Política

Moro deixa o cargo e desmente Bolsonaro: "Presidente queria indicação política"

No Twitter, o presidente publicou que exoneração de Valeixo foi a pedido e Moro negou

Por Juliana Dias
Ás

Moro deixa o cargo e desmente Bolsonaro: "Presidente queria indicação política"

Foto: Agência Brasil

Em pronunciamento nesta sexta-feira (24), Sergio Moro deixou o ministério da Justiça e Segurança Pública por causa da exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Para Moro, a exoneração pela madrugada, sem assinatura dele, ou pedido de Valeixo, foi uma sinalização de que o presidente queria Moro fora do cargo. "Meu entendimento é de que não podia aceitar essa substituição. Não me senti confortável, tenho que preservar minha biografia e o compromisso que assumi com o presidente de garantir a aplicação da Lei e a autonomia da Polícia Federal", frisou.

No Twitter, Bolsonaro publicou a exoneração e colocou que teria exonerado "a pedido", o que foi negado por Moro que disse que soube da saída de Valeixo pelo Diário Oficial, e que não assinou. Segundo Moro, não houve pedido formal de Valeixo, apesar de queixas dele de pressão constante para que deixasse o cargo voluntariamente.
Moro disse que trabalha na carta de demissão e que não tinha condição de continuar no cargo com a troca, que considera uma interferência política indevida, porque Jair Bolsonaro não teria apontado uma causa para a substituição da indicação, que foi feita pelo próprio Moro.

"O presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal e que a troca seria oportuna por esse motivo. Isso é algo que gera uma grande preocupação", denunciou.

Morou chegou a conversar nesta quinta (23) com Bolsonaro que teria expressado a vontade de ter acesso a relatórios de inteligência sobre investigações, o que não é devido, ponderou Moro, já que a autonomia é uma condição indispensável para a Polícia Federal. No diálogo, Moro rechaçou a influência política na troca e afirmou ser uma questão técnica. De acordo com Moro, pelo menos três nomes foram aventados por Bolsonaro, ao que ele apontou que o problema não seria quem colocar, mas por que trocar o diretor.

Sergio Moro disse também que quando foi convidado para assumir o ministério da Justiça ficou acordado que atuaria no combate à corrupção, ao crime organizado e à criminalidade violenta. A única condição colocada, teria sido que, como estava abandonando a magistratura, se algo acontecesse a ele, queria garantia de que família dele não ficasse desamparada. Conforme Moro, na época, Bolsonaro concordou, e disse publicamente que daria carta branca a Moro, para nomear assessores e lideranças de órgãos policiais, incluindo a PF.

O ex-ministro considera que Bolsonaro violou a promessa de carta branca, também não apontou uma causa para a substituição e acabou promovendo uma interferência política na PF. "Em todo esse período, tive apoio do presidente Jair Bolsonaro, mas a partir do segundo semestre do ano passado, passou haver uma insistência dele na troca do comando da Policia Federal. Isso foi declarado publicamente", registrou.

Moro ainda lamentou ter que realizar "esse evento" em meio de uma pandemia que registrou lamentavelmente 407 mortes em 24 horas e aproveitou para lembrar que atuou como juiz federal por 22 anos e teve diversos casos criminais relevantes e se tornou conhecido por conta da Operação Lava Jato, que desde 2014, "mudou o patamar de combate à corrupção do país".

Ainda disse que autonomia da Polícia Federal permitiu alcançar resultados, como quando Valeixo recebeu uma ordem de soltura ilegal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi revista antes que fosse executada. Ele também fez um balanço da sua atuação e afirmou que a palavra-mote do ministério foi integração. Para ele, houve atuação com as forças de segurança estaduais e municipais e que, apesar das críticas, trabalhou "duro" contra a criminalidade organizada e citou alguns exemplos, como a transferência e isolamento das lideranças do PCC. Também destacou recordes de apreensão e destruição de drogas e produtos contrabandeados. Para ele, aconteceu o fortalecimento da Polícia Federal e da Força Nacional.

 

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