Pesquisadores brasileiros defendem que a Covid-19 seja classificada como febre viral trombótica
Estudo foi publicado na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
Foto: AFP
Uma pesquisa publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, defende que a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, deixe de ser classificada como uma Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e passe a ser registrada como uma febre viral trombótica. O estudo, que foi publicado na última terça-feira (13), aponta ainda que, ao contrário do que se pensava no começo da pandemia, a Covid-19 vai muito além dos quadros pulmonares.
O novo coronavírus (Sars-CoV-2) seria o primeiro agente reconhecido por aumentar a formação de coágulos (também chamados de trombos) que podem obstruir a circulação. A Covid-19 vai na contramão de outras doenças virais, como dengue e febre amarela, que podem provocar sangramentos e, por isso, são consideradas febres virais hemorrágicas. De acordo com o artigo, na Holanda, um levantamento identificou complicações ligadas à formação excessiva de coágulos em 16% dos pacientes em unidades de terapia intensiva, incluindo casos de embolia pulmonar, acidente vascular cerebral e trombose venosa. Em uma pesquisa francesa, o índice passou de 40%. Além disso, em pessoas que morreram devido à infecção, análises constataram danos significativos ao endotélio, tecido que reveste os vasos sanguíneos.
Ainda segundo os pesquisadores, a classificação de febre viral trombótica reflete o avanço no conhecimento sobre a doença e pode contribuir para o manejo clínico dos casos e as pesquisas científicas. A mudança não teria impacto nos atuais sistemas de monitoramento que tanto contribuem para a definição de estratégias públicas de saúde.
O levantamento foi feito por dez especialistas em terapia intensiva, cardiologia, hematologia, virologia, patologia, imunologia e biologia molecular, que atuam em seis instituições de assistência médica e pesquisa científica no Brasil, entre elas Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná). Os pesquisadores ressaltam que a Covid-19 é uma doença complexa, com manifestações em diversos órgãos, do cérebro ao aparelho gastrointestinal. A classificação de febre viral trombótica baseia-se no impacto comprovado da infecção sobre a coagulação sanguínea, que traz alto risco de morte.