Onda de calor no Brasil torna milhões de pessoas vulneráveis ao estresse térmico
Estudo revela que mais de 38 milhões de brasileiros enfrentam condições extremas de calor, com impactos na saúde
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Uma onda de calor persistente atinge grande parte do Brasil, e um estudo inédito aponta para um aumento constante do estresse térmico ao qual os brasileiros estão expostos. Mais de 38 milhões de pessoas, residentes em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e outras metrópoles com população acima de um milhão, enfrentam até 25 dias por ano de condições adversas que ultrapassam os limites suportáveis pelo corpo humano, gerando riscos à saúde que vão além do desconforto, incluindo ataques cardíacos, agravamento de câncer, diabetes e depressão.
O estudo, conduzido por Renata Libonati do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ, analisou dados de 31 cidades na América do Sul, sendo 13 delas brasileiras. Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e outras passaram a registrar, em média, dez horas adicionais de estresse térmico a cada ano nas últimas quatro décadas. Essa tendência está associada às mudanças climáticas.
A escalada do estresse térmico começou há cerca de 20 anos, e a situação se torna crítica em cidades com menos de um milhão de habitantes, como Teresina, no Piauí. A população se adapta, muitas vezes, trocando atividades diurnas por noturnas para evitar o calor escaldante.
Djacinto dos Santos, um dos autores do estudo, ressalta que o número de brasileiros expostos ao estresse térmico é provavelmente muito maior do que a amostra analisada. A pesquisa utiliza o Índice Climático Térmico Universal (UTCI) para avaliar o conforto fisiológico sob condições adversas, levando em conta a temperatura, umidade do ar, radiação solar e velocidade do vento.
Além do desconforto, a umidade elevada impede a evaporação do suor, tornando a sensação de calor ainda pior. Por outro lado, a baixa umidade do ar prolonga as ondas de calor ao reduzir a chuva, agravando a situação.
O estudo destaca que o calor extremo é um desastre negligenciado, com efeitos que afetam um grande número de pessoas, principalmente as que não têm acesso a ambientes refrigerados. A cientista Solange Ikeda, experiente em ecologia do Pantanal, destaca que o calor intenso prejudica a saúde e o trabalho, sendo uma ameaça séria.
Diante deste cenário, os pesquisadores enfatizam a necessidade de políticas públicas de adaptação e proteção. A Organização Mundial de Saúde aponta o acesso a ambientes refrigerados como uma forma eficaz de aliviar o calor extremo, porém, no Brasil, apenas uma parcela pequena da população possui ar-condicionado.