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Saiba o que é downgrade, prática que foi aplicada de forma abusiva contra Ingrid Guimarães, diz especialista

Atriz, que havia pagado por um assento melhor no voo, disse que vai processar companhia aérea

Por FolhaPress
Ás

Saiba o que é downgrade, prática que foi aplicada de forma abusiva contra Ingrid Guimarães, diz especialista

Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ingrid Guimarães tem "enormes chances" de ganhar uma ação por danos morais contra a American Airlines, caso decida enfrentar a companhia na esfera cível. É o que diz o advogado Rodrigo Alvim, especialista em direito do consumidor com experiência em defesa do passageiro aéreo, ouvido pela reportagem.

No último domingo (9), A atriz denunciou uma situação de abuso que viveu em um voo saído de Nova York com destino ao Rio de Janeiro. Ela sofreu um "downgrade", que é quando o passageiro compra um assento melhor e é obrigado a viajar em um assento pior. A prática é comum e está dentro da lei, mas da forma como foi aplicada configura abuso contra a passageira, explica o advogado.

Ingrid, que estava sentada na classe Econômica Premium, foi obrigada a trocar de assento para a Econômica para que fosse feito outro downgrade, o de um passageiro da Executiva que estava com o assento quebrado.

"O downgrade acontece quando o voo dá overbooking [vende mais passagens do que tem], ou quando a manutenção da aeronave não está em dia e um dos assentos está inutilizável", explica. Quando isso acontece, a companhia precisa mandar o passageiro para a classe imediatamente inferior à dele. Se não houver assento disponível, ele teria de ser realocado para duas classes abaixo, ou seja, para a Econômica.

"Caso ele se recusasse a viajar na Econômica ou fosse um passageiro obeso, a companhia seria obrigada a colocá-lo no próximo voo e custear hotel, transporte e alimentação, além de ser passível de processo", explica o advogado.

Ou seja, para realocar o dono do assento quebrado, a companhia realocou também Ingrid para uma classe abaixo. "Isso é um absurdo completo", diz Alvim. "Realocar outra pessoa para poder realocar o primeiro passageiro é algo que não existe", diz.

AMEAÇA VAZIA
Segundo o advogado, a American Airlines violou quatro artigos do código de defesa do consumidor. São eles: artigo 6, inciso 6, que fala sobre a "prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais"; o artigo 14, sobre "reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços", o artigo 20, no qual "o fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo", e no 39 inciso 2, que prevê "recusar atendimento às demandas dos consumidores".

Sobre a ameaça que a atriz sofreu dos funcionários, que disseram que teriam de evacuar a aeronave caso ela não trocasse de lugar, o advogado afirma que não procede. "Era uma ameaça vazia. A companhia paga muito caro por cada minuto excedente no solo. Eles não perderiam esse tempo", diz. "O correto seria fornecer passagem em outro voo para o passageiro da cadeira quebrada".

'MULHER VIAJANDO SOZINHA'

Ingrid afirma que, quando questionou um dos comissários sobre qual o critério para a escolha de quem vai ser obrigado a fazer o downgrade, obteve como resposta: "mulher viajando sozinha".

"Isso é um abuso completo de autoridade, e justamente em uma semana em que está sendo discutido um projeto de lei para beneficiar mulheres viajando sozinhas", diz o advogado. O projeto, da senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), permitiria às passageiras desacompanhadas optar por assentos ao lado de outras mulheres em viagens interestaduais e internacionais.

O advogado explica que há situações em que um passageiro pode ser escolhido aleatoriamente para trocar de lugar. Um dos caso comuns é desequilíbrio de peso entre os dois lados na aeronave, por exemplo. Nessas ocasiões, pessoas viajando sozinhas costumam ser um alvo fácil da companhia.

"A escolha é aleatória, mas é claro que eles calculam o prejuízo. Nesse caso, porém, calcularam muito mal ao escolher uma pessoa famosa", acrescenta.

Para ele, Ingrid tem grandes chances de ganhar uma ação pleiteando reparação por danos morais "pelo transtorno, desgaste e constrangimento aliado ao que o downgrade já traz, que é viajar com menos conforto, a expectativa frustrada, passar por toda a humilhação que ela passou", diz. A atriz pode ainda, é claro, cobrar dano material pela diferença entre o valor da passagem que comprou e o assento em que ela viajou.

"Acredito que ela conseguiria a reparação, o que fizeram com ela foi um absurdo. E só vai se agravar ainda mais se ela conseguir testemunhas para relatar todo o abuso que foi praticado pela companhia".

Em entrevista ao Globo nesta segunda-feira (10), Ingrid disse que vai processar a companhia, mas que "dinheiro nenhum paga a humilhação" que sofreu.

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