Pais podem estimular a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças dentro de casa
Especialista afirma que quanto antes a habilidade for estimulada, melhor e mais rápido será o desenvolvimento dos pequenos
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O processo de aprendizagem começa na infância. Especialistas apontam que esse processo acontece como resultado de uma construção pessoal dos bebês e das crianças, em interação com outras crianças de todas as idades, com os adultos e com os elementos da cultura com os quais entram em contato. Os pequenos começam a se desenvolver à medida que se relacionam com as pessoas, seus hábitos e costumes, com a língua e as outras linguagens corporais acumulando conhecimento. Durante a pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, os pequenos tiveram o convívio social reduzido, principalmente, porque as escolas foram fechadas e eles precisam ficar mais tempo em casa.
Nesse momento, os pais e as escolinhas de educação infantil estão adotando algumas estratégias para manter as crianças em atividade, como aulas online curtas, chamadas de vídeo com os professores e brincadeiras que estimulem habilidades específicas. Especialistas apontam que quanto antes a habilidade for estimulada, melhor e mais rápido será o desenvolvimento dos pequenos. Além disso, também chamam atenção para o fato de que algumas capacidades cognitivas e afetivas desenvolvidas na infância como a memória, a fala, o pensamento, a imaginação, os valores, os sentimentos e a autodisciplina serão levadas para o resto da vida. Pensando nisso e nas dificuldades que envolvem a aprendizagem e o desenvolvimento dos pequenos em casa, o Farol da Bahia entrevistou Mariana Bruno Chaves, formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do setor pedagógico do Kumon.
Segundo ela, o aprendizado também pode acontecer em diferentes momentos da rotina: na hora de escovar os dentes, na hora das refeições, na realização de brincadeiras e jogos, sempre pensando no desenvolvimento da autonomia dos pequenos. “As brincadeiras também são importantes e fazem parte do processo de crescimento. Os pais podem aproveitar o tempo em casa para resgatar as histórias da família, incluindo jogos com palavras simples, mas divertidas, como trava-línguas, adivinhas, entre tantas outras”, disse Mariana.
Além disso, a especialista indica que os pais leiam diariamente para os filhos. Segundo ela, a leitura desperta a imaginação, ajuda no desenvolvimento emocional da criança e da empatia, possibilita a construção do pensamento crítico, aproxima e fortalece os vínculos afetivos além de muitas outras vantagens.
Confira a entrevista:
FB: A pandemia aumentou o tempo dos pequenos em frente às telas e impactou o desenvolvimento de muitas crianças. Como os pais podem proporcionar um desenvolvimento saudável para os filhos nesse momento?
Mariana Bruno: Um dos primeiros pontos que podemos destacar é que, mesmo nesse cenário de pandemia, o mais importante é oferecermos um ambiente seguro e acolhedor para as crianças, e não deixar que elas sejam muito influenciadas pelos noticiários. A família precisa ser esse “porto seguro” emocional para a criança. E os pais não precisam se sentir culpados, e consequentemente, frustrados por esse aumento de exposição às telas. Esse aumento foi praticamente inevitável, ainda mais pensando na sobrecarga das famílias que precisam trabalhar e cuidar dos filhos sem uma rede apoio, na qual a escola se enquadra.
Diante desse cenário, o mais indicado é os pais conseguirem dedicar um tempo exclusivo para seus filhos, mesmo que seja um tempo curto, mas que a criança possa se sentir acolhida e amada. E, nesses momentos, podemos diminuir ou não utilizar as telas; pode-se aproveitar esse tempo para brincar com a criança, para pintar, recortar, contar uma história, brincar de faz de conta etc.
Outra possibilidade é aproveitar melhor o próprio tempo em frente às telas! Já que essa é uma situação inevitável, uma solução é explorar o que esse recurso tem de melhor... buscar jogos, brincadeiras e passatempos atrativos, educativos, que instiguem a curiosidade das crianças. Também há uma oferta de vídeos e canais interessantes para todas as idades.
FB: Quais os principais desafios enfrentados para manter ações educativas direcionadas à educação infantil nesse período de pandemia?
