Ponte Salvador-Itaparica: em audiência pública, candomblecistas criticam falta de diálogo do Governo e pedem respeito ao Sagrado; assista
Para o sacerdote do terreiro Tuntum Olukotun, Miguel Sobaloju, a construção da ponte trará grandes prejuízos para a Ilha

Foto: Farol da Bahia
Durante uma audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal (MPF), nesta quarta-feira (11), com o objetivo de debater os impactos da construção da Ponte Salvador-Itaparica sobre comunidades tradicionais, candomblecistas se posicionaram contra a falta de diálogo do Governo do Estado para a implementação da obra.
Em novembro de 2023, no Podcast Podomblé - produção da FB Comunicação, o Iaô – Dofono de Xangô, pesquisador do candomblé da Ilha de Itaparica e professor, Moisés dos Palmares alertou que os objetivos da construção não eram divulgados e que a finalidade 'não é para diminuir tempo de espera'.
Na audiência desta quarta, a Ekedy Sinha, do Terreiro Casa Branca, pontuou que, por Itaparica ser um local muito importante para as comunidades tradicionais, elas deveriam ter sido consultadas quando a obra estava sendo planejada. "As mudanças precisam vir, mas a gente precisa ser consultado. A gente precisa ser respeitado. Saber o que vai fazer, como é que vai se fazer uma obra neste porte. E as comunidades tradicionais que têm seus sagrados em determinados lugares, a gente não sabe se vai mexer, se não vai", afirmou.
"A gente quer que o nosso sagrado continue sagrado. A gente precisa desse sagrado para viver", declarou.
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Já o sacerdote do terreiro Tuntum Olukotun, Miguel Sobaloju, ressaltou que ninguém é melhor que os nativos da ilha para apontar os impactos que a obra da ponte causará.
Pescador e filho de pescador, Miguel apontou problemas que a comunidade da Ilha de Itaparica enfrenta, como a ausência de um hospital. "Tem que se deslocar para ir para Valença, para Salvador", afirmou.
Além disso, Miguel afirmou que o cemitério da localidade não possui mais vagas para enterro em cova. "Até onde se enterrar no chão, já não está tendo", disse.
Ele explicou que, para as pessoas de candomblé, é importante ser sepultado na terra. "Não podemos ser enterrados em carneira. A gente precisa ser enterrado na terra. Porque é de lá que a gente veio, de lá que a gente volta. E hoje já se tem essa dificuldade", declarou.
O sacerdote também ressaltou que, com a construção da ponte, a população da ilha deve aumentar e, assim, resultar em problemas ambientais. "A gente precisa de folha, a gente precisa de rio, a gente precisa de cachoeira. A gente precisa muito das matas", pontuou.
Veja declarações: