Pobreza menstrual: um problema que pode se agravar durante a pandemia da Covid-19
Entenda como a falta de acesso a absorventes e saneamento básico impacta a vida de meninas e mulheres ao redor do mundo
Foto: Getty Images
A pobreza menstrual é, infelizmente, um problema que atinge muitas meninas e mulheres ao redor do mundo. Cerca de 1,8 bilhão de pessoas menstruam e milhões delas não contam com instalações adequadas para lidar com o período menstrual, de acordo com a Plan International, ONG que defende os direitos de crianças, adolescentes e jovens pelo mundo e tem como foco principal promover a igualdade de gênero. Essa realidade tende a se agravar em um momento de pandemia devido à crise financeira, principalmente, que impacta no emprego e na renda de milhares de famílias.
Esse problema afeta, em sua maioria, meninas negras periféricas. Além disso, moradoras de rua, de abrigos ou campos de refugiados enfrentam, mês a mês, as dificuldades de menstruar sem contar com produtos adequados, água encanada e um banheiro com privacidade. O impacto da falta de itens básicos de higiene vai além do constrangimento e do desconforto. Muitas meninas e mulheres ao redor do mundo arriscam a própria saúde ao improvisar absorventes com retalhos de panos sujos, sacolas plásticas e jornais. Algumas meninas, por exemplo, deixam de ir à escola durante o período menstrual porque não contam com instalações ou materiais necessários. Essas faltas prejudicam o desempenho escolar, a saúde e o futuro dessas meninas.
Na última segunda-feira (26), o perfil da Intimus Brasil no Instagram promoveu uma live com a participação das meninas da Casa do Novo Ciclo, embaixadoras da Intimus que compartilham e debatem na internet experiências relacionadas a questões da saúde menstrual, para dialogar sobre a pobreza menstrual e seu impacto, especialmente nos países latino-americanos. Durante o evento, foram debatidos os estigmas acerca da menstruação e, além disso, o bate-papo falou sobre a importância de tornar a pobreza menstrual um problema conhecido. A Facilitadora de Projetos Plan International Brasil, Joceline Silva, disse, durante o evento virtual, que a pobreza menstrual é uma questão silenciada e falar sobre esse problema é uma forma importante de tentar fomentar uma transformação mais ampla. “Algumas pessoas não compreendem o que é a pobreza menstrual. Então, imagine que você é uma pessoa que menstrua e não tem um insumo básico para passar por esse processo. Você então vai usar um jornal, miolo de pão, panos sujos ou reutilizados e isso se chama escassez. Além disso, você não tem água e nem sabonete. Tudo isso são itens básicos, que não são vistos como básicos”, disse.
"Então quando a gente pensa na saúde menstrual, pensamos também na escassez. É importante pensar nisso como uma questão social. Nem todo mundo tem acesso ao insumo, nem todo mundo tem formas de passar por esse período de uma forma saudável. Começamos a pensar nisso como uma discussão mais profunda. É preciso pensar em quantas pessoas estão nessa situação, quem são elas, onde esse público mora e o que está faltando. Pensar no que falta para solucionar esse problema socialmente. Dentro da Plan nós discutimos sobre isso, sobre essas pessoas que são afetadas pela pobreza menstrual. Pensamos nisso como um marcador da desigualdade”, completou.
Já a gerente da marca Intimus, Fernanda Dayan, disse que trazer o conhecimento e gerar uma discussão é também uma forma de conseguir encontrar uma solução e mudar essa realidade. “A Intimus tem como missão fazer com que a menstruação ou com que os estigmas negativos que cercam a menstruação não sejam um empecilho ao progresso feminino”, disse.
Veja:
Dados
Segundo os dados da ONU Mulheres, 12,5% das meninas e mulheres ao redor do mundo vivem na pobreza e o custo alto dos produtos de higiene as impede de acessar meios adequados e seguros para gerenciar seus períodos de menstruação, como o uso de absorventes íntimos internos e externos, coletores ou calcinhas absorventes. Além disso, 1,25 bilhão de meninas e mulheres ao redor do mundo não têm acesso a banheiros seguros e privados e 526 milhões sequer tem banheiros disponíveis onde vivem.
A ONU alerta também que o problema não é restrito aos países mais pobres. Um estudo recente feito nos Estados Unidos mostrou que uma em cada cinco adolescentes no país teve dificuldades ou sequer conseguiu comprar produtos de higiene menstrual e mais de 84% das estudantes americanas perderam, ou conhecem alguém que perdeu aulas porque não tinha acesso a esses itens.
No Brasil, uma pesquisa online feita pela Sempre Livre em 2018 com 9.062 brasileiras de 12 a 25 anos de idade revelou que, na faixa de 12 a 14 anos, 22% afirmam não ter acesso a produtos confiáveis relacionados à menstruação porque não têm dinheiro ou porque eles não são vendidos perto de casa.
Projetos
Fomentando o debate acerca das questões que cercam a menstruação, a Intimus apoia vários projetos de educação e higiene menstrual da Plan International, como a ação Higiene Menstrual, que busca garantir que meninas e mulheres possam administrar os períodos menstruais com mais confiança e livres de estigmas, seja através da criação de espaços sanitários acolhedores e melhoria do acesso a produtos de higiene menstrual ou por meio de campanhas para promover a conversa.
Além disso, a Intimus também apoia a WASH United, ONG idealizadora do Dia da Higiene Menstrual, comemorado em 28 de maio em todo o mundo. A ação tem o objetivo de incentivar a conscientização e mudar as normas sociais negativas em torno da menstruação.