Mais de 80 mil procedimentos foram feitos pelo SUS após abortos malsucedidos no 1º semestre de 2020
Número é 79 vezes maior que o de interrupções autorizadas por lei
Foto: Reprodução/ Agência Brasil
No primeiro semestre de 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 80.948 procedimentos de reparação com curetagens e aspirações, processos necessários para limpeza do útero, após abortos malsucedidos. Provocados ou espontâneos, o número é 79 vezes maior que o de interrupções de gravidez autorizada pela lei, segundo levantamento do G1 com dados do DataSUS.
De janeiro a junho, o SUS fez 1.024 abortos legais em todo o Brasil. Esses dois procedimentos ocorrem com mais frequência quando a interrupção da gravidez é provocada, ou seja, a necessidade é menor em caso de abortos espontâneos.
De acordo com a lei 12.845, de 2013, é obrigatório e integral a pessoas em situação de violência sexual e é concedido à gestante meios para interrupção da gravidez em decorrência de estrupo. No entanto, não é necessário que a mulher apresente boletim de ocorrência, nem exame de corpo de delito.
Porém, os hospitais exigem documentos que comprovem a necessidade do aborto após um estupro, ou se negam a dar continuidade no aborto legal. No Brasil, esse procedimento é legal em três situações: mais de 90% dos abortos legais ocorrem em gestação resultante de estupro, seguido por anencefalia do feto (5%). Apenas 1% dos casos teve como justificativa o risco de vida para a gestante.
Não há informações e números sobre quantas mulheres foram atendidas por abortos clandestinos, mas elas fazem parte do grupo que teve de se submeter a alguma das 80.948 intervenções realizadas no 1º semestre em decorrência de aborto espontâneo, clandestino ou por complicações pós-parto.
Ainda de acordo com o G1, no primeiro semestre deste ano, o SUS já gastou 30 vezes mais com procedimentos pós-abortos incompletos (R$ 14,29 milhões) do que com abortos legais (R$ 454 mil).
O valor repassado pelo sistema para um aborto legal é de R$ 443,40, mesmo de um parto normal, sem gravidez de risco. Já uma curetagem pós-aborto ou parto custa R$ 179,62 para o SUS, e a aspiração manual intrauterina (AMIU), R$ 142,84.