mais consciente, inclusivo e conectado com as raízes mais profundas da cidade, as irmandades católicas são protagonistas de uma história que mistura religião, resistência e celebração. Suas festas populares revelam a alma da cidade, marcada pela fé sincrética, pela força do povo e pela beleza das tradições.
Desta forma, ao reverenciarmos o passado, a história e as realizações das nossas irmandades religiosas católicas, estamos construindo um presente com melhor qualidade de vida para nosso povo, porque o turismo religioso católico e o turismo cultural são um potente polo de atração de turistas de todas as partes do Brasil e do mundo. Portanto, preservar, apoiar e divulgar essas manifestações é valorizar o que Salvador tem de mais autêntico: sua gente, sua cultura e sua devoção.