(PARA O FDS) Mudanças climáticas podem ser causadoras de doenças cerebrais, diz estudo
De acordo com pesquisadores de Londres, temperaturas extremas e eventos climáticos adversos
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
Segundo estudos publicados na The Lancet Neurology nesta quarta-feira (15), mudanças climáticas poderão afetar negativamente a saúde de pessoas com doenças cerebrais no futuro. No artigo, pesquisadores da London’s Global University (UCL), comentaram que os impactos nas doenças neurológicas podem ser “substanciais” e enfatizam a necessidade de compreender essas consequências para a vida dos pacientes.
A decisão foi feita após a revisão de 332 artigos publicados em todo o mundo entre 1968 e 2023. Eles consideraram 19 condições relacionadas ao sistema nervoso, escolhidas com base no estudo Global Burden of Disease 2016. Entre elas, estão doenças como AVC (acidente vascular cerebral), enxaqueca, Alzheimer, meningite, epilepsia e esclerose múltipla. A equipe também analisou o impacto das alterações climáticas em vários distúrbios psiquiátricos graves, como ansiedade, depressão e esquizofrenia.
“Há evidências claras do impacto do clima em algumas doenças cerebrais, especialmente acidentes vasculares cerebrais e infecções do sistema nervoso”, afirma o professor Sanjay M. Sisodiya, diretor de genômica na Sociedade de Epilepsia e membro fundador da Epilepsy Climate Change, em comunicado à imprensa.
“A variação climática que demonstrou ter efeito nas doenças cerebrais incluía extremos de temperatura (baixa e alta) e maior variação de temperatura ao longo do dia – especialmente quando essas medidas eram sazonalmente incomuns”, explica. “As temperaturas noturnas podem ser particularmente importantes, pois as temperaturas mais elevadas durante a noite podem perturbar o sono. Sabe-se que o sono insatisfatório agrava uma série de problemas cerebrais.”
Alzheimer correm maior risco
Conforme a equipe afirma que pessoas com demência estão mais suscetíveis a danos causados pelas temperaturas extremas e a serem vítimas de eventos climáticos (como inundações ou incêndios florestais), já que uma vez que a deficiência cognitiva pode limitar a capacidade de adaptar o comportamento às mudanças ambientais.
“A redução da consciência do risco é combinada com uma menor capacidade de procurar ajuda ou de mitigar potenciais danos, como beber mais em tempo quente ou ajustar a roupa”, relatarem os pesquisadores.
“Essa suscetibilidade é agravada pela fragilidade, multimorbidade e medicamentos psicotrópicos. Consequentemente, maior variação de temperatura, dias mais quentes e ondas de calor levam ao aumento de internações hospitalares e mortalidade associadas à demência”, completam.
Os riscos de morte estão associados às altas temperaturas
Já os pesquisadores descobriram, ainda, que houve um aumento nas internações, incapacidades ou mortalidade decorrente a um AVC relacionadas às temperaturas mais altas, ou ondas de calor. Isso também foi observado para transtornos de saúde mental, principalmente em relação às flutuações diárias de temperatura.
“Este trabalho está decorrendo em um contexto de agravamento preocupante das condições climáticas e terá de permanecer ágil e dinâmico se quiser gerar informação que seja útil tanto para os indivíduos como para as organizações”, afirma Sisodiya. “Além disso, existem poucos estudos que estimam as consequências para a saúde das doenças cerebrais em cenários climáticos futuros, o que torna o planeamento futuro um desafio.”
Ansiedade climática também eleva os riscos
A ansiedade climática, ou “ecoansiedade“, também pode potencializar transtornos psiquiátricos, como a própria ansiedade e depressão.
"Todo o conceito de ansiedade climática é uma influência adicional e potencialmente pesada: muitas doenças cerebrais estão associadas a um maior risco de distúrbios psiquiátricos, incluindo ansiedade, e tais multimorbidades podem complicar ainda mais os impactos das mudanças climáticas e as adaptações necessárias para preservar saúde. Mas há ações que podemos e devemos tomar agora”, afirma Sisodiya.
Ecoansiedade é um termo usado para designar o “medo crônico da catástrofe ambiental“, de acordo com a definição da Associação Americana de Psicologia. Ele começou a ser usado pela literatura da ecopsicologia na década de 1990, mas tem ganhado maior projeção com as mudanças climáticas e eventos ambientais adversos recentes.