Preso por estupro diz que mulher 'fez charme'
Em um vídeo do circuito de segurança que gravou o crime, é possível ouvir pelo menos 11 vezes a mulher dizendo que não queria ter relações sexuais

Foto: Reprodução
Um homem foi preso por estupro após câmeras de segurança gravarem o momento em que ele arrasta uma jovem para um banheiro abandonado em Paranaguá (PR).
Vítima e autor do crime se conheciam de vista e se beijaram em uma festa no dia 23 de fevereiro. À polícia, a mulher contou que eles se viram pessoalmente em uma casa de shows, e que ele a abordou quando ela deixava a festa para ir para casa.
Enquanto esperava o transporte para casa, a mulher disse que queria usar o banheiro e foi orientada pelo suspeito a ir até um posto de gasolina nas proximidades. O homem, porém, não informou à vítima que o estabelecimento estava abandonado. Segundo depoimento dela à polícia, ele a acompanhou até o local, e chegando lá a estuprou.
Em um vídeo do circuito de segurança que gravou o crime, é possível ouvir pelo menos 11 vezes a mulher dizendo que não queria ter relações sexuais. Ela também pediu para o agressor parar, segurou em uma parede para tentar se soltar, mas acabou sendo arrastada.
Vítima conseguiu fugir do local mais de 10 minutos depois, e voltou à casa de shows, onde uma amiga a aguardava com um motorista de aplicativo. Em depoimento à polícia, condutor do carro afirmou que ligou diversas vezes enquanto aguardava a vítima, que não atendia.
O caso foi registrado na delegacia no dia seguinte ao crime. A vítima não sabia o nome completo do suspeito, mas levou até os policiais a rede social dele, o que foi um ponto de partida para a resolução do caso.
Polícia identificou o homem como Nathan de Siqueira Menezes, 20, e pediu prisão dele, que foi negada duas vezes. Após o primeiro pedido, o juiz determinou que uma tornozeleira eletrônica fosse colocada no suspeito. Ele não apareceu para colocar o dispositivo e um segundo pedido de prisão foi emitido à Justiça, sendo negado em seguida. Após a terceira tentativa do Ministério Público, o pedido de prisão foi acatado por um desembargador.
"Diante dessa segunda negativa, a promotora fez um terceiro pedido de prisão direto para o tribunal de Justiça, que foi quem deu a prisão cautelar", disse Thaise L. Mattar Assad, advogada da vítima, ao UOL.
Nathan foi considerado foragido e se entregou à polícia na quarta-feira (26). Ao prestar depoimento, ele alegou que a jovem estava "fazendo charme" ao falar que não queria se relacionar com ele. Os detalhes do depoimento foram divulgados pela TV Globo.
Vítima também contou à polícia que o homem gravou o abuso sexual com o celular dele. O vídeo não foi encontrado no aparelho do homem, mas o objeto foi apreendido e passa por perícia.
Defesa. Os dados do processo no TJPR são sigilosos e, até o momento, o UOL não conseguiu acesso à defesa de Nathan. O espaço será atualizado se houver posicionamento.
A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER NO BRASIL
No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.
COMO DENUNCIAR VIOLÊNCIA SEXUAL
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.