'Perdi a vontade de viver', diz mãe de menino de 4 anos morto pela PM em SP
Beatriz da Silva Rosa também perdeu o marido, pai de Ryan, nove meses antes em outra operação da polícia
Foto: Arquivo Pessoal
“Perdi a vontade de viver”. O desabafo é de Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto em um confronto policial no litoral de São Paulo, há um mês. Além do filho, Beatriz também perdeu o marido, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, nove meses antes, durante a Operação Verão.
Na terça-feira (3) foi divulgado o laudo balístico o qual aponta que o tiro que matou Ryan partiu da arma de um policial militar. O disparo saiu de uma espingarda Benelli M3, calibre 12. Na ocasião da morte, segundo o Boletim de Ocorrência, a arma estava com o PM Clóvis Damasceno de Carvalho Junior.
Após perder o filho, a mulher, de 29 anos, se mudou de casa e tenta se recuperar, junto outros dois filhos, João Pedro, de 10 anos, e Manuella, de 7 anos. Em entrevista ao O Globo, ela relatou as dificuldades enfrentadas e disse se sentir vítima de preconceito.
“Porque a gente é pobre e mora na favela, o Ryan tinha que morrer? As crianças têm o direito de ir e vir [...] Todo dia penso em cair, em desistir e não levantar mais”, disse.
No momento em que foi atingido pelo disparo, Ryan estava brincando com aproximadamente outras dez crianças em frente à casa de uma prima. A criança foi atingida na barriga.
Já Leonel, pai de Ryan, era deficiente físico e usava muletas quando foi baleado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), ele foi morto após apontar armas aos PMs durante uma ocorrência de tráfico de drogas. No entanto, a família afirma que ele não conseguiria empunhar uma arma.
A família nunca foi procurada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para falar sobre os casos. Nas últimas semanas, a notícia da morte de Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, estudante de medicina, pela polícia, fez Bia reviver a perda. Na ocasião, Tarcísio lamentou a morte do jovem, ao afirmar que “abusos nunca serão tolerados”.
Quando Ryan morreu, o líder do governo paulista não apenas não comentou o crime como parabenizou o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, dois dias depois do assassinato: "Você tem se saído muito bem e se tornado uma referência para todo o Brasil. Tem feito um trabalho revolucionário. Nos orgulhamos muito. Sou muito grato".
“Apesar de tudo, não consigo guardar raiva, ter ódio. Só quero que a justiça seja feita, que eles ajam na sinceridade. Que eles vão atrás da verdade. Porque não tem como…. Não vai ser feito nada pelo meu filho? A gente vai ter que aguentar a dor e não vai ser feito nada?”, questiona Beatriz.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a morte de Ryan é “rigorosamente” investigado pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Santos e pela Polícia Militar, por meio de inquérito.