Moraes diz que regulação das redes é necessária para volta da normalidade democrática
As declarações foram dadas uma semana antes de o Supremo julgar ações que podem derrubar trechos do Marco Civil da Internet
Foto: Nelson Jr./SCO/STF
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (18) que a regulamentação das redes sociais e o fim da impunidade contra crimes de ódio são o caminho para a volta da normalidade democrática no Brasil.
As declarações foram dadas uma semana antes de o Supremo julgar ações que podem derrubar trechos do Marco Civil da Internet -julgamento considerado mais importante do semestre no tribunal.
"É necessário, para nós voltarmos à normalidade democrática, uma regulamentação [das redes sociais] e o fim dessa impunidade. Nunca houve nenhum setor na história da humanidade que afete muitas pessoas e que não tenha sido regulamentado", disse Moraes em seminário na Assembleia de Mato Grosso.
O ministro discursou por 20 minutos sobre o tema "O STF e a crise da democracia: reflexões e respostas".
Ele fez um histórico sobre o crescimento das redes sociais e citou estudos que indicam possível uso deliberado de algoritmos nas plataformas para direcionamentos de interesses econômicos e políticos.
"A culpa é das redes sociais? Não, elas não pensam. Quem pensam são os humanos por trás das redes sociais, que sem nenhuma transparência dos algoritmos direcionam para cativar e fazer uma lavagem cerebral nas pessoas, gerando esse ambiente de ódio", afirmou.
Moraes disse que há dificuldade na regulação das redes sociais porque as big techs "faturam economicamente" e tem o "maior poder político e de geopolítica que se tem notícia na história".
"Nós que acreditamos na democracia -e não importa se é liberal, progressista, conservadora- não podemos permitir essa continuação de manipulação contra os ideais democráticos", disse.
O Supremo começa a julgar no próximo dia 27 de novembro seis processos relacionados às redes sociais. O principal foco das discussões está no artigo 19 do Marco Civil da Internet, sobre a possibilidade de as plataformas serem responsabilizadas por conteúdo criminoso divulgado por terceiros.
Os ministros também vão travar discussões sobre a possibilidade de bloqueio de plataformas por decisão judicial e sobre moderação de conteúdo nas redes.
A expectativa é que o Supremo promova mudanças no Marco Civil da Internet semelhantes ao que vinha sendo discutido no Congresso Nacional no âmbito de um projeto de lei sobre regulamentação das redes sociais.
Relatada pelo deputado Orlando Silva (PC do B-SP), a proposta acabou travada na Câmara por oposição das big techs e ameaças a parlamentares.