Servidor público acusa cafeteria em Salvador de racismo
Vítima diz que atendente negou uma mesa para atender sua família
Foto: Reprodução/Google Street View
O servidor público Fernando Santos, de 34 anos, denunciou de racismo a Coffetown Salvador, no Corredor da Vitória, após uma funcionária do estabelecimento negar atendê-lo em uma mesa no piso térreo do estabelecimento. A vítima alega que a atendente informou que ele só poderia ser atendido no mezanino do local, que fica em um espaço mais afastado no andar de cima. No momento do ocorrido, a cafeteria tinha acabado de abrir as portas e estava vazia.
Segundo Fernando Santos, foi marcado um encontro com a família dele e seus sócios de trabalho na Coffetown. No total, 11 pessoas iriam ao estabelecimento. O servidor chegou ao local bem cedo, assim que a cafeteria começou a funcionar, com a mãe, pai, dois sobrinhos e uma irmã. Os outros convidados chegariam um pouco depois.
“Eu já frequento o lugar, então falei para a pessoa que me atendeu que queria mesa para 11. Ela disse que tinha que ser no mezanino, porque era muita gente. Eu falei que sabia que o mezanino era mais afastado e, como o lugar estava vazio e sem reservas, sugeri que ela juntasse três mesas e colocasse a gente no térreo mesmo, mas ela negou”, relatou o servidor público.
Fernando Santos e a família na Coffetown eu outro dia antes do ocorrido.
Depois que a mulher negou atendimento no térreo, Santos alegou que o pai e mãe dele eram pessoas com idade mais avançada e não conseguiram subir e descer escadas. “Meu sobrinho também é autista, então imagine esse menino se ele se jogasse do mezanino? Eu conheço ele e sei que ele já fez isso. Falei para a atendente que era perigoso, mas ela disse que eu não poderia consumir se eu não sentasse no mezanino”, detalhou.
O servidor público acrescenta que, neste momento, uma família com seis pessoas, todos brancos, entrou no estabelecimento, juntou três mesas e sentou no lugar que ele havia pedido.
“Eu perguntei à atendente: e aquele pessoal ali, eles podem sentar aqui? Ela então começou a gaguejar. Eu falei que já sabia que se tratava de racismo, ela disse que não era isso, mas eu me retirei do local”, contou.
Fernando Santos desabafou que, apesar de não se incomodar tanto com situações parecidas, a situação o incomodou por mais de uma semana. “Eu fiquei sem dormir direito, porque fiquei muito chateado. Minha mãe ficou arrasada e a gente se preocupa logo com a mãe, né? A gente sabe o que nós negros já passamos para ter o mínimo de necessário para viver, sabemos o que passamos para chegar em qualquer lugar, então passar pelo que a gente passou e não conseguir chegar de novo em um lugar por causa da nossa cor é muito duro”, completou o homem.
Foi registrado um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e o caso também foi encaminhado para o Ministério Público da Bahia (MP-BA). A Polícia Civil informou que a investigação está em andamento na 14ª Delegacia Territorial (DT/Barra). Além disso, a oitiva da vítima já foi agendada e imagens de câmeras de segurança do estabelecimento foram solicitadas.
A Coffetown foi procurada, mas não se posicionou até o fechamento desta reportagem.
Outro caso
Em 2020, a cafeteria Coffeetown publicou uma mensagem de apoio aos protestos antirracistas em adesão à "Blackout Tuesday". A publicação, no entanto, não foi aceita por alguns clientes, que relataram terem sido vítimas de atitudes racistas de funcionários do estabelecimento; outros disseram ter visto amigos passando pela situação.
Depois dos comentários, Coffeetown pediu desculpas pelo ocorrido e fez uma nova publicação afirmando que reconhece “que, apesar dos nossos esforços de construir um ambiente que comungue com os valores de inclusão e de respeito à diversidade, alguns episódios fugiram ao nosso controle”.
A cafeteria enviou ainda, uma declaração ao Farol da Bahia, em que afirma que o ocorrido já está sendo acompanhada pela equipe jurídica da empresa. Leia na íntegra:
"Em resposta à denúncia do cliente Fernando Ribeiro, a Coffeetown informa que a situação já está sendo acompanhada de perto pela equipe jurídica da empresa. De antemão, as imagens apuradas nas câmeras de segurança e os relatos da equipe do atendimento do plantão divergem do narrado no referido boletim de ocorrência.
O cliente chegou com um grupo de 11 pessoas ao estabelecimento. Para o melhor funcionamento da logística da casa, nestes casos, mesas acima de 8 pessoas são direcionadas ao mesão central ou mezanino, onde há maior espaço para juntar um maior número de mesas para acomodação adequada.
Ao ser informado deste padrão da casa, o cliente foi taxativo em não aceitar e, no final das contas, a atendente cedeu, ao passo que o mesmo informou que não desejava mais permanecer no estabelecimento e, segundo os relatos, apontou para os demais clientes dizendo que sua conta daria mais alta que a de todos eles juntos.
Após eles se retirarem, um grupo composto por 2 adultos e 3 crianças, portanto abaixo de 8 clientes e menos da metade do tamanho do grupo do Sr. Fernando, foi acomodado no sofá, o que ele aponta como uma atitude racista, apesar de ser apenas um mapa de acomodação, como todo restaurante tem o seu, para que os clientes possam ser melhor atendidos.
Já foi disponibilizado o contato das sócias para o reclamante. Não só elas já conversaram com ele, que refere ser um cliente antigo da casa, sem nenhuma outra queixa de qualquer ordem, como se colocaram à disposição para qualquer outra demanda dele.
Infelizmente, ele não retorna os contatos do jurídico da casa para que seja elucidado o que de fato ele deseja, apesar de já ter retornado à Coffeetown para ameaçar “ir até o final dessa história”, alegando, inclusive, ter todos os recursos para tanto.
Apesar da postura do cliente, que já frequentava a casa, lamentamos o sentimento de que qualquer tratamento dado ocorreu em função da cor da pele. A intenção foi garantir melhores acomodação e atendimento para o próprio grupo, inclusive com o deslocamento de um atendente exclusivo, caso ele optasse pelo mezanino.
A Coffeetown segue à disposição para elucidar qualquer dúvida."