"Sabemos que a administração pública é responsável por gastos elevados", afirma Capitão Alden
Confira a entrevista exclusiva do deputado ao Farol da Bahia
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Capitão Alden é policial militar e em 2018 foi eleito deputado estadual na Bahia pelo PSL. Apoiador do governo Bolsonaro, declarou em novembro de 2019 apoio ao novo partido do presidente, Aliança Pelo Brasil (ainda em construção), junto a outros 7 deputados estaduais.
Nesta entrevista exclusiva ao Farol da Bahia, Alden desconversa sobre qual nome pretende apoiar nas eleições municipais de 2020, esclarece as polêmicas envolvendo seu nome (recentemente foi acusado pelo governo da Bahia de invadir um hospital de campanha de tratamento do coronavírus – o mesmo alega ter recebido autorização da Sesab para realizar a vistoria) e tece duras críticas ao governador da Bahia, Rui Costa.
Confira:
O senhor vai apoiar algum candidato nas eleições municipais em Salvador?
Apesar de termos um cenário prévio no que diz respeito aos pré-candidatos, ainda não temos a definição das candidaturas consolidadas. Ainda há incertezas inclusive sobre a realização da eleição esse ano, ou sobre uma possível mudança de data, que passou recentemente pelo Senado, mas que ainda seguirá para votação na Câmara.
Então é necessário a formação dessa conjuntura política, de quem disputará as eleições, de quando elas serão realizadas, até para que forme uma opinião sobre o assunto. Eu tenho um diálogo aberto com o vice-prefeito Bruno Reis e com o prefeito ACM Neto, são pessoas que se mostraram disponíveis para me ouvir e graças a isso pude levar a eles projetos e demandas da população soteropolitana. Mas o que tenho certo é meu alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro. Ele ainda não declarou abertamente apoio a nenhum pré-candidato posto aqui em Salvador, acredito até que seja pelo fato, como eu disse, das indefinições. Mas reforço que o meu total alinhamento hoje é com o presidente e assim como ele estou sendo prudente.
O senhor tem realizado vistorias em hospitais da capital. Tem visualizado problemas? Qual o objetivo das vistorias?
Eu fiz algumas solicitações formais a Secretaria de Saúde do Estado através de ofício, enviei um cronograma de hospitais de campanha que gostaria de visitar, mas só através de uma conversa via WhatsApp com o secretário de Saúde, Fabio Villas Boas, recebi autorização para visitá-los. E mesmo assim, depois a Sesab tentou desconstruir quando tentei visitar o Hospital Riverside, em Lauro de Freitas. Pra mim, os problemas já começam com as dificuldades impostas a um parlamentar que deseja apenas realizar o seu trabalho de fiscalizar o bom funcionamento das unidades de saúde.
O objetivo das visitas é analisar o cenário das instalações, se elas correspondem às exigências do Ministério da Saúde, diante das denúncias em todo o Brasil do risco real da falta de leitos e equipamentos mecânicos (respiradores) indispensáveis no tratamento de casos graves da doença.
Ainda na área externa do Hospital Riverside pude identificar alguns graves descumprimentos de protocolos e padrões de saúde, principalmente, em relação à utilização de estruturas, a exemplo de um túnel para desinfecção de pessoas ainda lacrado, em uma unidade de saúde que foi implantada a um mês e meio. Essas estruturas inutilizadas revelam fortes suspeitas de supernotificações dos números de pacientes e leitos ocupados.
A Organização Mundial da Saúde pede que, nos laboratórios de elevada contenção, seja instalado um chuveiro de descontaminação para uso obrigatório do pessoal que sai da zona de confinamento. O profissional que vai trabalhar nessa área tem de se equipar com roupa hermética, pressurizada, com filtro HEPA e dispositivo de respiração.
Em análises preliminares foi possível perceber que as condições de funcionamento trazem uma série de irregularidades, que comprometem o trabalho dos profissionais da saúde que atuam no local e colocam em risco a vida de todos os envolvidos.
O senhor tem apresentado projetos de combate ao coronavírus ao longo da pandemia. Entre eles, a redução do salários de parlamentares e governador. Em que pé está a proposta?
Ela foi protocolada no dia 25 de março, está completando 3 meses e ainda nada foi-se discutido. Tramita como qualquer outro projeto na Assembleia Legislativa da Bahia, ainda na Comissão Diretora. É lamentável, porque falamos de uma solicitação que deveria ser analisada em caráter de urgência, justamente por causa da pandemia. A minha intenção é que fossem reduzidos em 50% os salários dos deputados estaduais, governador do estado, vice-governador e secretários. Aparentemente, nem todos os envolvidos têm o mesmo interesse, do contrário a proposta já teria ganhado mais atenção na ALBA.
Sabemos que a administração pública é responsável por gastos elevados, e esse é sim um momento de rever isso, para que possamos equilibrar a cota de sacrifícios e retomar o crescimento do nosso estado.
Deputados do Nordeste têm feito convocações para que o governador Rui Costa explique a compra frustrada dos respiradores pelo Consórcio Nordeste. O senhor pretende fazer o mesmo? Qual sua perspectiva sobre o imbróglio?
