Coronavírus

‘Não podemos derrotar uma pandemia de forma descoordenada’, afirma Guterres

O secretário-geral da ONU estabeleceu a meta de vacinar ao menos 40% da população mundial até o final do ano

Por Da Redação
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‘Não podemos derrotar uma pandemia de forma descoordenada’, afirma Guterres

Foto: Mark Garten/ONU

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na quinta-feira (16) que os países “devem tomar medidas concretas nos próximos dias” para vacinar 40% da população mundial até o final de 2021. Ele afirmou que "não podemos derrotar uma pandemia de forma desordenada".

Guterres também pediu aos Estados-membros que fossem “muito mais ambiciosos” nos seus esforços para atingir 70% das pessoas em todos os países até meados de 2022, uma meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A poucos dias do ano acabar, o relatório mundial aponta que 98 países não conseguiram cumprir a meta de fim de ano e 40 nações ainda não conseguiram vacinar sequer 10% de sua população. Em países de baixa renda, menos de 4% da população é imunizada.

'Passe livre' para variantes 

Segundo a OMS, as taxas de vacinação nos países de alta renda são 8 vezes maiores do que nos países da África. Nas taxas atuais, o continente não atingirá o limite de 70% até agosto de 2024. “A iniquidade da vacina está dando às variantes um passe livre para correrem soltas - devastando a saúde das pessoas e das economias em todos os cantos do globo”, disse Guterres.

Por  isso, o secretário-geral acredita que a Covid-19 não vai desaparecer. “Está ficando claro que as vacinas por si só não erradicarão a pandemia. As vacinas estão evitando a hospitalização e a morte da maioria das pessoas que as recebem e diminuindo a propagação. Mas as transmissões não mostram sinais de diminuir. Isso é impulsionado pela iniquidade, hesitação e complacência com vacinação”, afirmou.

‘Um ano difícil’ 

Em sua última coletiva de imprensa do ano em Nova Iorque, Guterres disse que o mundo estava “chegando ao fim de um ano difícil”. Ele destacou que em 2021, a pandemia ainda se alastrava, as desigualdades continuavam aumentando, o fardo para os países em desenvolvimento ficava mais pesado e a crise climática continuava sem solução.

“Estou profundamente preocupado. Se as coisas não melhorarem - e melhorarem rápido - teremos tempos ainda mais difíceis pela frente”, alertou o chefe da ONU. Guterres também denunciou os esforços de recuperação “desequilibrados”, que estão acelerando as desigualdades e aumentando o estresse sobre as economias e as sociedades.

Na verdade, lembrou ele, as economias avançadas mobilizaram quase 28% de seu PIB para a recuperação econômica. Para os países de renda média, o investimento caiu para 6,5% e despencou para 1,8% nos países menos desenvolvidos.

Sistema financeiro global alimentando as desigualdades 

O secretário-geral destacou as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) que mostram que o crescimento econômico cumulativo per capita nos próximos cinco anos na África Subsaariana será 75% menor do que no resto do mundo.

Com a inflação atingindo o máximo de 40 anos nos Estados Unidos e crescendo em outros lugares, Guterres espera que as taxas de juros aumentem, impondo maiores restrições fiscais aos países menos desenvolvidos.

“A inadimplência se tornará inevitável para os países de baixa renda que já arcam com custos de empréstimos muito maiores”, argumentou. “O sistema financeiro global de hoje está sobrecarregando as desigualdades e a instabilidade.”

Como resultado, as desigualdades continuam se ampliando, a turbulência social e a polarização continuam crescendo e os riscos continuam aumentando.

Para Guterres, “este é um barril de pólvora para a instabilidade e agitação social” e representa “um perigo claro e presente para as instituições democráticas”. “É hora de assumir claramente a necessidade de reforma do sistema financeiro internacional”, argumentou.

‘Falhas morais’ 

 Ao comentar a resposta à pandemia e o sistema financeiro internacional, o secretário-geral argumentou que eles revelam falhas de governança que também são falhas morais. “Estou determinado que 2022 deve ser o ano em que finalmente abordaremos os déficits em ambos os sistemas de governança”, afirmou.

O secretário-geral tem certeza de que o mundo sabe “como fazer de 2022 um ano novo mais feliz e promissor”, mas disse que todos “devem fazer tudo para que isso aconteça”.

Por fim, o chefe da ONU mencionou sua última visita do ano, que o levará neste sábado ao Líbano, um país “que está dominado por todos esses desafios e coisas piores”.

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