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Presidente da Petrobras quer processar a médica que a socorreu de desmaio em avião

O fato só veio à tona por conta da falha do kit de emergência da GOL.

Ás

Atualizado
Presidente da Petrobras quer processar a médica que a socorreu de desmaio em avião

Foto: Arquivo pessoal

“Isso não vai ficar assim. Devo processar a médica. Já peguei o CRM dela no relatório da Gol. Eu já estava sendo socorrida por um médico que estava sentado próximo. Não sei o que ela queria. Veio correndo do fundo do avião sem ter sido chamada pela tripulação". Foi a primeira vez que a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, falou sobre o desmaio que sofreu no avião da Gol Linhas Aéreas, no último dia 16 de fevereiro, publicado com exclusividade pelo jornalista Cláudio Magnavita, do Correio da Manhã.

Ao invés de confirmar ou negar o fato, a área de imprensa da Petrobras tentou driblar a apuração da coluna, através da Paula Almada, que não confirmou e nem negou se a presidente estava a bordo daquele voo e se passou mal. O assessor especial da presidência da Petrobras, Wagner Victer, acionado pela coluna, tentou, nas suas próprias palavras, "matar" a reportagem oferecendo informações de normalidades e evitando confirmar a viagem privada e o desmaio. Foi na apuração que o jornal descobriu que, em uma viagem de férias à Grécia, meses antes de assumir a Petrobras, quando ainda estava na Assembleia Legislativa do Rio - Alerj, Magda Chambriard esteve por semanas em uma UTI por um problema de saúde até então não revelado.

Sobre o silêncio cooperativo da Petrobras em relação ao seu desmaio a bordo, ela disse: "Era uma viagem particular e a empresa não deveria responder o problema que tive a bordo do voo. Eu demitiria quem fizesse isso", afirmou à coluna, por ironia do destino, a bordo de um avião da mesma linha aérea, no G3 1733, que decolou às 15h05 do dia 01 de abril do Aeroporto Santos Dumont, com destino a Brasília, onde teria uma audiência com o presidente Lula. Ela estava acompanhada pelo diretor William França da Silva, sentado na 5D e um segurança, sentado na 5E.

Magda e o jornalista Cláudio Magnavita sentaram na mesma fileira, ela no assento 5C e ele no 5A e conversaram durante o voo. A presidente alegou que o seu desmaio teria sido um quadro de hipoglicemia, como consequência de um regime alimentar severo e acrescentou: "Eu fico horas sem me alimentar. Esta semana a minha secretária entrou na minha sala com um lanche às 16 horas porque até aquela hora não tinha comido nada".

Incidente grave

O fato só veio à tona por conta da falha do kit de emergência da GOL. O aparelho de pressão não funcionava e os médicos não conseguiam localizar o pulso da paciente. A falha do equipamento foi incluída pelos médicos no formulário de atendimento fornecido pela aérea. O incidente levou a Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC a questionar a GOL, que realizou uma revisão em todos os kits médicos a bordo da sua frota.

Agora confirmado pela própria presidente da Petrobras, o fato resultou em um manto de silêncio da companhia. Como empresa de capital aberto, com ações comercializadas nas bolsas de valores, inclusive na de Nova Iorque, a postura da Petrobras deveria ser de transparência absoluta e não a de omitir o fato ocorrido de forma pública, no trajeto de um Boeing 737-800 da GOL, na manhã do domingo dia 16 de fevereiro, no trajeto Florianópolis - Galeão.

Como a coluna publicou, a presidente da Petrobras embarcou na sexta, 14/02, às 18 horas, no Galeão, após um voo de longo curso, que saiu da Índia e passou pela Holanda, com mais de 30 horas, somando as duas etapas. No próprio sábado, embarcou para Florianópolis para uma agenda familiar e no dia seguinte embarcou às 9h50 no voo da GOL G3 2023, decolando com destino ao Rio.

No voo, Magda Chambriard foi acomodada nas últimas poltronas, já que não havia lugares disponíveis na classe Comfort - as cinco primeiras filas do Boeing com mais espaço e destinadas aos passageiros Diamante do programa Smiles da Companhia. Com o embarque finalizado, sobrou algumas poltronas nesta seção e os comissários foram convidá-la a mudar de assento, sendo alojada na fileira 2.

Ela viajava em companhia de uma das suas duas filhas (uma delas residente na Austrália) e de um rapaz de terno que aparentava ter quarenta anos. O voo decolou no horário e, durante o trajeto, o susto: a presidente da Petrobras desmaiou sobre a bandeja aberta e ficou completamente sem sentidos.

A coluna informou que foi estourado um pânico na aeronave e solicitada a presença de médicos. Por coincidência, uma neurologista carioca, estava a bordo, e sentada mais próximo um outro médico, um cirurgião pediátrico. Os dois atenderam o alerta de emergência médica e foram socorrer a passageira, sem saber de quem se tratava.

Magda foi removida do seu assento, colocada no piso do avião e começou o trabalho para reanimá-la. A filha entrou em colapso e dizia que iria desmaiar, os dois passageiros médicos tiveram de enfrentar a hostilidade de um comissário que cobrava a identificação dos dois samaritanos. O rapaz segurava o braço da paciente, o que impedia os médicos de medirem a pressão, que estava imperceptível. A senhora estava desfalecida, com baixos sinais vitais. Foi entregue o kit de primeiros socorros, nele o medidor de pressão estava defeituoso e não funcionava. Os médicos haviam elevado os membros inferiores para oxigenar o cérebro e pouco a pouco ela começou a reagir.

