Política

Militante do PCdoB demitido na Câmara atuou como lobista do Irã e Hezbollah

Tenório ironizou ataques do Hamas e perdeu cargo na câmara recentemente

Por Da Redação
Ás

Militante do PCdoB demitido na Câmara atuou como lobista do Irã e Hezbollah

Foto: Reprodução/ Redes sociais

O militante do PCdoB Sayid Marcos Tenório, demitido no último dia 11 de um cargo comissionado da Câmara dos Deputados por zombar de uma mulher sequestrada pelo Hamas, atuava defendendo interesses do Irã e do Irã e do Hezbollah, grupo paramilitar criado no Líbano e financiado pelo regime xiita de Teerã. As informações são da coluna de Malu Gaspar, do O GLOBO

Tenório facilitou o acesso de autoridades do Irã ao Congresso brasileiro e promoveu encontros entre políticos e lideranças ligadas ao Hezbollah, com quem manteve relações próximas. Nos últimos 13 anos, ele ocupou diversos cargos na Câmara e no governo federal, assessorou pelo menos seis parlamentares, cinco dos quais filiados ao PCdoB, e também exerceu cargos no Palácio do Planalto e no Ministério dos Esportes no Governo Dilma.

No entanto, o ex-assessor nega ter feito lobby a partir dos cargos que ocupou e diz que promoveu encontros com altas lideranças do Irã em razão de sua fé. Ele é muçulmano xiita.

O jornalista Leonardo Coutinho, autor de "Hugo Chávez, O Espectro", investigou a atuação de agentes iranianos e membros do Hezbollah na América do Sul e mapeou o lobby de Tenório a favor deles no Congresso brasileiro.

O Hezbollah surgiu como uma milícia xiita na invasão do Líbano por Israel em 1982. Após a retirada dos israelenses do território libanês, em 2000, o grupo se transformou em partido, mas manteve um braço armado fortemente financiado pelo Irã, classificado como terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Em 2015, quando estava lotado no gabinete de Wadson Ribeiro (PCdoB), Sayid Tenório articulou a recriação do Grupo Parlamentar Brasil-Irã na Câmara dos Deputados, que estava desativado. No mesmo ano, promoveu um encontro do então embaixador iraniano em Brasília, Mohammad Ali Ghanezadeh, com a presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, a colega de partido Jô Moraes (MG).

O ex-assessor reuniu lideranças do PCdoB, entre elas o deputado Orlando Silva, com Bilal Mohsen Wehbe, sheik de uma mesquita em São Paulo de origem libanesa e naturalizado brasileiro. Wehbe é alvo de sanções dos Estados Unidos desde 2010 pelos seus vínculos com o Hezbollh e acusado pelas autoridades americanas de ser representante do grupo na América do Sul.

O comunista alegou que a diretoria da mesquita do Brás, em São Paulo, decidiu homenagear o então chefe, o deputado Wadson Ribeiro, pela organização de uma sessão solene da Câmara dedicada à comunidade muçulmana, mas que a presença de Wehbe não estava prevista e não passou de uma coincidência. Tenório afirmou ainda que não tinha conhecimento das sanções dos EUA e que “desconhecia” qualquer vínculo dele com o Hezbollah.

O deputado Márcio Jerry, o último a empregá-lo na Câmara, afirmou desconhecer a natureza da proximidade de Tenório com o Irã.

É possível observar a proximidade de Tenório com líderes iranianos em seus perfis na internet. Nas redes, ele celebrou a aprovação do ingresso do Irã no grupo dos Brics com fotos ao lado do atual presidente do país, Ebrahim Raisi, em Teerã, durante um encontro mundial de muçulmanos xiitas na chamada Assembleia Mundial Ahlul Bait.

O militante do PCdoB também publicou fotos ao lado do sheik Seyyed Hassan Khomeini, neto do primeiro aiatolá do país e mentor da Revolução Iraniana, e recepcionou em São Paulo o aiatolá Mohsen Araki, um dos clérigos mais próximos do líder supremo do Irã, Ali Khamenei.

