Pacientes com Covid-19 podem ter distúrbios neurológicos, alerta neurocientista
Avanço da doença pode aumentar problemas de memória e depressão
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Foto: Reprodução
O neurocientista Daniel Martins-de-Souza, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) fez um alerta para a ameaça que a Covid-19 pode levar ao crescimento do número de pessoas acometidas por distúrbios neurológicos, depressão e problemas de memória.
Ele é um dos coordenadores do grupo de cientistas que descobriu alterações na estrutura do córtex cerebral, mesmo em pessoas com sintomas leves de Covid-19.
Ao O GLOBO, ele explica como o córtex pode afetar funções fundamentais, como consciência, memória, linguagem, cognição e atenção. "Sabemos que 30% das pessoas com Covid-19 apresentam sintomas neurológicos, isso é muito grave. Pacientes com sintomas leves apresentam alterações na estrutura cortical, e isso está associado à depressão, ansiedade e até mesmo a déficits cognitivos. Com mais gente adoecendo, mais pessoas sofrerão esses problemas", destaca.
As alterações no córtex de pessoas com Covid-19 branda foram identificadas por meio de exames de ressonância magnética. Essa parte do estudo brasileiro foi liderada pela cientista Clarissa Yasuda, do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia/Brainn/Unicamp. Foram analisadas imagens do cérebro de 81 pessoas que tiveram Covid-19 com sintomas leves.
Os exames foram realizados quase dois meses após o surgimento dos primeiros sintomas da Covid-19. E um terço dos participantes ainda apresentava nesse período problemas neurológicos ou neuropsiquiátricos, como ansiedade, fadiga, dor de cabeça, depressão, perda de paladar, de sono e do desejo sexual.
"Esperamos que nosso trabalho sirva como alerta. Nossos dados mostram o quão perigoso é se expor ao coronavírus ou “querer pegar logo isso para ficar livre”. Mas, se nessa de pegar logo, a pessoa sofre uma complicação neurológica? Nossa pesquisa mostra que é melhor fugir dessa ideia. Não dá para predizer quando a “gripezinha” vai se transformar num distúrbio neurológico. Não tem como saber", frisa Martins-de-Souza.