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Petrô: a arte do bem falar

Confira o artigo de Adriano Azevedo deste domingo (22)

Por Adriano Azevedo
Ás

Petrô: a arte do bem falar

Foto: Reprodução

Carlos Roberto Petrovich é o Inesquecível das minhas escrevivências de hoje. Filho de Maria Medeiros Petrovich e Antônio Petrovich, ele nasceu em 24 de março de 1936 na Cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Petrô, como era carinhosamente chamado, era o típico “cabra” – expressão muito utilizada no Nordeste para se referir aos homens dotados de coragem e vigor – e assim era o velho Petrô: aguerrido e muito preocupado com a educação, Petrô foi um grande incentivador da juventude da minha época. Aluno da primeira turma da Escola de Teatro da UFBA, tornou-se professor desta instituição anos mais tarde.

A sua inquietude fez com que escrevesse peças de teatro e contos afro tendo como base a cultura Iorubá e os ensinamentos do Terreiro. Lembro-me nitidamente de ver e ouvi-lo falar da “geração do terceiro milênio” – o que o deixava muito preocupado. No ano de 1999, fizemos uma viagem para Porto Seguro: Vanda Machado – sua companheira de vida, Cátia e Iraildes fizeram parte da comitiva. Participamos do primeiro Encontro das Tribos Jovens. Um encontro de convivência multicultural, onde diversos grupos étnico-sociais discutiam sobre cultura; tradição; racismo e educação. Às vésperas dos 500 anos do Brasil e a um ano para o início do tal terceiro milênio, Petrô – com o dom da retórica – encantou todos os presentes com suas narrativas e com o compartilhamento de saberes e experiências do teatro e do Terreiro.

Petrô tinha um quartinho aqui no Ilê Axé Opô Afonjá. Fazia questão de estar na roça, mesmo sem nenhuma atividade civil ou religiosa. Não obstante, sempre estava trabalhando como um bom e dedicado filho de Ogun. Do plantio de árvores à leitura de textos, Petrô sempre estava em movimento. Em 1988, Petrô foi escolhido por Ogun – manifestado em tia Celenita – outra Inesquecível sobre quem tenho poucas informações bibliográficas para rememorá-la – mas que, desde já, segue em minha lista dos Inesquecíveis com os quais tive a honra de conviver. Anos depois, Petrô foi confirmado aos pés de Ogun como Ogan Òsobárò – Orukó (nome) que se funde à essência de Petrô. Òsobárò significa aquele que tem o dom da fala e sabe aconselhar. 

No ano 2000, tive o prazer em participar de uma peça teatral dirigida por Petrô intitulada: “O menino que era Rei e não sabia”, que contava a história de Xangô menino que, no auge da sua juventude, perdia a memória. Em decadência, o reinado precisava de sua presença e liderança. O enredo permeado por narrativas em cenário teatral onde a educação é o caminho para transformação. Na dramaturgia encenada, o empoderamento negro era fomentado em locais de fala e poder. Em determinado momento, o menino Xangô retoma a memória e reina com grandiosidade seu reinado. Sempre com a perspectiva do cuidado com o próximo, o velho Petrô trazia consigo desde ações de promoção à emancipação do povo negro, fosse por meio de peças teatrais ou pelo simples bate papo no fim de tarde aqui na roça.

Aos vinte e sete dias do mês de abril de 2005 as cortinas se fecham, e Petrô segue com seu espetáculo no Orun – Céu, deixando uma lacuna imensurável no Opô Afonjá e no cenário teatral e cinematográfico. 

Salve Antônio Conselheiro, o Taumaturgo dos Sertões;
Salve o menino que era Rei e não sabia;
Salve Òsobárò - Aquele que tem o dom da fala e que também sabe aconselhar.
Salve Petrô!

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