Em seu livro, Leonardo Coutinho cita ainda a amizade de Tenório com Khalil Karam, libanês radicado no Brasil que foi preso e condenado no país nos anos 90 por envolvimento com o tráfico de cocaína e também foi investigado pelo crime na Itália, mas nunca foi extraditado por ter se naturalizado brasileiro. O dinheiro seria desviado para grupos radicais como a Frente Para a Libertação da Palestina, também classificada como terrorista. De acordo com a PF, Karam mantinha boas relações com o governo brasileiro nesse mesmo período.

Segundo Coutinho, o filho de Tenório atuou como advogado de Karam, o que o historiador confirmou à equipe da coluna de Malu Gaspar. “Era uma causa muito específica, corriqueira, nem me lembro o que era”.

O historiador afirmou que não tinha conhecimento da condenação e da prisão por Karam, mas também classificou o libanês como “um irmão de coração”.

“É um delírio fazer essa conexão da vida pretérita dele comigo. Conheci Kalil em 2007 ou 2008 e nunca soube que ele tinha negócios com diamantes. Não acredito na narrativa da PF. E pelo o que eu entendo dos grupos palestinos, ele não tem o menor perfil de ter essa responsabilidade. Ainda mais sendo um libanês de família cristã”, argumentou Tenório.

Ainda segundo o ex-assessor da Câmara, os dois ainda mantêm contato. A última conversa teria acontecido em 2022, quando o amigo teria atendido uma ligação enquanto trabalhava em Dubai.

“Trato ele por irmão de coração. Ele andou doente. Acho que liguei para perguntar como ele está. Isso foi antes da eleição do presidente Lula”, disse..

Na foto de Sayid Tenório com o atual presidente do Irã, o militante comunista aparece ao lado de Nasser Khazraji, intérprete da Embaixada do Irã no Brasil e filho de Taleb Hussein al-Khazraji, sheik radicado em São Paulo apontado pela Interpol como um agente iraniano no Brasil que teria hospedado o clérigo Mohsen Rabbani durante suas passagens pelo país nos anos 80.

Rabbani, por sua vez, é apontado pela Justiça da Argentina junto de outras lideranças do Hezbollah como um dos autores do atentado a bomba contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), que matou 85 pessoas em Buenos Aires em 1994.

Outro extremista que passou pela casa de al-Khazraji no Brasil é o guianense Abdul Kadir, condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos em 2010 por planejar um atentado contra o Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, e apontado pelos EUA como “discípulo” de Rabbani. Ele morreu na prisão em 2018.

Sobre a viagem com a Teerã com Nasser al-Khazraji, Tenório admitiu que eles foram os dois únicos representantes do Brasil na Assembleia Mundial Ahlul Bait entre 200 participantes do mundo inteiro – o que dá a dimensão de sua importância para a comunidade iraniana no Brasil.

Sobre o patriarca al-Khazraji, seu envolvimento com o Hezbollah e a hospedagem de Rabbani e Kadir, o historiador disse “colocar na conta da religião”.

José Marcos Tenório, o militante comunista, se converteu ao islamismo e adotou oficialmente o nome Sayid, comum em países árabes e que tem origem no título honorífico concedido aos descendentes do profeta Maomé.

Nas redes sociais, Tenório justificou ataques do Hamas e chegou a compartilhar comunicado do próprio Hezbollah exaltando um ataque “da resistência palestina” em Hadera, Israel, que matou dois policiais.

Sayid Tenório, porém, afirma que os ataques não passam de uma resposta do Hamas a décadas de opressão pelo Estado de Israel. Ele classifica o grupo como um “movimento de resistência”, assim como a Jihad Islâmica e a Frente Para a Libertação da Palestina. “Terrorista é o Estado Islâmico, o Boko Haram”, costuma dizer em resposta às críticas.

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