Primeira senadora negra do Brasil era baiana; conheça a história
Laélia de Alcântara chegou ao Senado em 1974 como suplente
Foto: Arquivo Agência Senado
Há pouco mais de 40 anos, o Brasil teve uma mulher negra no Senado pela primeira vez. O pioneirismo coube a Laélia de Alcântara (PMDB-AC), que assumiu o mandato de senadora em 3 de abril de 1981, no período final da ditadura militar (1964-1985).
Nascida em Salvador, na Bahia, Laélia tinha 57 anos de idade quando tomou posse e nunca havia ocupado um cargo político. Ela era médica obstetra e vivia em Rio Branco, no Acre. Morreu em 2005, aos 82 anos.
Com a chegada da nova parlamentar, o país passou a ter duas senadoras. O Senado já contava com Eunice Michiles (PDS-AM), uma mulher branca que havia quebrado a exclusividade masculina na instituição fazia apenas dois anos.
De acordo com documentos da época guardados hoje no Arquivo do Senado, em Brasília, coube a Eunice dar as boas-vindas à colega. "Registro com uma ponta de orgulho que novamente coube à Amazônia o privilégio de trazer para esta Casa mais uma representante do sexo feminino, fato que corresponde ao despertar da mulher em todo o mundo para um papel mais ativo na sociedade", disse a senadora na ocasião.
Laélia, então, fez seu primeiro discurso: "agradeço as demonstrações de apreço e carinho. Sou, como Sua Excelência, representante de uma região eminentemente problemática. Espero aqui trazer uma pequena contribuição e apresentar alguns dos problemas que o povo do Acre vive sofrendo há bastante tempo. No estado, o pauperismo [pobreza] é grande, há carência de quase tudo. Notadamente os problemas ligados à saúde e à instrução pública constituirão objeto de minha especial atenção nesta Casa".
Laélia de Alcântara se elegeu em 1974, como suplente, na chapa encabeçada pelo senador Adalberto Sena (PMDB-AC). Foi também como suplente que Eunice Michiles chegou ao Senado.
A senadora negra assumiu o mandato duas vezes. Primeiro interinamente por quatro meses, em 1981, quando Sena ficou afastado para tratar da saúde. Depois em definitivo, em janeiro de 1982, após a morte do titular. O mandato se encerrou em janeiro de 1983.
Laélia de Alcântara redigiu propostas legislativas que beneficiavam as mulheres. Ela apresentou duas emendas a um projeto de lei que liberava a entrada delas na Aeronáutica, um deles autorizando-as a pilotar aviões e o outro permitindo que recebessem patentes iguais às dos homens.
Numa dessas emendas, para comprovar o quanto a sociedade ainda era machista, ela lembrou que, quando fez o juramento de posse no Senado, foi obrigada a obedecer a fórmula tradicional e declarar-se “senador”, no masculino.
A senadora também escreveu uma proposta que estabelecia que o comando da família caberia em conjunto ao marido e à mulher, e não mais apenas ele, a quem legalmente cabia dar a última palavra. A mesma proposta permitia que, com o casamento, o homem também adotasse o sobrenome da mulher.
Terminado o mandato de Laélia de Alcântara, em 1983, as mulheres negras precisaram esperar mais de uma década para se verem novamente representadas no Senado. Em 1995, tomaram posse as senadoras Benedita da Silva (PT-RJ) e Marina Silva (PT-AC). Elas chegaram ao Senado como titulares, e não como suplentes.