Por que os brasileiros são apaixonados por reality shows?
Lilian Solá Santiago, coordenadora do curso de Cinema do Ceunsp, explica os motivos da população se interessar tanto por programas de entretenimento
Foto: TV Globo/Divulgação
Seja no streaming ou na TV convencional, o brasileiro está sempre assistindo algo para se entreter. E uma atração que cativa os telespectadores todos anos cada vez mais e garante ótimos índices de audiência às emissoras são os reality shows. Mas por que será que a população é tão apaixonada por esse formato de programa?
Segundo a coordenadora do curso de Cinema do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio – CEUNSP, Profa. Ma. Lilian Solá Santiago, os principais ingredientes utilizados para prender a atenção do público são identificação e suspense. “Primeiro, é preciso que o público se identifique com ao menos um dos personagens do programa, seja ele um participante ou mesmo apresentador. A partir daí, é necessário criar barreiras para a progressão deste personagem, gerando o suspense”, explica.
Esse suspense, segundo a professora, teria mais a ver com a necessidade de encontrar respostas e satisfazer expectativas do que com gerar um medo em quem assiste esse tipo de programa.
Assim também é possível pensar que o reality show e o cinema apresentam algumas relações em comum, entre elas, o objetivo de contar histórias. Para a especialista, a relação é ainda mais forte quando se compara o reality com o cinema documentário, que se insere no grupo da não-ficção. “A diferença básica entre não-ficção e ficção é que a primeira trabalha com personagens reais e a segunda com personagens inventados”, afirma, dizendo ainda que os realities são um tipo de documentário.
Lilian enfatiza que na ficção, o roteirista planeja o filme detalhadamente no papel para depois ser interpretado pela equipe, liderada pelo diretor, em forma audiovisual. Na não-ficção, como realities, a roteirização prévia é muito menos detalhada: os reality shows elaboram situações para que as histórias possam acontecer, como uma atividade, um jogo, um desafio ou uma entrevista, mais do que contá-las.
O roteirista pode criar estímulos, mas não consegue prever o que ocorrerá de fato. “É por isso que, na não-ficção, uma etapa muito importante no processo de roteirização se dá depois das gravações. Neste tipo de audiovisual, é na ilha de edição que, a partir dos registros do set e do material captado, roteiristas e editores de imagem verdadeiramente constroem a história”, explica.
Todos os elementos do cinema, como a narrativa, são considerados na produção dos realities: o formato do programa e as situações específicas criadas para cada episódio precisam gerar histórias capazes de engajar o público, e estes elementos estão presentes tanto nos filmes de ficção como nos reais.
Por fim, a especialista afirma que a presença de conflito e obstáculos, além da condução dos espectadores pela história através da emoção e ritmo ao encadeamento da história, fazem com que os espectadores torçam pelo resultado de um ou mais personagens e acompanhem o programa todos os dias.
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