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Salvador

Prefeitura descarta equipamento de mais de 10 milhões com menos de 4 anos de uso

Arena Multiuso substituirá Parque dos Ventos

Por Da Redação
Ás

Prefeitura descarta equipamento de mais de 10 milhões com menos de 4 anos de uso

Foto: Farol da Bahia

O Parque dos Ventos foi inaugurado com a proposta de funcionar como um centro esportivo voltado para atletas profissionais e amadores, mas acumulou ao longo dos anos diversas reclamações, como abandono e falta de segurança. Agora, apenas quatro anos após ser inaugurado pela Prefeitura de Salvador, o parque localizado na orla da Boca do Rio, será substituído por outro equipamento, a Arena Multiuso, que teve as obras autorizadas pelo prefeito de Salvador, Bruno Reis, no início do mês de abril.

A substituição e, consequentemente, o curto período de funcionamento do parque público divide a opinião de frequentadores assíduos do parque e também daqueles que iam, eventualmente, desfrutar das opções de lazer disponibilizados pelo espaço público. O Farol da Bahia checou de perto a situação do parque e ouviu as principais queixas da população.

Elogiado, mas nem tanto

O Parque dos Ventos nasceu, oficialmente, no dia 6 de março de 2020. Era uma sexta-feira, quando a população soteropolitana conheceu de perto aquele que prometia ser um equipamento poliesportivo completo. À época, a inauguração contou com a presença de diversas autoridades, como a do então prefeito da cidade, ACM Neto, do vice, Bruno Reis, e também a do secretário da Sustentabilidade, Inovação e Resiliência (Secis), André Fraga.

Com um investimento de R$ 10 milhões, o equipamento foi concebido como um centro esportivo voltado para atletas profissionais e amadores. Nele, há uma estrutura para a prática de esportes como skate, rapel e escalada, além de ciclismo, pump track e parkour. O espaço dispõe ainda de parque infantil, tabelas de basquete, quadra de vôlei, área para patins, área para contemplação e piquenique, anfiteatro com capacidade para até 150 pessoas, além de passeio para a realização de caminhada.

Com uma iluminação completamente em LED, o ambiente oferecia também a promessa de segurança contínua, com a presença constante da Guarda Municipal, controle de acesso na portaria e monitoramento 24 horas por dia. No entanto, ao longo do tempo, reclamações recorrentes sobre a falta de segurança, e até mesmo casos de assaltos colocaram em cheque todo esse investimento e afastou os soteropolitanos e turistas do local.

Durante uma visita ao parque, a reportagem do Farol da Bahia identificou uma série de questões preocupantes, incluindo sanitários e bebedouros fora de operação, cercas danificadas e violadas, vegetação alta, acúmulo de entulho em várias áreas e estruturas danificadas ou alvo de vandalismo. Os quiosques, que prometiam um trabalho digno para vendedores locais, também encontram-se em um estado de total abandono.

“Costumo vir aqui com frequência para passear com os cachorros e é nítido o abandono deste lugar. Os quiosques, os bebedouros, nada funciona. Por estar próximo ao mar, seria necessário um cuidado maior, mas não é o que acontece”, afirma a vendedora Daniela Santos.

Há quem ainda se queixe do desperdício de verba pública e da falta de interesse das autoridades competentes em manter um equipamento funcional. “Ano passado eles realizaram uma manutenção aqui [...] são intervenções que menos de um ano depois ninguém vê nada do que foi feito. Além disso, não adianta simplesmente construir e largar as traças como está hoje. Não têm o cuidado de colocar uma programação cultural para as crianças e pessoas que frequentam aqui. É triste”, reclama um funcionário da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) que não quis ser identificado.

Além dos desafios já existentes, o Parque dos Ventos enfrenta outros dois problemas preocupantes: o abandono de animais e o consumo de drogas a céu aberto. “Em duas semanas, três animais já foram abandonados aqui dentro. Além disso, os usuários de drogas estão invadindo aqui para fazer o consumo de drogas. Acredito que são eles, inclusive, que estão realizando esses assaltos relatados aqui dentro”, conta um outro funcionário do local que não quis ser identificado.

A (contestada) Arena

Mas esses são problemas que, ao que tudo indica, deixarão de existir em breve. Não porque haverá uma requalificação da região, mas sim porque o prefeito Bruno Reis assinou, no primeiro dia do mês de abril, a ordem de serviço para início das obras da Arena Esportiva Salvador Governador Antônio Balbino, localizado onde hoje está implantado o Parque dos Ventos.

Com um investimento de R$ 163 milhões, o espaço terá capacidade para acolher mais de 12 mil espectadores e pretende restabelecer a condição de Salvador como um polo atrativo para grandes eventos. Um dos principais argumentos para sua construção é, inclusive, a carência de uma estrutura de grande porte capaz de sediar eventos esportivos e musicais na cidade.

A escolha do local, no entanto, não parece ter agradado a população que costuma frequentar essa região da Boca do Rio. “Eu penso que a Arena poderia ser construída em um outro espaço. A população daqui é carente de espaços de lazer como esse. Aqui nós já temos o Centro de Convenções, então porque não distribuir isso de forma que não impacte espaços públicos como esse?”, questiona Renata Santos, moradora que costuma ir ao Parque dos Ventos nas horas vagas.

Quem também parece não ter gostado nada da novidade é o motorista de aplicativo Ronaldo Menezes. Ele, que costuma utilizar a área verde do local para se divertir ao lado da esposa, se mostra receoso com a implantação da arena. “Apesar dos inúmeros problemas, é um lugar gratuito e para todos. E com a arena, todos terão esse acesso também? Ou vão colocar alguma empresa para administrar e faturar como costumam fazer?”.

Apesar disso, o profissional diz torcer para o sucesso do empreendimento. “Salvador precisa. Não estou aqui torcendo contra. Só espero que não deixem de olhar para quem realmente precisa desses investimentos”, completa.

Questionamentos sem respostas

Outro ponto crítico em relação à implantação da nova Arena Multiuso de Salvador diz respeito ao impacto na mobilidade do entorno, especialmente ao considerar que a sua construção implicará na presença de dois grandes empreendimentos ao longo da Av. Octávio Mangabeira, com capacidade para atrair um significativo volume de pessoas e, consequentemente, veículos.

Para Vanderlei Menezes, especialista em mobilidade urbana e CEO da Logimob, empresa que se debruça em soluções de mobilidade urbana, é preciso que haja um estudo prévio do impacto da chegada desse novo equipamento, a fim de mitigar os riscos decorrentes dos impactos gerados no trânsito.

"Esses estudos são importantes, sobretudo porque estamos falando de uma área importante, com a presença de ciclistas e pedestres. Além disso, eles ajudam a evitar problemas como congestionamentos, além do aumento da poluição sonora e do ar, problemas que afetam as comunidades do entorno", explica o profissional.

O Farol da Bahia buscou respostas da Prefeitura, através das secretarias Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), Mobilidade (Semob) e Comunicação (Secom), em relação a alguns questionamentos levantados durante a reportagem, como a possibilidade de uma programação gratuita para que a população possa desfrutar do novo equipamento, bem como sobre a realização de um estudo técnico de mobilidade. No entanto, até o fechamento desta reportagem, não obteve resposta.

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