Terreiro em Cachoeira denuncia empresa por intimidação

O Ilê Axé Icimimó Agunjí Didê é patrimônio cultural imaterial da Bahia desde 2014

Por Da Redação
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Terreiro em Cachoeira denuncia empresa por intimidação

Foto: Pai Duda de Candola/Arquivo pessoal

Religiosos do Terreiro Ilê Axé Icimimó Agunjí Didê, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano, relatam viver sob constante medo em seu espaço sagrado. A denúncia surge após alegações de que funcionários de uma empresa, suspeita de ter destruído um assentamento centenário de orixá em 2020, voltaram a monitorar as atividades no território. 

O Ilê Axé Icimimó Agunjí Didê é um patrimônio cultural imaterial tanto da Bahia, desde 2014, quanto do Brasil, desde 2016. As recentes denúncias dos candomblecistas foram formalizadas na delegacia de Cachoeira, e a Polícia Civil já está conduzindo investigações sobre as alegadas intimidações. Embora não tenha sido detalhado se algum suspeito foi identificado, as partes envolvidas serão intimadas a prestar esclarecimentos.

Três anos atrás, membros do Grupo Penha, alegadamente, recorreram a ameaças armadas contra os candomblecistas, além de derrubarem cercas no local. Na época, a empresa contestou as acusações de abuso de violência e intolerância religiosa, asseverando serem falsas.

Registros visuais do ocorrido três anos atrás revelaram agdás, pratos de barro usados nos rituais, despedaçados, e ferramentas sagradas do orixá, conhecidas como Ibá de Exu, desaparecidas durante a destruição.  Logo após o ataque de 2020, houve um acordo entre os religiosos e o grupo empresarial, mediado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA). No entanto, segundo o babalorixá da casa, Antônio Santos, conhecido como Pai Duda, a empresa tem descumprido os termos acordados.

"Em 2020, eles tinham se comprometido com o Ministério Público a não violar mais o patrimônio público, mas eu flagrei e filmei um funcionário fardado e com crachá rondando o perímetro do terreiro. Quando eu abordei e perguntei se ele estava a mando da fábrica, ele disse que sim", relatou o babalorixá. No ano de 2022, o MP-BA buscou a Justiça para proibir que os funcionários da empresa adentrassem a área do terreiro, após a destruição de objetos, profanação de locais sagrados e o desmatamento do bambuzal.

Diante do atual monitoramento da empresa no território, a comunidade religiosa encontra-se apreensiva e temerosa de prosseguir com suas práticas e cultos aos orixás. Pai Duda, destacou: "Está todo mundo apreensivo. Eu nasci dentro do terreiro, nem foi no hospital. A pior tortura que a gente está tendo é de não poder estar dentro do terreiro. A gente tem horários estratégicos, dias estratégicos sem poder subir para fazer nosso culto aos ancestrais."

O Ilê Axé Icimimó Agunjí Didê, quase tricentenário, fundado em 1736, é um marco histórico que foi transferido para Cachoeira em 1912, pela ialorixá Judith Ferreira do Sacramento, conhecida como "Menina de Xangô", em homenagem ao orixá patrono do terreiro. O templo compartilha o território com o Grupo Penha desde 2005.

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