Padre está entre indiciados em inquérito por tentativa de golpe de Estado
José Eduardo é conhecido nas redes sociais por gravar vídeos no Youtube discutindo guerra cultural, aborto e a influência ruim das músicas e divas pop na vida de crianças e adolescentes
Foto: Reprodução/RedesSociais
O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo, está entre os 37 indiciados nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal, no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado no país, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. O religioso é conhecido nas redes sociais por gravar vídeos no Youtube discutindo guerra cultural, aborto e a influência ruim das músicas e divas pop na vida de crianças e adolescentes.
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O padre foi alvo da operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, em fevereiro deste ano. A operação cumpriu 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa de golpe de estado no Brasil, em janeiro do ano passado. O relatório final do inquérito, que tem mais de 800 páginas, foi concluído no início da tarde desta quinta e vai ser entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O padre José Eduardo é citado como integrante do núcleo jurídico do esquema. O núcleo assessorava os membros do suposto plano de golpe de estado na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas, segundo o ministro Alexandre de Moraes.
A Polícia Federal informou que o padre supostamente participou de uma reunião no dia 19 de novembro de 2022, com Filipe Martins e Amauri Feres Saad – outros dois indiciados- como indicam os controles de entrada e saída do Palácio do Planalto. Conforme o inquérito da PF, o encontro fazia parte de uma série de discussões convocadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para "tratativas com militares de alta patente sobre a instalação de um regime de exceção constitucional."
Filipe Martins era ex-assessor especial de Bolsonaro e foi preso pela PF em fevereiro. Durante a operação, o padre José Eduardo foi informado pela PF que terá que cumprir medidas cautelares para não ser preso. Entre elas, a proibição de manter contato com os demais investigados da operação, o compromisso de não se ausentar do país e a entrega de todos os passaportes (nacionais e estrangeiros) no prazo de 24 horas.
Em nota, o advogado Miguel Vidigal afirmou que não recebeu nenhum relatório disponível. "Temos uma nota da Polícia Federal com alguns nomes indiciados."
"Menos de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal, meu cliente vê seu nome estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais que possuem garantia de sigilo e foram realizadas pelo padre".
O ministro Alexandre de Moraes decretou sigilo absoluto sobre quem deu autorização à Polícia Federal de romper o sigilo das investigações. Não há qualquer decisão do magistrado até o momento rompendo tal determinação.
O padre nega a participação na tentativa de golpe de Estado
Segundo o padre, como sacerdote católico "é chamado para auxílio espiritual não apenas dos frequentadores da minha paróquia, mas também de todos aqueles de alhures que espontaneamente me procuram com assuntos dos mais variados temas", e nega a participação de qualquer conspiração contra a Constituição Brasileira.
"Abaixo de Deus, em nosso país, está a Constituição Federal. Portanto, não cooperei nem endossei qualquer ato disruptivo da Constituição. Como professor de teologia moral, sempre ensinei que a lei positiva deve ser obedecida pelos fiéis, dentre os quais humildemente me incluo. Estou inteiramente à disposição da justiça brasileira para qualquer eventual esclarecimento, recordando o dever de toda a sociedade de combater qualquer tipo de intolerância religiosa", frisou.
José Eduardo é integrante da ala conservadora da Igreja Católica, o padre José Eduardo comemora 18 anos de sacerdócio em 2024. Ele é o vigário oficial da 'Paróquia São Domingos’ – o Pregador-, no bairro de Umuarama, em Osasco.
Doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz (Roma, Itália), o religioso grava vídeos no Youtube com críticas às cantoras Madonna e Luiza Sonza, por exemplo, apontando que as letras e o simbolismo de clipes das canções são "uma baixaria que a gente fica realmente constrangido".