Overclean: grampo da PF captou investigados confessando destruição de provas após operações
Polícia solicitou a prisão de sete envolvidos - entre eles o Rei do Lixo - por obstrução da Justiça, mas pedido foi negado pela PGR

Foto: Reprodução/Instagram
A Polícia Federal (PF) investiga uma série de tentativas de destruição de provas e manipulação de informações cometidas pelos alvos da operação Overclean, que apura um esquema de fraudes em licitações e desvio de emendas parlamentares.
Segundo a coluna de Malu Gaspar, do jornal O Globo, a PF instalou um grampo e captou conversas entre funcionários sobre a utilização de uma fragmentadora de papeis, dois dias após a prisão do baiano José Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, em 12 de dezembro, nas instalações da MM Limpeza Urbana.
No mesmo dia, a máquina foi acionada por terceiros. A polícia registrou diversas outras ocorrências nos dias seguintes. No dia 16, a escuta gravou um empregado afirmando ter receio em ser incriminado pela Justiça por destruir provas.
Celulares formatados
A PF identificou ainda que no dia 3 de dezembro, durante a primeira fase da Overclean, Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador regional do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), enviou uma mensagem à esposa pedindo que ela apagasse as contas do iCloud de “todos os aparelhos” da família.
No dia seguinte, Clebson Cruz, apontado como operador de campo do grupo, formatou o próprio celular a mando de Alex e Fábio Parente Rezende, também apontados como líderes do esquema.
Além disso, Pedro Alexandre Parente Júnior, pai de Alex e Fábio, foi flagrado em outra escuta ambiental da PF admitindo a necessidade de ocultar materiais sensíveis em uma conversa com Leilane Parente, ex-mulher de Alex, e Priscila Parente, casada com Fábio. Ele cita “uma caixa de documentos comprometedora” e que precisa ir para casa “pegar o que tem e sair”.
Há ainda a existência de indícios de que o Rei do Lixo, os irmãos Parente e o patriarca, Pedro Alexandre, burlaram as restrições de comunicação impostas pela Justiça usando telefones celulares de terceiros.
Os relatos foram apresentados no pedido da PF pela prisão preventiva de Marcos Moura, Alex, Fábio, Pedro Alexandre, Gabriel Mascarenhas Figueiredo Sobral, Vieira e Clebson. No entanto, as solicitações foram negadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Operação Overclean
No dia três deste mês a PF realizou a terceira fase da Overclean, com o afastamento de Bruno Barral, secretário de Educação de Belo Horizonte (MG) e de ACM Neto (União), além 16 mandados de busca e apreensão.
As investigações apontam uma organização criminosa suspeita de atuar em fraudes licitatórias, corrupção, lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos por meio do DNOCS, especialmente a Coordenadoria Estadual da Bahia (CEST-BA). O esquema teria movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão.
Os recursos públicos eram provenientes de emendas parlamentares e convênios para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais. A organização utilizava o superfaturamento de obras e desvios financeiros.
Nas outras duas fases da operação, 16 pessoas foram presas. Dessas, 11 foram soltas por determinação do Tribunal Regional Federal (TRF) em dezembro.
A investigação da PF identificou o “Rei do Lixo”, como um dos 'cabeças' do esquema fraudulento de desvio de emendas parlamentares. Moura é proprietário de um grupo empresarial que atua no ramo de limpeza urbana em dezessete estados do País.
Filiado ao União Brasil, o empresário é ligado ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil). A PF, inclusive, apontou indícios de que era o ex-prefeito quem facilitava os negócios do grupo empresarial por meio de desvios de emendas.
Após os desdobramentos da Operação Overclean apontarem integrantes da cúpula nacional do União Brasil investigados por fraude licitatória e desvio de dinheiro público, as contas do Instituto Índigo, comandado pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto, entraram na mira de dois integrantes do Conselho Fiscal do partido após uma reunião e devem ser encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Menções ao deputado federal Elmar Nascimento levaram a operação Overclean a parar no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, o relator do caso na Corte, ministro Nunes Marques, determinou que a investigação da Polícia Federal deve seguir na Bahia.
Além da relação com o vereador Francisquinho Nascimento, o primo que é um dos presos da operação, Elmar comprou um imóvel avaliado em R$ 3 milhões da empresa da filha do empresário Marcos Moura. O apartamento, em Salvador, é investigado na Operação Overclean.
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