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Bahia

Médico baiano assassinado no Rio deu plantão e fez aniversário às vésperas do crime

Uma das linhas de investigação adotada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro é de que os três médicos mortos podem ter sido vítimas por engano

Por FolhaPress
Ás

Médico baiano assassinado no Rio deu plantão e fez aniversário às vésperas do crime

Foto: Reprodução

O médico baiano Perseu Ribeiro Almeida foi recebido com palmas na última terça-feira (3) ao chegar para o trabalho no Hospital Estadual Prado Valadares, em Jequié (370 km de Salvador).

Em meio a mais um plantão, o médico celebrava naquele dia o seu aniversário. Perseu, que completava 33 anos, agradeceu aos colegas, trocou cumprimentos e subiu para o centro cirúrgico, onde comandou uma operação ortopédica.

No dia seguinte, embarcou pela primeira vez para o Rio de Janeiro para participar de um congresso de internacional de cirurgia. Acabou sendo assassinado na madrugada de quinta (5) com mais dois colegas em um quiosque em frente ao hotel na orla da Barra da Tijuca.

Uma das linhas de investigação adotada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro é de que os três médicos mortos podem ter sido vítimas por engano. A suspeita é que Perseu Almeida pode ter sido confundido com Taillon de Alcantara Pereira Barbosa, 26, acusado de integrar a milícia de Rio das Pedras.

Natural de Ipiaú, cidade de 40 mil habitantes do sul da Bahia, Perseu Almeida escolheu a medicina como profissão seguindo os passos do pai, Luiz Andrade, ortopedista que morreu há cerca de dez anos em um acidente de carro.

Cursou medicina na faculdade UniFTC, em Salvador, e seguiu para São Paulo, onde se especializou em cirurgia do pé e tornozelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Desde o ano passado, se dividia entre as cidades de Ipiaú e Jequié, distantes cerca de 50 quilômetros uma da outra. Na sua cidade natal, atendia no Hospital geral de Ipiaú e comandava a Cliorti, clínica ortopédica que havia sido de seu pai.

Mas desde o ano passado fixou residência com a mulher e filhos em Jequié, cidade de 158 mil habitantes, onde passou a trabalhar no departamento de ortopedia do Hospital Prado Valadares.

Com a especialidade em cirurgia de pé e tornozelo, costumava atender e operar pacientes vítimas de traumas, sobretudo acidentes de trânsito. Era tido por colegas como um profissional qualificado e dedicado.

"Perseu era extremamente amistoso, tranquilo, sem vaidades e dedicado à profissão. Sempre ajudou muito nossa equipe, assumiu com maestria casos bastante graves", afirma Rodrigo Viana, coordenador do setor de ortopedia do Hospital Prado Valadares.

Ele afirma que a morte de Perseu, nas circunstâncias de violência em que ocorreu, deixou os colegas consternados: "Foi uma fatalidade extremamente agressiva. Nossa equipe está muito comovida, todo mundo muito emotivo. As lágrimas vêm aos olhos toda vez que falamos dele."

Nesta sexta-feira (6), as bandeiras foram hasteadas a meio mastro e uma faixa sinalizando luto foi dependurada na frente do hospital. Diretora do Prado Valadares, Ana Paula Camargo classificou a morte do médico como uma perda imensurável e o chamou de profissional competente, dedicado e bem preparado tecnicamente.

Em Ipiaú, cidade natal do médico, a clínica ortopédica da família fechou as portas desde quinta-feira (5) e o clima é de tristeza entre os funcionários.

Tecnólogo em radiologia, Roberto Santana trabalhou com o pai de Perseu, Luiz Andrade. Ele conta que desde a morte do médico familiares e funcionários acompanharam com expectativa a trajetória de Perseu, que se formou, se especializou e voltou à cidade para ocupar o lugar do pai na clínica.

A nova tragédia, diz, abalou profundamente a todos, sobretudo pela forma como a morte aconteceu: "A primeira vez que a pessoa vai para uma cidade, desfrutar de uma coisa que ele estudou, e aparecem pessoas que ceifam sua vida sem nem questionar. Está muito complicado viver num país desse."

Tio de Perseu, o empresário Remo de Araújo Ribeiro, 49, disse que o sobrinho estava muito animado para o congresso e tinha planos para ampliar e modernizar a clínica de ortopedia da família em Ipiaú.

Com os olhos marejados e voz embargada, falou da dor da família com a morte prematura: "É surreal, ainda não caiu a ficha."

Há cinco meses, Perseu também passou a atender no Hospital Geral de Ipiaú, sempre às quintas e sextas-feiras. Nesta semana, havia trocado os turnos com outro colega justamente para participar do congresso no Rio de Janeiro.

Pacientes também lamentaram sua morte. O bancário Leiser Ramos Fagundes, 46, foi operado pelo médico em outubro do ano passado após um rompimento do tendão de Aquiles.

"Nunca tinha sido operado antes. E comentei até com os amigos que nunca me senti seguro com um médico quanto me senti com doutor Perseu", afirma Leiser, que elogiou a atuação no médico no período pós-operatório.

Ele disse ainda que, assim que soube à notícia do assassinato do médico, pensou que ele deveria ter sido morto "de forma inocente", por um engano. Esta uma das linhas de investigação que estão sendo apuradas pela polícia, que também trabalha com as hipóteses de crime político e vingança.

O policial militar Alex Mendes de Souza também foi paciente de Perseu em Ipiaú e disse que toda a cidade está consternada com a morte do médico: "É uma perda irreparável para a comunidade. Os pacientes gostavam dele, que desempenhou sua profissão com muito humanismo."

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) lamentou a morte do médico e deve fazer uma visita aos seus familiares nesta sexta-feira (6). A prefeita de Ipiaú, Maria das Graças Mendonça (PP), também emitiu uma nota prestando condolências aos seus familiares.

Perseu Almeida deixa mulher e dois filhos, de 11 e 3 anos. O seu corpo será velado nesta sexta-feira no Salão da Loja Maçônica Fraternidade Rionovense. O enterro será neste sábado (7) no Cemitério Jardim da Saudade, em Ipiaú.

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