Michel Telles

*Semana de conscientização sobre o xixi na cama: não puna, acolha!

Aos detalhes...

Por Michel Telles
Ás

*Semana de conscientização sobre o xixi na cama: não puna, acolha!

A enurese noturna, mais conhecida como xixi na cama, afeta 10% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos. Entre os tratamentos para a condição estão o uso de medicamento, neuroestimulação sacral e alarme noturno. Neste ano, a Semana Mundial do Xixi na Cama (World Bedwetting Week) é celebrada de 3 a 9 de junho, com o intuito de reforçar e esclarecer aos pais e cuidadores de que perder urina na cama não é por culpa da criança e, sim, uma condição urológica que precisa de tratamento.


Uma das principais causas da enurese noturna é a hereditariedade. O urologista e secretário-geral da International Children's Continence Society (ICCS), uma das organizadoras da campanha, Dr. Ubirajara Barroso Jr., relata que se ambos os pais tiveram esse problema quando crianças, a chance de a criança também apresentar é de 77%. No entanto, outros fatores, como metabolismo e alimentação, também podem influenciar a ocorrência da condição.


“É importante que os pais estejam conscientes de que a enurese noturna em crianças é causada por um problema urológico e não por preguiça ou rebeldia. Em vez de punição, é essencial que a criança receba acolhimento e que cada noite seca seja celebrada como uma vitória”, diz o médico que atende em São Paulo e Salvador.

Um estudo realizado em Minas Gerais aponta que cerca de 60% das crianças que perdem urina na cama ficam de castigo e 40% apanham. Para o urologista, a punição é prejudicial. Ele alerta que é comum as crianças que sofrem com episódios de xixi na cama sintam vergonha por causa do hábito.


“Em vez de punição, os pais devem buscar ajuda médica para a criança, a fim de iniciar o tratamento adequado e garantir uma melhor qualidade de vida de toda a família”, explica Dr. Barroso Jr., que coordena a disciplina de urologia da Universidade Federal da Bahia.


*A partir de 7 anos o tratamento é obrigatório* O tratamento do xixi na cama é recomendado para crianças acima de 5 anos, caso o problema esteja interferindo na vida familiar. Já após os 7 anos, o tratamento médico é obrigatório, pois estudos mostram que depois dessa idade começa a haver redução da autoestima e outros problemas emocionais em associação à enurese, além de a chance de a criança recuperar o controle do esfíncter sozinha se tornar menor.
A mudança de hábito sempre será uma grande aliada para o tratamento da enurese noturna, como por exemplo, restringir a ingestão de líquidos pelo menos duas horas antes de dormir; evitar alimentos que irritem a bexiga como chocolate e cafeína; ter uma alimentação noturna com pouco sal; e levar a criança para urinar antes de dormir.

“Mas não acorde seu filho no meio da noite para urinar. Assim, você não o está ajudando, pois ele deve perceber sozinho que a bexiga está cheia e precisa urinar. Ao acordá-lo, você impede essa percepção”, explica o urologista.

Alguns pacientes podem precisar do uso de medicações que atuam impedindo a produção de muita urina à noite.
O TENS é uma modalidade fisioterapêutica na qual estimulações elétricas na região sacral vão estimular a área do cérebro a perceber quando a bexiga está cheia. São necessárias cerca de 20 sessões.

O uso de alarmes noturnos também é eficaz para o controle da enurese noturna, ele funciona como um sensor que dispara ao primeiro sinal de urina para acordar a criança para ir ao banheiro fazer xixi.
*Novidade no tratamento em finalização de estudo*

Uma novidade no tratamento da enurese noturna é o alarme Soluu™️ que evita que a criança urine na cama e ajuda a condicioná-la a acordar quando a bexiga está cheia. Desenvolvido pelo Dr. Ubirajara Barroso Jr. em parceria com o urologista americano Dr. Andrew Kirsch, chefe do serviço de urologia da Emory University, em Atlanta, o alarme de enurese consiste em um sensor de umidade, um circuito sonoro e uma estimulação para a contração da musculatura do assoalho pélvico. É uma vestimenta que a criança usa enquanto dorme. Quando o sensor de umidade é ativado, além de disparar um alarme (enviado para o celular, reduzindo o ruído), também ativa um estímulo para a contração do esfíncter externo, ajudando a conter a urina.
Segundo Barroso Jr., com o Soluu™️, o condicionamento cerebral para perceber que a bexiga está cheia e acordar para urinar é mais efetivo que dos alarmes existentes atualmente.


"Os alarmes atuais apenas tocam para acordar a criança, permitindo ainda os escapes de urina na roupa. O diferencial do Soluu™️ é que, quando a criança tem o estímulo para começar a urinar na cama, além de emitir um som para acordá-la, ele aciona uma neuroestimulação que fecha o esfíncter, impedindo o escape da urina. Esse é o melhor tratamento em longo prazo, mas crianças e pais precisam estar motivados”, explica o médico.
Diferentemente do alarme convencional em que a criança urina na cama e só vai entender o que aconteceu quando despertada, no cenário desse novo tratamento, a criança não urina na cama e vai, portanto, urinar com a bexiga cheia. Isso é uma evolução, e os resultados iniciais já publicados têm sido muito bons.

O tratamento com o alarme dura em torno de 4 meses e o dispositivo deve ser usado por pelo menos 2 a 3 meses para ser, se xx considerado como falha. Mesmo após a criança ter parado de urinar na cama por 14 dias, o alarme deve permanecer por pelo menos um mês para captar qualquer refratariedade. A criança é considerada curada quando tem pelo menos 14 noites secas.

Dr. Ubirajara Barroso Jr. é coordenador do Centro de Estudos Miccionais da Infância (Cedimi) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, onde o Soluu™️ está em fase final do estudo randomizado através do uso de protótipos. Até o final deste ano, o novo dispositivo para tratar o xixi na cama será submetido à avaliação da Anvisa para ser disponibilizado para uso.

O aparelho já recebeu várias premiações internacionais, uma na categoria de equipamento de urologia na American Academy of Pediatrics, a maior academia de pediatria mundial, outra na categoria de aparelhos médicos para crianças no concurso realizado pelo Children’s Hospital of Philadelphia, na Filadélfia, e outra no concurso do Southwest National Pediatric Device Innovation Consortium e foi o único dispositivo brasileiro selecionado para a sessão de inovações tecnológicas do Congresso Americano de Urologia, em Chicago.

*Dr. Ubirajara Barroso Jr., urologista*
Urologista em São Paulo e Salvador, Professor livre docente, chefe da Disciplina de Urologia da UFBA, professor Adjunto de Urologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Fez fellow em urologia pediátrica no Children's Hospital of Michigan na Wayne State University e é o atual secretário-geral da International Children's Continence Society (ICCS).

Barroso Jr. é precursor da técnica de eletroneuroestimulação sacral no tratamento da incontinência urinária infantil e cofundador da Global Continence, empresa responsável pela produção do Soluu™️.

Tem mais de 150 artigos publicados, mais de 20 capítulos de livros, dois livros editados e um livro coeditado, abordando técnicas cirúrgicas inovadoras e novos tratamentos para a incontinência urinária diurna e noturna em crianças. É conferencista nacional e internacional, divulgando a técnica de eletroestimulação e outras desenvolvidas por ele ao redor do mundo.

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