Sem hormônio, anticoncepcional masculino se mostra promissor em estudo
Pesquisa foi realizada em camundongos e mostra que o método contraceptivo pode levar à infertilidade reversível
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Mesmo com os estudos voltados para o desenvolvimento de uma pílula anticoncepcional masculina, o avanço na área ainda é limitado. Contudo, uma nova pesquisa foi publicada na última quinta-feira (23), mostrando que a pílula não hormonal pode ser uma opção promissora e reversível para a contracepção masculina.
Os achados foram publicados na revista científica Science por pesquisadores do BCM (Baylor College of Medicine), nos Estados Unidos. O estudo foi feito com modelos animais (ratos) e utilizou uma abordagem não hormonal baseada em uma molécula que pode inibir a STK33 (serina/treonina quinase 33), uma proteína que atua na fertilidade de homens e de camundongos.
Já a pesquisa anterior mostrara que a STK33 é enriquecida nos testículos e é necessária para a formação de espermatozoides funcionais. Em camundongos, a mutação no gene dessa proteína os torna estéreis por causar a anormalidade do esperma e a baixa motilidade (capacidade de movimento) espermática.
Essa mutação no STK33, nos homens essa mutação leva à infertilidade. No entanto, essas alterações genéticas não causam anormalidade nos testículos e nem causam outras condições de saúde nos homens e nos camundongos.
“STK33 é, portanto, considerado um alvo viável com preocupações mínimas de segurança para contracepção em homens”, afirma Martin Matzuk, diretor do Centro para Descoberta de Medicamentos e presidente do Departamento de Patologia e Imunologia em Baylor, em comunicado divulgado pelo BCM. “Inibidores do STK33 foram descritos, mas nenhum é específico do STK33 ou potente para interromper quimicamente a função do STK33 em organismos vivos.”
O estudo
Para realizar o estudo, os pesquisadores usaram uma tecnologia chamada DEC-Tec (Tecnologia Química Codificada por DNA), que serviu para examinar uma coleção multibilionária de compostos para descobrir inibidores potentes da proteína STK33.
Assim, foi possível identificar quais substâncias poderiam inibir a proteína, levando à infertilidade nos camundongos. Em seguida, os pesquisadores geraram versões modificadas para tornar esses compostos mais estáveis, potentes e seletivos. “Entre essas versões modificadas, o composto CDD-2807 revelou-se o mais eficaz”, afirma Angela Ku, cientista da equipe do laboratório Matzuk.
“Em seguida, testamos a eficácia do CDD-2807 em nosso modelo de camundongo”, explicou a coautora do estudo Courtney M. Sutton, pós-doutora no laboratório Matzuk. “Avaliamos várias doses e esquemas de tratamento e, em seguida, determinamos a motilidade e o número de espermatozoides nos camundongos, bem como sua capacidade de fertilizar as fêmeas.”
De acordo com os pesquisadores, o composto CDD-2807 atravessou com eficácia a barreira sangue-testículo e reduziu a motilidade e o número de espermatozoides, diminuindo a fertilidade dos ratos. “Ficamos satisfeitos em ver que os ratos não mostraram sinais de toxicidade do tratamento com CDD-2807, que o composto não se acumulou no cérebro e que o tratamento não alterou o tamanho dos testículos, semelhante aos ratos knockout para Stk33 e aos homens. Com a mutação STK33”, afirma Sutton.
É reversível, o Efeito na fertilidade
Segundo os autores, um dos pontos positivos, é o fato de o efeito do inibidor de STK33 ter sido reversível. Ou seja, a infertilidade não é definitiva. “Após um período sem o composto CDD-2807, os ratos recuperaram a motilidade e o número de espermatozoides e ficaram férteis novamente”, afirma Sutton.
O próximo passo do estudo é avaliar mais profundamente o CDD-2807 como inibidor da proteína STK33 e outros compostos com ações similares em primatas, para determinar sua eficácia como contraceptivo masculino reversível.