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Mancha de dendê não sai

Artigo descreve momentos marcantes de Moraes Moreira

Por Da Redação
Ás

Mancha de dendê não sai

Foto: Divulgação

“Mancha de dendê não sai”... aprendemos com você, meu amigo. Acho que posso te chamar assim, porque desde recém-nascido suas canções estiveram em minha vida, “no passado, presente e particípio”, em todas manhãs de domingo, na alfabetização facilitada pela didática do “Forró do ABC” (com direito a “Guê” “Agá” “Ji” “Lê” “Mê, “Nê”...), também na vitrola do meu avô Carlos, nos triunfos do glorioso Esporte Clube Baeeaaa que tinha seu hino cantado de modo único com seus acordes, nos primeiros “carnavais em cada esquina de nossos corações”, em que “abria alas e caminhos para depois passar o trio de Armandinho, Dodô e Osmar”, e até na cerimônia de meu casamento.

Como queria nesse momento estar a “sonhar, sonhar” e cair da cama, pensando ter acordado de um pesadelo e como num simples passe de mágica “Pirlim-Pimpim” descobrir que ainda está entre nós! Resta-nos o consolo de que a potência da sua arte como boa mancha de dendê, continuará viva, fazendo o “zum...zum, invadindo nossas casas e tomando nossos corações” libertos “por querermos muito mais do que o simples som da marcha lenta”.  

Pois é, amigo, sua partida prematura é a certeza que essa “vida é pouca e nós queríamos muito mais... para “balançar o chão das praças”, principalmente daquela que sempre repleta clamava “pela abolição no coração do grande poeta”, no qual cabia toda a “multidão”, que sempre atendia repleta o seu “chamado de mistura, loucura e alegria de toda esse gente” que materializa o “nosso estado que chamamos Bahia”, sem deixar de reverenciar o frevo, afinal “Pernambuco também é Brasil”.

Brasil que você já viu “descendo a ladeira”, muitas vezes, e nem por isso deixou de enaltecer “ a beleza de nosso céu, onde o azul é mais azul, cantando na aquarela tupiniquim de norte a sul, no céu, no mar e em todas as terras”, até naquela do “Tio Sam que quis conhecer a nossa batucada”, “nossos valores, pastorinhas e cantores”, afinal do alto de nossos terreiros iluminados “nós queremos sambar”, principalmente aquele “samba da nossa terra que deixa a gente mole”, que faz “um som no atabaque, trazendo axé pro batuque e até cantando um samba de black”. Tudo, realmente “é lindeza”, tal como a beleza de “abrir as portas e janelas para ver o sol nascer”.

Mas, como você mesmo disse “necas de olhar pra trás, não olhe, ande”, “nada de se atrapalhar nesse vai e vem”... seguiremos na sua “sintonia”, mesmo que não “tenha uma estrada e seja apenas uma viagem”.... “Pelo sim e pelo não” peço ao seu “pombo correio que voe ligeiro” a bordo de “um lindo balão azul, ou da calda de um cometa” para que leve essa mensagem “na lei natural dos encontros” que aqui seguiremos cantando, misturando  o “sagrado e o profano” e te diga que realmente “Deus te fez brasileiro, criador e criatura, um documento, pela graça da mistura... e quem sabe nos responda também por mensagem enviado por ele: qual é afinal o mistério do planeta? Como bom e orgulhoso baiano fica uma última pergunta: “Por que parou? parou por quê?” E um derradeiro pedido a “todos os santos, encantos e axés”: “ai, ai, ai, ai saudade não venha nos matar”.... e de vez em quando faça aquele “zum zum e pronto....”

Vicente Coni Jr.

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