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PF liga ataque de Bolsonaro às urnas a trama para dar golpe de Estado em 2022

No relatório de 884 páginas em que indicia 37 pessoas

Por FolhaPress
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PF liga ataque de Bolsonaro às urnas a trama para dar golpe de Estado em 2022

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A Polícia Federal faz uma conexão entre os ataques ao sistema eleitoral difundidos por Jair Bolsonaro (PL) desde o primeiro ano de governo, em 2019, e a trama golpista descrita no relatório final da investigação divulgado nesta terça-feira (26).

No relatório de 884 páginas em que indicia 37 pessoas, a PF traça uma linha do tempo para afirmar que o ex-presidente planejou, atuou e teve domínio direto sobre os atos da organização criminosa que tentou um golpe de Estado no país.

Durante o governo, o ataque ao sistema eleitoral -o mesmo pelo qual Bolsonaro havia sido eleito durante toda sua vida política- foi perpetrado, segundo provas reunidas pela investigação, pelo uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), do Ministério da Defesa e de um núcleo chamado de Gabinete do Ódio, no Palácio do Planalto.

Assim, de acordo com a PF, essa narrativa não seria interpretada como algo casuístico e, após eventual derrota nas eleições seguintes, legitimaria "os atos que se sucederam" à vitória de Lula (PT).

Em outros fatos elencados pela polícia, foi o próprio Bolsonaro quem assumiu o protagonismo, como na manifestação do 7 de Setembro de 2021, em que afirmou que só sairia da Presidência preso ou morto, ou mesmo na reunião ministerial de 2022 --cuja íntegra estava no computador de seu auxiliar Mauro Cid, hoje delator.

Os episódios que apontam para um plano concreto de golpe ganham ainda mais volume no relatório a partir da vitória de Lula, em 30 de outubro de 2022. Mensagens e documentos apreendidos na reta final do governo indicam, de acordo com a PF, que Bolsonaro discutiu decretos de ruptura com militares e pediu apoio antes de deixar o país.
 

VEJA A LINHA DO TEMPO DOS PRINCIPAIS FATOS, DE ACORDO COM A INVESTIGAÇÃO:
Criação e difusão de informações falsas sobre a segurança das urnas (2019):

