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Rotina de trabalho tem levado jornalistas ao adoecimento emocional

Matéria especial do dia do jornalista traz entrevista com o presidente do Sinjorba e profissionais local

Por Da Redação
Ás

Rotina de trabalho tem levado jornalistas ao adoecimento emocional

Foto: Reprodução

Nesta quarta-feira (7), se comemora o dia do jornalista. Para aproveitar a data, o Farol da Bahia ouviu profissionais que relataram como anda a rotina de trabalho em meio a pandemia da Covid-19.  

A categoria já enfrenta – mesmo antes da pandemia – uma rotina de trabalho estressante, com cargas horárias exaustivas, e salários baixos. Após a pandemia, os jornalistas precisam lidar com as notícias de mortes diárias e o medo constante da contaminação, o que tem levado muitos profissionais ao adoecimento emocional.

Repórteres e radialistas estão na linha de frente, expostos ao vírus, quando precisam fazer as coberturas externas e participar de coletivas, inclusive em unidades de saúdes. 

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) divulgou nesta terça-feira (6), véspera do Dia do Jornalista, novos dados do dossiê “Jornalistas vitimados por Covid-19”, referentes ao primeiro trimestre de 2021, colocando o Brasil como o país com o maior número de mortes por COVID-19 no mundo. 

Segundo o levantamento elaborado pelo Departamento de Saúde da FENAJ, a partir de notícias e de acompanhamento pelos Sindicatos da categoria no país, 169 jornalistas morreram entre abril de 2020 e março de 2021. O dossiê também mostra que o número de mortes neste ano supera todo o ano de 2020, quando foram registradas 78 mortes de abril a dezembro. Em 2021, são 86 vítimas, percentual 8,6% maior que no total de 2020.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Moacy Neves, afirma que a categoria segue bastante impactada pela pandemia.

“Trabalhamos com números, dados, fatos, muitas pessoas podem desligar a TV e se abster de ler as notícias, os jornalistas não podem, encaramos diariamente isso. Na rua temos acesso a realidade, os desrespeitos as regras de prevenção, aglomerações. Nós vivemos a realidade da Covid-19”, disse.

A jornalista Aline Barnabé, que trabalha com assessoria de imprensa, disse que para preservar a saúde mental tem lido as notícias apenas uma vez por dia.

“Não acompanho os noticiários. Eu entendo que é importante, então leio uma vez ao dia, dou uma volta nos sites principais, para ver mais ou menos como está a situação e só”, disse.

Além disso, Aline tem reforçado com os cuidados para evitar a contaminação. “Na nossa redação mantemos distancia entre os profissionais, abuso do álcool em gel e do uso das máscaras”, informou.

Moacy Neves disse ainda que há relatos de profissionais trabalhando em home-office que se encontram esgotados.  

“Apesar do home office ser uma realidade em algumas categorias de trabalhadores antes da pandemia, para nós jornalistas não era, principalmente, para quem trabalha em redação e assessoria de imprensa. A gente tinha que ter serviço presencial. Isso traz um impacto forte na readaptação da nova realidade, muitos profissionais tiveram que ir pra dentro de casa fazer os serviços, nem sempre tem a estrutura adequada para o trabalho, além de que temos que nos dividir em casa com outras tarefas, em especial aos que tem filhos, especialmente as mulheres”, disse.

“Com tudo isso ainda tem um agravante, quem trabalha home office não tem horário. Patrões acham que podem nos acionar em qualquer horário do dia. Muitos profissionais tem relatado ao sindicato que o seu trabalho é muito maior em termos de horas trabalhadas que antes da pandemia”, pontuou.

O jornalista e apresentador, Felipe Veloso, afirma que diariamente recebe mensagens de pessoas pedindo ajuda para a regulação de um familiar.

“Isso tem sido angustiante pra mim. Muito embora nós temos feito o máximo para tornar o noticiário mais leve. Normalmente, encerramos os jornais com uma notícia mais leve, de esperança, voltado para alguma ação social. Como uma forma de tentar amenizar a situação”, disse.

Felipe relata que apesar de todo sofrimento com a pandemia, ele tem acompanhado casos de superação. 

“São experiências fantásticas de ouvintes que se ajudam, quando a gente coloca no ar a demanda de um, e o outro se solidariza. Isso é fantástico nesse contexto de caos. Pessoas se reinventando como profissionais, famílias se reestruturando, se reencontrando”, afirmou. 
Vacinação

Moacy Neves disse que, de acordo com o decreto presidencial de março de 2020, o jornalismo é visto como serviço essencial. “O governo nos obriga a ir a linha de frente nas coberturas, mas não nos coloca na prioridade da vacinação. Sequer a vacinação da gripe, que pedimos desde o ano passado, que fôssemos colocados, o governo atendeu”, disse.

O presidente do Sinjorba disse ainda que existe um pleito feito no Ministério da Saúde para a inclusão dos jornalistas e radialistas, que estão na linha de frente da cobertura, sempre colocados como prioridade na vacinação.

“Até o momento não tivemos uma resposta positiva. Ontem nós ficamos sabendo que o prefeito de Teresina colocou os jornalistas como prioridade da vacinação. Então já é o primeiro precedente em termos de Brasil. Não estamos pedindo privilégios, estamos pedindo apenas que como estamos fazendo as coberturas externas da pandemia, que esses profissionais sejam incluídos no hall das categorias que tem direito à vacinação”, explicou.

Moacy Neves disse ainda que o Sindicato está em conversa com a Sesab para garantir, pelo menos, a vacinação contra a gripe. 


 

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