Painel Impacto Social da Covid-19 apresenta desafios enfrentados por mulheres, indígenas e moradores de comunidades durante a pandemia
Doença já afetou 161 povos indígenas

Foto: Luciano Abreu/Rede Amazônica
O painel Impactos Sociais da Covid-19, publicado na semana passada pelo Observatório Covid-19, da Fiocruz, projeto em parceria com a Embaixada do Reino Unido no Brasil, apresenta os maiores desafios enfrentados por mulheres, indígenas e moradores de comunidades durante a pandemia. Desde que a covid-19 chegou ao Brasil, no ano passado, 161 povos indígenas foram afetados e quase 900 morreram da doença. Além disso, houve aumento de 27% no número de ligações para o Disque 180, que recebe denúncias de violência contra a mulher.
As estatísticas apontam os principais indicadores observados em cada grupo, além de propor soluções eficientes e medidas preventivas que deveriam ter sido tomadas. Em junho de 2020, a taxa de letalidade de idosos foi de 45% no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, quatro vezes maior que o referente a toda a cidade.
O levantamento, desenvolvido pela Fiocruz e por representantes de movimentos sociais, reúne informações com linguagem acessível para promover a implementação de políticas públicas pelas diversas esferas de governo.
De acordo com o coordenador do eixo de Impactos Sociais do Observatório Covid-19, Gustavo Matta, o painel é fundamental para o momento atual da pandemia, devido a gravidade dos casos. " Nesse momento, a gente considera fundamental porque há uma atenção muito grande por conta de número de casos, número de óbitos, e agora há a questão da vacinação, além de certo receio da população pela desinformação. Há números sobre a pandemia, mas não repercute na crise humanitária e social que já se alastra desde o ano passado e que promete ser profunda e longa, atingindo determinadas populações que já estavam em contexto de desigualdade social. Uma das nossas questões é estabelecer um diálogo entre o poder público e essas populações para poder atender suas necessidades."
Motta também destacou que houve aumento das disparidades sociais nos grupos estudados desde o começo da pandemia. "Nós temos hoje um sistema de informação em saúde muito ruim, que não nos ajuda a identificar imediatamente quais indicadores sociais nós precisaríamos ter para ver que impactos diferentes a pandemia está tendo em diversos grupos sociais. No caso das favelas, conseguimos reunir dados que mostram que a população que mais está morrendo na pandemia são pessoas pobres e negras. Sobre as mulheres, todos os dados mostram o aumento da violência, a sobrecarga da atividade doméstica, ainda mais se levar em conta que a maior parte da força de trabalho em saúde no Brasil são mulheres."
Para ele, a única maneira de assistir a população após a pandemia é pensar nos planos do ponto de vista econômico, para garantir a equidade de gênero, a preservação da população indígena, além da diminuição e mitigação da pobreza.