Marqueteiros da direita minimizam 'ricos versus pobres' de Lula e miram inflação e gastos

Marqueteiros que trabalham para dirigentes partidários da direita avaliam que a campanha com o mote "ricos versus pobres", iniciada pelo PT nos últimos dias, não deverá sair da bolha de seguidores do presidente Lula, mas já traçaram respostas para a estratégia.

Uma das propostas é desconstruir a ideia de que o aumento de impostos promovido pelo governo federal atinge apenas os super-ricos, afirmando que o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) encarece o financiamento de bens de consumo, como geladeiras e motocicletas, e a importação de itens essenciais, como a farinha para o pão.

Outra linha de ação é reforçar a falta de disposição do governo em reduzir os gastos públicos, apontando para desperdícios em vez de buscar um ajuste fiscal.

Além disso, a oposição deverá atacar o uso de IA (inteligência artificial) nas ações petistas, associando a tática a uma tentativa de enganar a população sem uso de pessoas reais.

Na última semana, um dos vídeos de maior repercussão do PT, feito por IA, mostra uma multidão multiétnica de homens e mulheres caminhando por uma estrada de terra batida com sacos grandes nas costas, onde se lê a palavra "impostos". Entre eles, aparecem alguns homens brancos de terno e gravata com sacos de impostos menores, levados sem dificuldade na mão.

"É hora de rachar a conta Brasil de forma mais justa: quem tem mais paga mais. Quem tem menos paga menos. E quem é a favor do povo aprova essa ideia", diz a legenda do vídeo.

Sob reserva, um profissional do setor ouvido pela Folha disse que a resposta não deverá ficar a cargo dos grandes nomes da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) ou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

A entrada dessas figuras no embate poderia reforçar o discurso da esquerda, que tenta rotulá-los como defensores dos "BBBs" (bilionários, bancos e bets), sigla criada pela campanha petista.

No lugar deles, a reação, que já começou, fica a cargo de nomes do segundo pelotão que, eventualmente, conseguem sair de suas próprias bolhas —com vídeos sem imagens geradas por IA.

"Sabe aquela TV que você quer comprar parcelada? O Lula quer deixar mais cara", disse, em um vídeo publicado no Instagram no fim desta quinta-feira (3), o secretário estadual da Agricultura de São Paulo, Guilherme Piai, importante articulador entre bolsonaristas e empresários do setor agropecuário paulista.

"A esquerda diz que o IOF é só — imposto pros milionários —. Mas esconde a verdade: quando a dona Maria parcela a geladeira, paga IOF. O motoboy que compra um capacete no AliExpress paga IOF", afirma, na rede X (ex-Twitter), o deputado estadual cearense Carmelo Neto, presidente nacional do PL Jovem.

Outro profissional que conversou com a reportagem avalia que a esquerda vive um momento de desânimo de suas bases, com queda na popularidade do presidente Lula. Nesse contexto, a campanha petista consegue agitar sua militância, tirando o governo das cordas.

Ainda segundo esse profissional, o tom de confronto entre classes adotado pela campanha pode soar radical e acabar afastando eleitores de centro.

O embate proposto pela campanha saiu das redes sociais e foi para as ruas nesta quinta-feira (3). O MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), grupo ligado ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), cotado para assumir um ministério de Lula, invadiu o saguão do prédio do Itaú BBA, banco de investimentos do Itaú, para protestar pela taxação dos super-ricos.
Nas redes sociais, enquanto simpatizantes compartilharam a ação com frases como "é hora de os ricos pagarem a conta", influenciadores e parlamentares de direita rebateram o protesto dizendo que os bancos "lucraram como nunca" nos governos petistas.