A investigação da Polícia Federal afirma que a organização criminosa "construiu e propagou a narrativa de vulnerabilidades e fraudes no sistema eletrônico de votação" desde o primeiro ano do governo Bolsonaro.
Plano para fuga de Bolsonaro (22 de março de 2021):
A PF localizou uma apresentação com cinco slides em um computador apreendido com Mauro Cid "que previa o uso do dispositivo denominado RAFE/LAFE" a favor de Bolsonaro em caso de descumprimento de ordem judicial do STF. Segundo o Glossário de Termos e Expressões para Uso no Exército, RAFE é a sigla para Rede de Auxílio à Fuga e Evasão e LAFE, Linha de Auxílio à Fuga e Evasão.
Bolsonaro faz live com profusão de mentiras sobre urnas (29 de julho de 2021):
Ao lado do então ministro da Justiça, Anderson Torres, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo para apresentar supostas provas de fraude nas urnas eletrônicas. O ex-presidente, porém, abordou apenas teorias conspiratórias já desmentidas e que circulavam havia anos na internet.
Bolsonaro ameaça STF e ataca sistema eleitoral (7 de setembro de 2021):
Ao participar de manifestações em Brasília e São Paulo, Bolsonaro fez ameaças golpistas contra o STF, incentivou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairia morto da presidência da República. A PF diz que o ex-presidente reiterou seu modus operandi e "atacou o sistema eletrônico de votação, dizendo que ‘não poderia participar de uma farsa como essa patrocinada pelo Tribunal Superior Eleitoral".
Reunião ministerial a três meses das eleições (5 de julho de 2022):
A PF também destaca a reunião ministerial de 5 de julho de 2022, 13 dias antes da conversa de Bolsonaro com embaixadores estrangeiros. O vídeo, na íntegra, estava no computador de Mauro Cid. O encontro teve ataques às urnas e ao STF, além de mentiras sobre Lula. O general Augusto Heleno também sugeriu infiltrar agentes da Abin nas campanhas adversárias.
Manifestantes se instalam em frente ao QG do Exército (2 de novembro de 2022):
Mensagens trocadas por Mario Fernandes, então número dois da Secretaria-Geral da Presidência, indicam que o militar mantinha contato direto com manifestantes que ficaram mais de dois meses em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Em conversa com Mauro Cid, ele diz que tem "procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG".
Impressão do plano para matar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes (9 de novembro de 2022):
A investigação indica que minutos após o documento batizado de "Punhal Verde e Amarelo" ser impresso por Mario Fernandes no Palácio do Planalto, em 9 de novembro de 2022, o militar foi até a residência oficial para conversar com Bolsonaro.
"Não percam a fé" (18 de novembro de 2022):
O ex-candidato a vice Walter Braga Netto (PL) cumprimenta apoiadores que esperavam o então presidente no cercadinho do Palácio da Alvorada e diz: "Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar para vocês agora".
PL contesta resultado das eleições ao TSE (22 de novembro de 2022):
Material apreendido com a empresa que prestou serviço ao Instituto Voto Legal (contratado pelo PL) indica que os investigados sabiam que os argumentos que embasaram o pedido eram inconsistentes. A PF afirma que Bolsonaro e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, insistiram na tese, mesmo com chances baixas de sucesso, para legitimar o golpe de Estado.
Carta ao comandante do Exército (fim de novembro de 2022 - 26 a 29 de novembro):
Trocas de mensagens e depoimentos transcritos pela investigação indicam que Bolsonaro soube e deu aval à carta golpista assinada por oficiais do Exército no final de novembro de 2022. Segundo o relatório, era "uma estratégia para incitar os militares e pressionar o Comando do Exército a aderir a ruptura institucional".
Ajuste no plano Punhal Verde e Amarelo (6 de dezembro de 2022):
Mario Fernandes imprime novamente o documento após "ajuste", na mesma hora em que o tenente-coronel Rafael de Oliveira e Bolsonaro estavam no Palácio do Planalto. No dia seguinte, Oliveira começou a execução dos planos golpistas com a compra de um celular descartável, por meio do qual participou de grupo para a operacionalização da execução das autoridades.
Reunião na residência oficial sobre a minuta golpista (7 de dezembro de 2022):
A PF diz que, "após ter realizado pessoalmente ajustes na minuta do decreto presidencial, Jair Bolsonaro convocou os comandantes das Forças Militares no Palácio da Alvorada para apresentar o documento e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano de abolição do Estado democrático".
Bolsonaro se reúne com chefe de comando e faz 1º discurso após derrota (9 de dezembro de 2022):
Diante da recusa dos comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, para executar o plano golpista, Bolsonaro se reúne com o general Estevam Theóphilo, comandante do Comando de Operações Terrestres. Ele aceitou executar as ações, caso a minuta golpista fosse assinada. Naquela tarde, Bolsonaro quebrou o silêncio e discursou pela primeira vez após a derrota para Lula. Em áudio enviado a Freire Gomes no mesmo dia, Cid diz que Bolsonaro "enxugou o decreto".
"Cenário caótico" (10 de dezembro de 2022):
Contas de WhatsApp vinculadas a Mario Fernandes encaminham mensagens com um comunicado para criar um "cenário caótico" em Brasília em 10 de dezembro de 2022 (dois dias antes da diplomação de Lula) e forçar a convocação das Forças Armadas. A investigação não explica por que a manifestação não ocorreu.
Tentativa de invasão da sede da PF (12 de dezembro de 2022):
Bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, em Brasília, incendiaram carros e ônibus, espalharam botijões de gás pela cidade e cercaram o hotel onde Lula estava hospedado. Naquele dia, houve a diplomação de Lula pela Justiça Eleitoral.
Operação "Copa 2022" (15 de dezembro de 2022):
Grupo de militares se prepara para colocar em ação um plano para prender ou matar o ministro Alexandre de Moraes, conforme o plano Punhal Verde e Amarelo. A operação foi cancelada.
Pressão e ataques aos comandantes do Exército e da Aeronáutica (dezembro de 2022):
Na reta final do governo Bolsonaro, o grupo aumentou a pressão sobre os comandantes do Exército, Freire Gomes, da Aeronáutica, Baptista Júnior, e aos generais que se recusavam a aderir à tentativa de golpe inclusive com ataques orquestrados. Em uma das mensagens apreendidas, Braga Netto diz, em 15 de dezembro: "Senta o pau no Batista Junior".
"Ainda tem algo bom para acontecer?" (4 de janeiro de 2023):
Três dias após a posse de Lula e quatro dias antes do ataque golpista de 8 de janeiro, o tenente-coronel Sérgio Cavaliere, um dos 37 indiciados na apuração, pergunta a Mauro Cid: "Ainda tem algo para acontecer?". Cid encaminha duas respostas, que foram apagadas. Diante do conteúdo das mensagens apagadas, Cavaliere indaga: "Coisa boa ou coisa horrível?" e em seguida diz: "Bom". Cid, em resposta à pergunta, diz: "Depende para quem. Para o Brasil é boa".
 

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