Sistema de correntes do Atlântico mostra sinais de colapso, aponta estudo
Sistema que ajuda a regular o clima da Terra, pode já estar a caminho de um ponto sem retorno
Foto: Reprodução/ Freepik
O principal sistema de circulação do oceano Atlântico pode estar próximo de entrar em colapso, segundo um artigo publicado nesta sexta-feira (9) na revista Science Advances. Este sistema é chamado de Circulação Termosalina Meridional do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) e tem um papel crucial na regulação do clima na Terra.
Os autores do estudo, cientistas da Universidade de Utrecht, na Holanda, desenvolveram uma nova forma de identificação de sinais de alerta precoce do colapso da AMOC . O modelo tem como foco o aumento da água doce no sistema, um fator que desestabiliza a circulação no Atlântico.
A AMOC integra um complexo sistema global de correntes oceânicas que funciona como um “ tapete rolante ”, que faz circular água quente à superfície e água fria em profundidade através das diferenças de salinidade e temperatura.
Durante décadas, os cientistas têm alertado sobre a estabilidade da circulação, à medida que as mudanças climáticas aquecem o oceano e derretem o gelo, perturbando o equilíbrio de calor e sal que determina a força das correntes.
Embora muitos cientistas acreditem que a AMOC ficará menos intensa devido às mudanças climáticas, podendo até parar, permanece uma enorme incerteza sobre quando e com que rapidez isso poderá acontecer.
Esse novo estudo proporciona um “avanço importante”, avaliou René van Westen, pesquisador marinho e atmosférico da Universidade de Utrecht, na Holanda, e coautor do estudo.
Os cientistas utilizaram um supercomputador para executar modelos climáticos complexos durante um período de três meses, simulando um aumento gradual de água doce para a AMOC, representando o derretimento do gelo, assim como a precipitação e o escoamento dos rios, que podem diluir a salinidade do oceano e enfraquecer as correntes.
Os cientistas constataram que à medida que aumentavam lentamente a quantidade de água doce no modelo, eles viram a AMOC enfraquecer gradualmente até entrar em colapso abruptamente. Essa é a primeira vez que um colapso é detectável utilizando esses modelos complexos, representando “más notícias para o sistema climático e para a humanidade”, afirma o relatório.
No entanto, o estudo não dá prazos para um potencial colapso. Para van Wester, é necessária mais pesquisa, incluindo modelos que também imitam os impactos das mudanças climáticas, como os níveis crescentes de poluição que provocam o aquecimento do planeta.
Os impactos do colapso da AMOC poderão ser catastróficos. Algumas partes da Europa poderão ver as temperaturas cair até 30 graus Celsius ao longo de um século, conclui o estudo, levando a um clima completamente diferente ao longo de apenas uma ou duas décadas.
Por outro lado, os países do Hemisfério Sul poderão registar um aumento do calor, enquanto as estações chuvosa e seca da Amazônia poderão mudar, causando graves perturbações no ecossistema.
Segundo van Westen, o colapso da AMOC também pode fazer com que o nível do mar suba cerca de um metro.