Cultura

The Baggios une África e Nordeste brasileiro no disco Tupã-Rá

Trio sergipano encerra trilogia iniciada em álbuns indicados ao Grammy Latino

Por Erick Tedesco
Ás

The Baggios une África e Nordeste brasileiro no disco Tupã-Rá

Foto: Marcelinho Hora

Existem diversas conotações para o verbo ‘iluminar’ e o The Baggios transita por algumas delas para dar vida ao quinto álbum de estúdio, Tupã-Rá, que chega às plataformas de streaming no dia 4 de novembro por meio do selo Toca Discos. O disco, que traz referências ao ato de clarear inclusive no título (Tupã é o deus trovão; Rá é o deus sol), traz contemplações e reflexões sobre como o homem se relaciona com o espaço/tempo em meio à abordagens e sonoridades vibrantes, positivas e dançantes. (Ouça aqui). 

Tupã-Rá encerra com festa e alegria a trilogia que se iniciou com Brutown (2016) e transitou pelo Vulcão (2018), terceiro e quarto disco, respectivamente na sólida discografia de 17 anos de carreira do The Baggios – e dois discos que levaram a banda a ser indicada ao Grammy Latino.

Enquanto em Brutown o The Baggios trazia revoltas e angústias de um cenário urbano tomado pelo caos sócio político (reflexo de um Brasil em frangalhos com o impeachment de Dilma Rousseff, a tragédia de Brumadinho, por exemplo), o disco, seguinte, Vulcão, representava a fuga para o campo em busca de autoconhecimento e paz por meio de caminhos menos conturbados.

Nesta nova obra, gravada entre março e julho deste ano nos estúdios Maca Records e Peixú Estúdio (ambos em Sergipe), e produzida pelo vocalista/guitarrista Julio Andrade, a banda compartilha os frutos colhidos das imersões e reflexões daqueles tempos. Tupã-Rá traz 12 faixas que oferecem mensagens positivas, de ode à coletividade, da alegria em festejar entre amigos, ser resiliente com esperança e fala em acreditar nas mudanças em dias ainda tão repletos de desafios, preconceitos e ganâncias.

Dentre as faixas, ‘Digaê’ é a primeira música 100% composta à distância pelo The Baggios, com contribuição de todos os músicos. A canção é um abraço de conforto no amigo, uma mensagem de força e preocupação para as pessoas queridas. É, ainda, um álbum com participações emblemáticas. Tem Siba em ‘Baggios encontra Siba’ e Chico César e Cátia de França em ‘Barra Pesada’.

O álbum ‘solar’ e com uma latente maturidade de um The Baggios há anos já enraizado na nova safra criativa e talentosa da música nacional, também se legitima pelas influências de sonoridades africanas (afrobeat e música da Etiópia) e nordestinas, misturadas ao vigoroso blues rock com brasilidades executado por Julio Andrade na companhia de Gabriel Perninha (bateria) e Rafael Ramos (teclados).

A citada – e swingada – Chegança, com referências à música tradicional da Etiópia, é inspirada em uma manifestação popular de São Cristóvão, cuja dança representa o embate entre os mouros, vindo do norte da África, e cristãos que estavam no Nordeste brasileiro. Outra música chave de Tupã-Rá é Espelho Negro, que traz em sua sonoridade algo até então inédito na música do Baggios: o samba. Na parte lírica, junto à canção Barra Pesada, são os momentos mais reflexivos e politizados do álbum. Criticam o preconceito e a ganância, dois problemas da (des)estrutura da sociedade brasileira.

São dois momentos bem delineados em Tupã-Rá, como um Lado A e Lado B. Na primeira parte, que começa em ‘Chegança’ e segue até ‘Clareia Trevas’, o The Baggios ilustra tudo aquilo que absorveu e refletiu nos últimos anos sobre o que é estar vivo e como estar em constante evolução espiritual e mental no mundo. Do outro lado, de ‘Baggios encontra Siba’ até Sun-Rá, o momento é de sentir as vibrações positivas e mexer o corpo, com músicas dançantes, que exaltam sentimentos brilhantes e coloridos, além de resgatar o passado por meio de lembranças afetivas.

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