Projeto na Câmara de Três Corações pede retirada de homenagens a Pelé na cidade
Uma das ideias é que a praça Pelé volte a ser conhecida como Coronel José Martins
Foto: Reprodução
Um projeto de lei que está na Câmara Municipal de Três Corações, no sul de Minas Gerais, quer retirar o nome de Pelé de quatro locais da cidade.
Apresentada pelo vereador Ricardo Ferreira (Avante), conhecido como Ricardinho do Gás, a proposta é que a praça no centro de cidade, o ginásio municipal, o estádio do Clube Atlético Tricordiano e uma das principais avenidas do município retornem aos nomes que tinham antes de ser homenagens ao Rei do Futebol.
O projeto será analisado nesta quinta-feira (6) pela Comissão de Justiça da Câmara local.
Uma das ideias é que a praça Pelé volte a ser conhecida como Coronel José Martins. Segundo o artista plástico Fernando Ortiz, pesquisador da trajetória do ex-jogador e conhecido pela luta para que Três Corações abrace a história do Rei do Futebol, José Martins tinha quatro fazendas na região e foi dono de 43 escravos.
Foi esse estudo feito por ele, apresentado na Câmara de Vereadores em 2023, que provocou a alteração de nome que agora pode ser revertida. Já havia na praça uma estátua de Pelé.
"Argumentei que não era possível a imagem do preto mais famoso do mundo estar em um local com nome de um escravagista", afirma Ortiz.
A assessoria do vereador confirmou à Folha o projeto. Até o momento, ele não retornou os contatos da reportagem. O presidente da Câmara, Wesley Michel Rezende Dardaque (Podemos), também não respondeu.
Morto em 29 de dezembro de 2022, Pelé é o nome mais famoso nascido na cidade. Segundo a assessoria do vereador, a justificativa para a tentativa de mudança é que ter tantas homenagens ao Rei do Futebol significa "jogar a história de Três Corações no lixo".
Ricardo Ferreira quer também que o estádio Rei Pelé, do Atlético Tricordiano, onde Dondinho, pai do Rei do Futebol, jogou, volte a se chamar Elias Arbex, nome de velho prefeito do município; que o ginásio apelidado Pelezão seja novamente chamado de Vilelão, por causa do ex-prefeito e ex-deputado estadual Aílton Parnaíba Vilela; e que a avenida Rei Pelé seja de novo avenida Ricardo Azeredo.
Outras autoridades da cidade, ouvidas pela reportagem, apresentam argumentos parecidos com o da assessoria do vereador. Elias Arbex, por exemplo, era dirigente na época em que Dondinho jogava na cidade e morreu quando buscava uma bola para o Atlético Tricordiano jogar.
Mas pessoas da cidade reconhecem que a iniciativa será vista como um ataque à imagem de Pelé. Os defensores da medida respondem que, na verdade, trata-se de preservar a história de outras pessoas que foram importantes para Três Corações.
A reação foi imediata também de cidadãos locais que defendem todas as homenagens a Pelé.
Convidado pelo presidente da Câmara a argumentar aos vereadores contra o projeto, Ortiz diz que não pretende fazê-lo. Vai, porém, escrever uma carta explicando os motivos pelos quais considera um escândalo retirar qualquer homenagem a Pelé na cidade.
O artista plástico foi um dos impulsionadores da reforma da casa onde o craque morou na infância. O local se transformou em atração turística e recebe cerca de 300 pessoas por dia.