Mariana Bruno: O aprendizado é um processo de tentativa e erro, em que a participação positiva dos pais é essencial. Hoje estamos enfrentando muitos desafios, como a dificuldade de variar os estímulos que a criança recebe, já que em casa, com a rotina do dia a dia, e com os pais sobrecarregados, não é tão simples variar intencionalmente as atividades das crianças. É por isso que a tendência às telas aumentou. Outro desafio de algumas famílias é a falta de espaço para brincar mesmo, o que antes era suprido pela escola e pelos passeios em família.
FB: Quais são as atividades que estimulam a habilidade nas crianças?
Mariana Bruno:
Aqui, o lema precisa ser: “deixe a criança tentar!”
Todas as oportunidades são propícias para o aprendizado, a criança aprende o tempo todo. Por isso os pais também não precisam ter a autocobrança de sempre propor atividades intencionais, com conteúdo, tentando cumprir um papel que é da escola. É importante que tudo aconteça de forma leve, tanto para as crianças quanto para os pais.
Por estarmos com as crianças em casa, uma tendência pode ser começar (ou voltar) a fazer tudo por elas. Ajudar a se arrumar, a comer, a estudar... As crianças por sua vez, vão adorar pedir tudo e serem atendidas! Além de ser uma sobrecarga para a família, isso não será nada benéfico para a criança, que, na escola, por exemplo, é bastante incentivada a “se virar sozinha”.
Vale todo tipo de adaptação na casa (espaço físico) e na rotina familiar... deixar os objetos ao alcance das crianças, por exemplo. Isso no guarda-roupa, na geladeira... deixar que a criança abra, escolha, tente fazer sozinha. Também é interessante colocar banquinhos, caixas para subir e alcançar o interruptor da luz, a pia do banheiro. Na hora da lição, da atividade (uma pintura, um desenho), ou até mesmo da refeição... deixar a criança organizar os materiais, arrumar a mesa com os objetos necessários... para todas as idades é possível adaptar. Utensílios de plástico... um copo plástico que já fica perto do filtro de água, por exemplo. Claro que vão acontecer “pequenos desastres”, mas vale a pena! Só se aprende a ter autonomia tentando, errando, refazendo.
FB: Que práticas ajudam no desenvolvimento emocional dos pequenos?
Mariana Bruno:
1. Não faça para seu filho o que ele pode fazer sozinho
Muitas vezes, durante o processo de aprendizagem, pode ser que a criança demore um pouquinho para realizar uma nova atividade, como escovar os próprios dentes, por exemplo. Assim, é comum que, na correria do dia a dia, os pais acabam fazendo a tarefa por ela para poupar tempo. Esta atitude, entretanto, acaba desestimulando a autonomia.
2. Não confunda ajuda com cuidado excessivo
A criança deve ser encorajada, de acordo com a idade, a fazer algumas coisas sozinha com segurança e desenvoltura. Por outro lado, há outras tarefas em que ela precisará de ajuda. Saber identificar cada caso e permitir que a criança caminhe com as próprias pernas é fundamental para desenvolver a independência.
3. Permita que a criança encontre soluções para os próprios problemas
Cada situação que a criança precisa resolver é uma oportunidade para usar a criatividade e pensar sozinha em como solucionar a questão. Este processo de tomada de decisão e escolhas é imprescindível para o futuro dela. Mas não esqueça: deixar a criança perceber que você acredita no seu potencial é muito importante para que ela se sinta confiante.
4. Para se desenvolver, seu filho precisa se sentir seguro
Cuidado com as broncas. Lembre-se que a criança está aprendendo. Quando necessário, fale sem tom negativo ou imposições. No Kumon, reforçamos bastante a importância do elogio. Quando encontra pontos concretos para elogiar, a criança percebe que está fazendo progresso e sente-se encorajada a seguir em frente.
5. Estimule a resiliência
Quando a criança não conseguir realizar uma atividade de imediato, como encaixar um bloco de brinquedo, deixe que ela tente mais vezes. Assim ela compreende que vai ter outras chances, reagindo positivamente e aprendendo com as situações. Confie na capacidade que seu filho possui de resolver os próprios problemas!