Raquel Lyra deixa o PSDB após críticas a postura do partido diante do governo Lula

Raquel negociava, pelo menos desde 2024, uma ida para o PSD – sigla presidida por Gilberto Kassab

Por FolhaPress
Ás

Raquel Lyra deixa o PSDB após críticas a postura do partido diante do governo Lula

Foto: Reprodução/Redes Sociais

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, deixará oficialmente o PSDB e se filiará ao PSD nesta segunda-feira (10). A saída foi consumada no final de fevereiro, e o ato de filiação acontecerá no Recife.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Raquel negociava pelo menos desde 2024 uma ida para a sigla presidida por Gilberto Kassab. Para além das perspectivas de ingressar em um partido que está em ascensão, ela também vai comandar o diretório da legenda em Pernambuco. O MDB também foi cogitado como destino, mas a governadora bateu o martelo pela filiação ao PSD.

Em entrevista concedida à Folha de S.Paulo em dezembro, ela havia afirmado que o PSDB foi "ficando pequeno" ao longo do tempo e que isso mostrava "que algo está errado".

"O que o PSDB precisa fazer é se reencontrar com a sua história e seus valores. A gente precisa ter partidos e instituições fortes que possam enfrentar o jogo democrático", disse.

Em fevereiro, em entrevista à TV Bandeirantes, ela afirmou que se sentia incomodada e que o momento no país precisa ser de "concertação". "O PSDB não foi oposição ao governo Bolsonaro e se colocou, há cerca de um ano, como 'farol da oposição' ao governo do presidente Lula, sem ter um projeto que pudesse apontar para o que queremos adiante", disse ela, acrescentando que sua visão era respeitada dentro da sigla.

Mesmo em um partido que é adversário histórico do PT, a governadora elogiou as parcerias firmadas pela sua gestão com o governo federal, apesar de desviar da pergunta sobre um possível apoio ao petista nas eleições de 2026.

Na eleição de 2022, ela não tinha declarado voto no segundo turno da disputa presidencial. Já no primeiro ano de governo, passou a fazer acenos ao presidente. "Temos a sorte de ter na Presidência o nosso embaixador sentado na cadeira do Palácio do Planalto", afirmou sobre Lula, que é pernambucano.

O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, disse que lamenta a saída e que ela sempre contou "com nosso apoio e com os fundos partidários e eleitorais". Afirmou ainda que o partido tem a convicção de que precisa "construir uma forte alternativa eleitoral aos extremos". "Somos e continuaremos a ser oposição ao governo lulo-petista sem nunca nos furtar a apontar também os erros do outro extremo".

Também acrescentou: "O Brasil precisa de união, não precisa de adesismo".

Raquel deixa o PSDB após nove anos de filiação – entrou no partido para disputar a Prefeitura de Caruaru, onde governou por dois mandatos. Antes, como deputada estadual, ela havia integrado o PSB, que é uma das maiores forças políticas do estado e hoje é seu principal rival.

Dentro do PSDB, a governadora vinha enfrentando atritos com o correligionário Álvaro Porto, presidente da Assembleia Legislativa. Porto, em fevereiro de 2024, disse que Raquel "conversou merda demais" e "não disse nada" em discurso de abertura do ano legislativo da Casa.

Interlocutores leem a ida de Raquel Lyra para o PSD como uma tentativa de se aproximar de Lula para articular um possível apoio à própria candidatura à reeleição.

É provável que ela enfrente o atual prefeito do Recife, João Campos (PSB), na corrida pelo governo. Atualmente, Campos é um importante aliado do presidente.

O prefeito, futuro presidente nacional do PSB, foi reeleito com um dos maiores índices de votação entre as capitais brasileiras, com 725 mil votos.

Em uma espécie de prévia dessa disputa na eleição municipal de 2024, os tucanos fizeram 32 prefeituras em Pernambuco, ante 31 do PSB. A saída da governadora pode levar prefeitos a também tomar outro rumo.

Os tucanos de Pernambuco, porém, devem continuar sob influência da governadora. Neste domingo (9), a vice Priscila Krause, que se elegeu pelo Cidadania, anunciou sua migração para o PSDB.

A troca de partido da pernambucana aprofunda o esvaziamento tucano pelo país. Com a filiação dela ao PSD, o PSDB passará a ter apenas dois governadores: Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, e Eduardo Riedel, em Mato Grosso do Sul.

O partido, que já governou oito estados, vem perdendo relevância desde 2018, quando o então tucano Geraldo Alckmin —agora no PSB— ficou apenas em quarto lugar na eleição presidencial. Em 2022, pela primeira vez, a sigla não lançou candidato ao Planalto.

Em São Paulo, em 2024, oito integrantes da bancada tucana na Câmara Municipal decidiram pedir desfiliação, num novo marco para a crise que a legenda enfrenta. Na eleição de 2020, o PSDB venceu a disputa pela Prefeitura de São Paulo ao reeleger o então prefeito Bruno Covas e tinha emplacado, junto com o PT, a maior bancada da Câmara, cada um com oito vereadores.

No mês passado, o site oficial do partido publicou uma nota afirmando que não desaparecerá. "O PSDB não vai desaparecer. Em respeito a 1,35 milhão de filiados e à história de todos que ajudaram a fundar e a construir o partido que fez as reformas mais importantes do Brasil, o PSDB vai continuar existindo".

Ainda segundo o comunicado, a partir da eleição de 2026, a chamada "cláusula de desempenho" ficará mais rígida e, por isso, será necessário encontrar soluções para superar esse obstáculo, "o que inclui a construção de chapas fortes para as eleições para o Congresso Nacional, para as assembleias estaduais e distrital, para os governos estaduais e para a Presidência da República".

Nos bastidores, lideranças do PSDB estão se reunindo com dirigentes do MDB, do Podemos e do PSD para discutir uma união partidária.
 

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