Hoje eu integro a Comissão Parlamentar Interestadual de Acompanhamento e Fiscalização do Consórcio Nordeste e através dela solicitamos um série de documentos relativos à aquisição dos respiradores que não foram entregues, são mais de 20 deputados de todos os estados do Nordeste pedindo explicações. Assim como solicitei também na Assembleia Legislativa da Bahia a criação de uma CPI para investigar irregularidades neste contrato e em outros da Sesab.
Foi solicitado ainda, através de Requerimento à presidência da Assembleia Legislativa da Bahia e da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da qual faço parte, a convocação do secretário de Saúde, Fábio Villas Boas, para prestar esclarecimentos sobre diversas irregularidades constatadas em contratos da Sesab, e até então estou aguardando retorno desses requerimentos. Espero que ele seja de fato convocado e que de forma clara e verdadeira faça a sua exposição dos fatos. É de interesse de toda a Bahia.
Na sua opinião, quais os maiores problemas da Bahia? Como avalia o governo Rui Costa? E o prefeito ACM Neto?
Um dos problemas mais críticos que vejo hoje em nosso estado é relacionado a Segurança Pública, ele é mais preocupante ainda porque não se nota interesse no governador em resolver.
É lamentável que na Bahia vivamos uma guerra, nos últimos 13 anos contabilizamos 75 mil homicídios, só este ano entre meados de abril e maio, períodos de isolamento social, foram 276 homicídios em um mês. Somos o estado brasileiro que proporcionalmente morrem mais pessoas. Lideramos rankings sangrentos, somos também o primeiro em números de mortes praticadas contra mulheres, os feminicídios, e os primeiros em números de mortes envolvendo jovens de 15 a 29 anos. E por fim, cinco das dez cidades mais violentas do país estão na Bahia: Eunápolis, Simões Filho, Porto Seguro, Lauro de Freitas e Camaçari.
E não conseguimos sequer ter transparência nos dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública. No site da Pasta apenas são informados os números de Salvador e Região Metropolitana, mascarando os dados dos outros municípios.
O número de vagas nos concursos da PM são irrisórios, precisamos de muito mais contratações para combater efetivamente a violência, precisamos de ações conjuntas com outras secretarias na prevenção ao crime. Mas, volto a dizer não vejo qualquer interesse no governador em resolver.Tenho dezenas de projetos de lei e indicações protocolados na Assembleia Legislativa da Bahia, resultado de solicitações e necessidades que identifico, projetos para melhorar as condições de trabalho dos profissionais de segurança pública, bem como para diminuir os índices de violência na Bahia, mas, infelizmente, lidamos com uma casa em que a maioria dos deputados são da base do governo e se não há interesse do governador, certamente, não haverá da base governista.
Por aí você já consegue perceber o que penso do governo Rui Costa. Em relação ao prefeito ACM Neto, acredito que tem feito de modo geral um bom trabalho, existem ações louváveis em seu governo que condizem com os pensamentos de direita, assim como existem determinadas ações que, na minha opinião, precisam ser repensadas e poderiam ser melhor trabalhadas.
Como avalia o governo Bolsonaro?
É inegável o que o governo Bolsonaro vem fazendo e realizando neste país, agora temos um Presidente da República que governa para os brasileiros. Mas é incontestável que ele tem enfrentado grandes desafios.
Apesar de termos um presidente que zela pela economia, pela contenção dos gastos públicos, pelas boas relações com grandes potências, como os Estados Unidos, pelo fortalecimento das forças armadas e combate a criminalidade, pela valorização da vida e da família, ainda continuamos com um Congresso que insiste em praticar a velha política. Se comparada às dificuldades de governar com o já feito, tem sido superador. É como remar contra a corrente.
Quais seriam as maiores conquistas da sua gestão até agora, em sua opinião?
Tenho dedicado incansavelmente minha vida ao trabalho como parlamentar, meus eleitores e todos os baianos que acompanham meu trabalho através das redes sociais sabem que eu sou uma pessoa inquieta e ao mesmo tempo muito acessível, na medida em que consigo dar conta. Temos cerca de 1 ano e 4 meses de mandato, e já entramos com mais de 300 proposições, entre projetos de lei, indicações, requerimentos, e outros, na Assembleia Legislativa da Bahia. Boa parte dessas proposições são de demandas que as pessoas cobram, de necessidades que identifiquei ao longo de minha carreira na Polícia Militar da Bahia. E apesar das dificuldades, poder atuar de forma incisiva e fazer valer a confiança de cada um dos meus eleitores é o que me dá energia pra continuar. Me alegra também ser uma voz ativa dos profissionais de segurança pública, porque não é fácil viver em defesa do estado e nem sempre ter o mesmo apoio quando se é necessário, vivi na pele isso e sei o quando um representante de voz ativa é importante para a categoria.
Recentemente, através de denúncias que fiz fiscalizando contratos da Secretaria de Saúde da Bahia, no combate ao coronavírus, consegui impedir o gasto de R$ 150 milhões.São contratos com uma série de irregularidades. Essa fiscalização que nós deputados somos responsáveis e que a todo momento é dificultada pelo governador, impede a prática de corrupção, é uma das bandeiras do governo Bolsonaro e um dos maiores desejos do povo brasileiro ao eleger o nosso presidente.