Segundo Magda, "me fizeram beber um suco de laranja e eu comecei a melhorar. Eu estava, porém, consciente e me lembro que a bombinha do aparelho de pressão não funcionava".

Questionada sobre o equipamento defeituoso, a companhia aérea enviou a seguinte nota ao Correio da Manhã, que novamente publicamos: "A GOL informa que durante o voo G3 2023, entre Florianópolis (FLN) e o Rio de Janeiro, aeroporto do Galeão (GIG), realizado no domingo (16/02) houve a necessidade de atendimento médico. Houve acionamento por parte da equipe de tripulantes de um médico a bordo, para quem foram disponibilizados kits de primeiros socorros e caixa médica. Porém, não houve necessidade de uso da caixa médica devido a melhora apresentada pela Cliente. A Companhia reforça que todas as ações tomadas a bordo seguiram os protocolos dos órgãos reguladores para este tipo de ocorrência, sempre com foco na Segurança, valor número 1 da GOL". Na época , em conversa com a coluna, a empresa explicou que existem dois equipamentos de emergência a bordo, um kit de primeiro socorros, onde estava o equipamento defeituoso e um kit médico, bem mais completo, que só pode ser usado por profissionais da área de saúde. Só que apuramos que o medidor de pressão só faz parte do primeiro kit. Como explica a nota, como a passageira/paciente reagiu ao socorro dos dois médicos, não foi necessária a abertura do "kit médico", que contém bisturís, e outros instrumentos para emergências, até para cirúrgicas. Por recomendação da própria tripulação, foi colocado pelos médicos, no relatório de atendimento, que o instrumento do kit de primeiros socorros estava avariado, ou seja, existe um documento oficial que aponta a falha do equipamento, necessário para orientar os procedimentos de primeiros socorros. Cópia deste documento foi solicitado por Magda a Gol, que afirmou que o usará na processo quer pensa em mover contra a médica que a socorreu por ter "vazado" o atendimento de emergência para a mídia. Ao invés de agradecer o socorro, vai criar um fato inusitado de criminalizar quem a socorreu.

A Agência Nacional de Aviação Civil foi questionada sobre o episódio e sobre as providências que seriam adotadas após a constatação da falha.

"Felizmente só o Correio da Manhã publicou. Eu tenho proteção divina. Tinha um evento na segunda que participei e discursei. Se não tivesse aparecido em público, a empresa teria sofrido um prejuízo no mercado", reclama Magda pelo vazamento da notícia, a qual, atribui erroneamente à médica que a socorreu. "É inacreditável que um paciente, que tenha recebido o socorro voluntário a bordo de uma aeronave, tente agora processar o médico. A nossa missão e juramento é para salvar vidas e isso foi feito, independente de ser a presidente da maior estatal ou uma pessoa normal", afirma o ex-diretor do Cremerj.

O sigilo da fonte é direito constitucional do jornalista, mas seria impossível manter em sigilo o problema que aconteceu com mais de 180 pessoas a bordo e com um aparelho de emergência que não funcionou. O que a coluna pode adiantar é que a presidente da Petrobras está errada na sua especulação. Não foi o "anjo da guarda" que a socorreu e que agora de forma soberba ela quer processar, a nossa fonte do equipamento quebrado na aeronave. A médica nunca falou com a coluna. O incômodo pelo vazamento da notícia ultrapassa o desconforto de uma crise em pública. O problema foi agravado pelas manobras da sua assessoria de imprensa e assessoria pessoal, impedidas por ela de dar transparência ao fato, mesmo sendo a presidente de uma estatal pública e com acionistas. "Uma companhia é obrigada a ser transparente sobre a saúde do seu principal executivo, até para saber se ela tem a capacidade plena de decidir. No caso da Petrobras são decisões milionárias e até bilionárias. A CVM deveria questionar o procedimento da empresa", afirma um advogado especializado em mercado financeiro.

"Quando há um fato relevante nos informamos ao mercado. Este meu problema foi em uma viagem privada e não haveria necessidade de comunicar ou confirmar" afirmou Magda Chambriard, na conversa com a coluna durante a viagem.

Visivelmente mais magra ("Eu deixei a ANP com 80 quilos, ou melhor 79,90  quilos e por isso estou fazendo regime", afirmou na conversa a bordo do voo comercial), a presidente da Petrobras afirmou que é contra usar aviões executivos: "Prefiro usar voos de carreira, para não onerar a companhia e nas viagens oficiais eu posso usar os aviões da FAB", lembrando ainda que a companhia possui vários contratos de fretamento de aeronaves para suas operações, principalmente no off-shore."

Vale lembrar que durante o segundo governo Dilma Rousseff, a presidenta se submeteu a um regime severo e tomou medicamentos para emagrecer. Faz parte desta fase algumas falhas nos seus discursos, como "engarrafar vento" e alguns lapsos em reuniões ministeriais.

Sobre sua agenda em Brasília naquela viagem, ela afirmou: "Não vou falar nada. Prefiro deixar o suspense". Ela passou boa parte da viagem no celular utilizando o aplicativo WhatsApp.

* Diretor de Redação do Correio da Manhã

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