'Minha intenção é que isso não ocorra com outras pessoas', diz jornalista demitido da TV Bahia sobre o racismo
Hildázio Santana desabafou nas redes sociais após acusar diretor de jornalismo da emissora de racismo
Foto: Reprodução/Redes Sociais
Em um longo desabafo feito nas redes sociais nessa quinta-feira (28), o jornalista Hildázio Santana, viralizou após relatar ter sofrido racismo do diretor de Jornalismo da TV Bahia, afiliada a Globo, Eurico Meira da Costa, que anunciou seu desligamento da empresa, após quase 20 anos, por o acusar de ter "subtraído" uma cafeteira das dependências da emissora local. Em entrevista ao Farol da Bahia, o profissional contou que uma representação de racismo foi protocolada e acatada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), e que o diretor Meira também é processado pelos crimes de calúnia e difamação, sendo que esses dois últimos já possuem audiência marcada para o dia 25 de novembro.
À reportagem, ele ressaltou que os três processos (racismo, calúnia e difamação) foram apresentados à Justiça contra Eurico Meira da Costa.
Sem intenção de buscar mídia, Hildázio Santana contou que o único objetivo em expor o caso foi para não permitir que situações de racismo e preconceito aconteçam e que outras pessoas fiquem cientes da criminalidade. "Minha intenção é desligar o diretor de jornalismo? Minha intenção é buscar mídia? não, nada disso, A minha intenção é que isso não aconteça com outras pessoas. Eu tenho 20 anos de emissora, eu não tenho um desvio de conduta na minha ficha e agora, do nada, em uma situação gravíssima, eu fui desligado ao ser acusado de ter furtado uma cafeteira.
O jornalista explicou que, além das intenções com a exposição do caso, há outro ponto que o fez levar à público: sua imagem, valores e princípios. "Imagine eu ter que contar ao meu filho que eu fui desligado porque fui acusado de furtar uma cafeteira, sendo que eu falo tanto de moral, de conceitos para ele. Quando você vive uma situação dessa é preciso falar para as pessoas. Não para somente se proteger, mas que isso também não ocorra com outras pessoas."
Questionado se sentiu medo em algum momento de expor o caso, o jornalista disse que seu único receio era sua família, mas que conversou com a mãe, irmãos e esposa e recebeu apoio sobre o que deveria ser feito. "Eu respirei muito quando eu fui clicar na palavra 'publicar', mas depois isso me deu forças. Deus me disse que eu não deveria ficar calado e devia falar", pontuou.
Nota emitida pela emissora
Em sua rede social Instagram, Hildázio detalhou que foi acusado de furto a uma cafeteira, mas que o que ele fez foi tirar de uma sala e levar para outra para fazer um café e beber com os colegas, mas que não colocou de volta devido a falta de tempo. "A cafeteria está na televisão, saiu de uma sala para outra, com quase dez câmeras filmando tudo, e a própria emissora emitiu uma nota informando que o meu desligamento foi um processo gerencial. [...] Eu achei a nota tão pequena, tão vaga. Eu acho que a TV Bahia tem força e tem representatividade em todo o Estado", disse.
Em nota ao público, a emissora pontuou que a demissão de Hildázio foi "uma decisão gerencial, natural do dia a dia de qualquer empresa privada, decisão essa embasada em questões profissionais, sem qualquer viés persecutório e/ou discriminatório. [...] Eventuais discussões sobre o assunto serão tratados com empenho, seriedade e clareza nas esferas e instâncias compentendes".
O jornalista contou que esperava que o posicionamento fosse outro, como informar que o caso seria averiguado ou de afastar o diretor do cargo para buscar entender o ocorrido e ouvir as partes. "Eu era responsável por todos os projetos de comercialização do esporte da Rede Bahia e responsável pelo editorial de todos os jornais de esportes e, no mínimo, eu esperava ser ouvido e que a postura fosse de avaliar o caso [...], mas foi uma nota simplesmente, curta, burocrática, simples e direta", se expressou.
Mensagens de apoio
Após expor seu desabafo, Hildázio tem recebido inúmeras mensagens de apoio de colegas da profissão, incluindo profissionais da própria Globo, amigos e seguidores. "Eu tenho recebido muito apoio. Recebi de parte dos diretores da televisão me dando apoio, de colegas demonstrando solidariedade. Eu não recebi uma ligação que mandasse eu processar e garantir meus direitos trabalhistas. Nada. As ligações foram simplesmente para me dizer que me apoiavam, que estavam comigo e perguntando como eu estava. Eu estou tranquilo, foi uma manifestação de muito carinho", explicou.
"Eu só queria que esse caso não morresse. A gente sabe que existem negros em diversos veículos de comunicação, não só na Rede Bahia, que sofrem isso e, infelizmente, ou não podem, ou não tem coragem. A gente precisa ter coragem para 'abrir a boca' mesmo", completou.
Futuro profissional
Ao ser questionado sobre os planos para o futuro profissional, Hildázio revelou ao Farol da Bahia que três emissoras de TV chegaram a entrar em contato com ele oferecendo propostas de emprego, mas que o foco agora é descansar - pois tinha duas férias vencidas na TV Bahia -, e acompanhar o caso.
"Às três [emissoras] eu pedi um tempo porque eu preciso desacelerar. Eu precisava tirar férias e vou tirar agora. Mas, tenho um projeto de uma empresa que eu já queria fazer, de audiovisual, e eu vou colar nisso com um amigo. Vamos montar essa empresa", disse ao pontuar que não sabe se tem mais força psicológica para trabalhar em televisão. "Claro que a gente não pode cuspir no prato que comeu, mas, inicialmente, eu não pretendo voltar para a TV".